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Veiga admite sonho de atuar na Europa. Mas onde ele teria mercado?

Brilhando no Brasil há alguns anos, meia do Palmeiras ainda não seduz gigantes do exterior; PLACAR ouviu de especialistas: o fator idade conta muito

Raphael Veiga quer jogar na Europa. Em entrevista coletiva na última terça-feira, 21, o meia-atacante convocado pela seleção brasileira admitiu o sonho de jogar no Velho Continente. Destaque do Palmeiras nas últimas temporadas, somando 62 gols e 20 assistências desde 2020, participa ativamente da fase gloriosa do alviverde, aos 27 anos. Mas por que até o momento Veiga não atrai gigantes europeus como tantos sul-americanos?

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“Jogar na Europa ainda é um objetivo. Cada vez mais estou preparado para isso. É lógico que as coisas acontecem no tempo que tem que acontecer, mas é um sonho meu, sim. Quem sabe num futuro próximo não acontece” afirmou Veiga em Tânger, onde a seleção enfrenta o Marrocos em amistoso no próximo sábado, 25.

Na edição impressa de junho de 2022, PLACAR tratou sobre o tema, destacando o próprio Veiga e os rubro-negros Gabigol e Arrascaeta. A resposta, de acordo com especialistas, passa mais pela idade do que pela qualidade dos atletas.

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Idade é documento

Cada vez mais, times europeus chegam no Brasil – e América do Sul – e levam jovens promessas. Talvez o melhor jogador brasileiro da última temporada europeia, Vinícius Júnior trocou o Flamengo pelo Real Madrid em 2018, aos 18 anos, por 45 milhões de euros, acertados antes mesmo de o atacante completar a maioridade. Outros nomes em situação semelhante são Rodrygo, cria do Santos e hoje parceiro de Vini no Real, Antony, vendido pelo São Paulo ao Ajax, e Martinelli, que o Arsenal levou do Ituano – todos eles em trajetória crescente na seleção. Veiga, por outro lado, não foi fisgado pelo Velho Continente. O meia não explodiu de imediato e foi, de fato, consolidar-se, aos 25 anos, idade que já começa a ser considerada tardia para ser contratado por gigantes.

O diagnóstico para o fenômeno é praticamente unânime entre as fontes ouvidas por PLACAR. Empresários, olheiros, intermediários e dirigentes concordam que é muito difícil encher os olhos de clubes grandes (e mesmo médios) da Europa depois dos 21 anos. Os motivos principais são dois: os clubes querem comprar atletas que tenham alto potencial de revenda e preferem terminar a formação esportiva desses jovens lá mesmo, adaptando-os mais rapidamente à realidade de cada país.

“Contratar um jogador de 23, 24 anos vai custar caro, o atleta demora a se adaptar e, depois, convencer algum clube a pagar uma quantia que amortize o investimento será mais difícil”, diz o analista de desempenho e scout Thomaz Freitas. “Por que, então, o Sevilla, por exemplo, vai contratar jogadores desse perfil se há jogadores mais jovens, com preço parecido, que poderiam agregar futuramente com uma venda mais valorizada?”.

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Vynicius Valença, analista de desempenho e consultor tático de atletas, complementa. “O valor de mercado é medido, além do talento, pela idade em que os jogadores se encontram, considerando a margem de tempo em que eles podem seguir atuando em alto nível”. Ou seja: o olho não é só no que o jogador entrega hoje, mas no potencial para os próximos anos, dentro e fora de campo.

Até por isso, a disputa feroz de mercado praticamente obriga os clubes brasileiros a abrir mão de suas principais promessas antes mesmo da maioridade. Com a sofisticação cada vez mais crescente da rede de olheiros, é comum os times europeus terem extensos relatórios até de jogadores sub-13 e sub-15. Os meninos são mapeados antes mesmo de o torcedor saber o nome deles. É muito mais provável o Palmeiras ganhar um caminhão de dinheiro por Endrick, fenômeno da base do Verdão, vendido para o Real Madrid, do que pelos protagonistas das glórias recentes. Como diz um intermediário, que prefere não se identificar, “se não levar logo, outro chega e leva”. Foi a lição aprendida pelo Real Madrid após perder Neymar para o Barcelona.

A Europa leva sul-americanos cada vez mais jovens -
A Europa leva sul-americanos cada vez mais jovens –

Isso quer dizer que os melhores em atividade aqui no Brasil sofrem para se encaixar até mesmo no segundo ou terceiro escalões da Europa se não forem prodígios desde a base? A resposta é sim. Principalmente por questões financeiras. “Gabigol, Arrascaeta e Veiga hoje ganham salários na casa do milhão de reais, altos até para o padrão europeu”, diz outro recrutador de talentos, que pede anonimato. “Ou seja, os times médios que poderiam contratá-los não conseguem bancar. E os mais ricos não precisam deles, já contam com opções iguais ou melhores. Então acaba sendo mais negócio para esse atleta permanecer no Brasil”.

A lógica do mercado já foi bem diferente – quem não se lembra de Zico, maior craque do Flamengo, deixando a Gávea para jogar pela Udinese, um time de meio de tabela da Itália, já na casa dos 30 anos? Mas, da mesma forma que o esquema de recrutamento do futebol europeu foi mudando nas últimas décadas, especialistas vislumbram uma possível transformação no horizonte, por causa dos preços cada vez mais altos pagos por atletas ainda em formação.

“Acredito que alguns clubes médios da Europa vão voltar a olhar para jogadores ‘prontos’ no Brasil”, afirma Rafael Marques, sócio-fundador da Performa Sports, empresa de consultoria de atletas como Bruno Guimarães, volante do Newcastle e da seleção brasileira. Isso ainda é exceção, mas tem acontecido nos campeonatos mais periféricos – vide a ida de Everton Cebolinha para o português Benfica, e a de Claudinho para o russo Zenit, ambos já aos 24 anos. Outro caso incomum, desta vez na poderosa Premier League, é o de Gustavo Scarpa, que mudou de país para defender o Nottingham Forest, recém-promovido e que não luta por grandes objetivos.

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Scarpa no Forest: exceção à regra

No caso de Scarpa, pesou bastante o seu desejo de atuar na Europa e a compreensão do Palmeiras que aceitou esperar o fim de seu contrato. No caso de Veiga, e também do colega Rony, chamado pela primeira vez aos 27, a convocação para a seleção pode ajudar a abrir os olhos de clubes europeus, mas é improvável que uma futura transação envolva grandes quantias ou clubes badalados.

“É difícil cravar um país, mas tem alguns países que, de assistir os jogos, enchem os meus olhos: Inglaterra e Espanha. Esses são lugares que eu gosto de ver, é o futebol que mais acompanho. Ficaria com esses dois países”, contou Veiga no Marrocos.

Apesar dos casos isolados, porém, o histórico recente confirma: no futebol atual, para o atleta sul-americano que sonha em desfilar pelos gramados do “big five” (Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França), idade é documento.

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