Única mulher medalhista olímpica do Irã abdica de lutar pelo país
Kimia Alizadeh, bronze no taekwondo nos Jogos do Rio em 2016, criticou o governo ao tomar a decisão: ‘Não quero me sentar à mesa da hipocrisia’
Kimia Alizadeh, de 21 anos, anunciou em sua conta no Instagram neste domingo 12 que não vai mais participar de competições sob a bandeira do Irã, seu país de nascimento. A lutadora é a única mulher da história do país ao ganhar uma medalha olímpica, ainda com 18 anos, nos Jogos do Rio de Janeiro em 2016, na categoria até 57 quilos no taekwondo.
“Sofro com o sofrimento da saudade de casa porque não queria me sentar à mesa da hipocrisia, mentiras, injustiças e bajulação. Essa decisão é ainda mais difícil do que conquistar o ouro olímpico. Mas onde quer que eu esteja, continuo sendo filha do Irã”, explicou Kimia na publicação escrita na língua persa.
A atleta explicou sua decisão ao criticar os políticos iranianos, que a utilizaram nos últimos três anos como “ferramenta”, enquanto ela tem apenas o esporte como prioridade e não deseja mais participar disso. “Meu espírito conturbado não se encaixa em seus canais econômicos sujos e em seus lobbies políticos. Não tenho outro desejo, exceto o taekwondo, segurança e uma vida feliz e saudável”.
Kimia acredita que o comportamento das autoridades fortalece o machismo existente na sociedade iraniana, e utilizar a sua imagem como objeto político ajudava a reforçar esse problema. “Sou uma das milhões de mulheres oprimidas no Irã que fazem isso há anos. Eles me levaram para onde quisessem. Eu usava o que eles diziam. Eu repeti todas as frases que eles pediram. Eu não me importei. Nenhum de nós se preocupa com eles, somos ferramentas. Apenas essas medalhas de metal são importantes para comprar e explorar politicamente a qualquer preço, mas ao mesmo tempo serve para nos humilhar”, reclamou.
De acordo com a agência de notícias Isna, a atleta “desertou” para a Holanda e pretende conseguir lutar nas Olimpíadas de Tóquio, em julho de 2020, defendendo outra bandeira, não a iraniana. A decisão acontece em um período de tensões no país, devido ao conflito político com os Estados Unidos e episódios de ataques dos dois países. Kimia recentemente protestou contra o governo iraniano pela derrubada acidental de um avião ucraniano perto de Teerã, em um desastre que matou todas as 176 pessoas a bordo.