Uma triste despedida: Brasil perde outra e amarga 4º lugar
Em mais uma pane brasileira logo no início do jogo, Holanda fez 2 a 0. Diante de uma seleção perdida, fez o terceiro num adeus melancólico dos donos da casa
Assim como no jogo contra a Alemanha, a seleção brasileira estreava uma formação que não tinha entrosamento algum. O time da casa se despede com catorze gols sofridos, a pior defesa da competição
Nada de despedida honrosa: a seleção brasileira encerrou sua participação na vigésima Copa do Mundo em quarto lugar, com mais uma derrota, agora na decisão do bronze, 3 a 0 para a Holanda, neste sábado, no Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília. Os gols foram de Robin Van Persie, Daley Blind e Georginio Wijnaldum. O Brasil, com seu futebol anacrônico, limitado e incrivelmente decepcionante, voltou a sofrer diante de uma seleção bem preparada, bem organizada e mais equilibrada, tanto no aspecto tático como na parte emocional. Diante de uma Holanda moderna, armada com inteligência pelo técnico Louis Van Gaal, o improvisado time de Felipão fechou uma campanha sofrível, pelo menos quando se trata da maior vencedora da história das Copas, jogando em casa e com apoio permanente da torcida – que, até mesmo neste sábado, teve até mais paciência do que seria razoável esperar dela. Ainda sem saber quem será seu treinador a partir de agora, o Brasil volta a campo já no início de setembro, para disputar dois amistosos nos Estados Unidos, contra Colômbia e Equador. Em outubro, pega a Argentina, finalista da Copa, em Pequim, e em novembro, viaja a Istambul para encarar a Turquia, que não participou do Mundial. Serão os primeiros passos de uma caminhada difícil: a seleção brasileira terá muito trabalho para restaurar sua reputação, ferida por uma campanha mais do que frustrante no segundo Mundial realizado em seus domínios. Foram três vitórias, dois empates e duas derrotas, com catorze gols sofridos e onze marcados. Foi apenas a terceira vez que o Brasil amargou duas derrotas consecutivas numa Copa (isso já tinha ocorrido em 1966 e 1974).
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Decepção – Com apenas um minuto e meio de jogo, Arjen Robben, apontado por Luiz Felipe Scolari como o melhor jogador da Copa, recebeu de Van Persie em velocidade, sozinho, numa incrível bobeada da defesa, e foi derrubado por Thiago Silva enquanto invadia a área. O zagueiro alegou ter cometido falta antes da linha, mas o juiz logo apontou para a marca do pênalti, convertido por Robin Van Persie, com perfeição, sem chance para Júlio César,� aos 2 minutos. O juiz errou duas vezes: o replay mostrou que Robben estava mesmo fora da área – mas Thiago Silva deveria ter sido expulso por ter interrompido uma clara jogada de gol (levou só amarelo). A torcida continuou gritando “Brasil”, mas o time não contribuía: a Holanda mantinha a posse de bola, trocando passes com calma, enquanto a equipe de Felipão custava a se encontrar em campo. Assim como no jogo contra a Alemanha, a seleção brasileira estreava uma formação que não tinha entrosamento algum. O time da casa já somava doze gols sofridos, a pior defesa da competição. Mas não parava por aí: aos 16, a Holanda ampliou. David Luiz rebateu mal um cruzamento, devolvendo para o meio da área, e o ala Daley Blind aproveitou, dominando sozinho e matando Júlio César. O primeiro bom lance do Brasil veio só aos 21 minutos, em lance individual de Oscar, que saiu driblando pelo meio e finalizou rasteiro, para defesa segura de Cillessen. O jogo coletivo, entretanto, não funcionava, e a seleção ficava presa na excelente organização tática da equipe de Van Gaal.
Oscar reeditava o papel de Neymar no início da campanha: num time sem imaginação, ele tentava carregar o Brasil sozinho ao ataque. Aos 27, ele fez boa jogada pela direita e sofreu falta na lateral da área. O próprio camisa 11 cobrou, mas Jô, que penava em cada domínio de bola, não acertou a cabeçada. Aos 32, num raro contragolpe encaixado pelo Brasil, Maicon recebeu pela direita, cortou e sofreu falta no bico da área. Oscar levantou com perigo mas Wijnaldum desviou para escanteio. Em mais uma falta bem cruzada por Oscar, Luiz Gustavo desviou e Paulinho ficou a centímetros de empurrar para o gol, aos 37 minutos. Visivelmente abalado pela goleada sofrida para a Alemanha na semifinal, David Luiz, um dos destaques do início da campanha do Brasil, errava demais, tanto nas saídas de bola, em jogadas temerárias, como nos cortes defensivos. E no meio, o trio formado por Luiz Gustavo, Paulinho e Ramires não conseguia conter as tabelas envolventes dos holandeses e ainda levava a cabo uma saída de bola sofrível para o ataque. A seleção brasileira chegou ao fim da primeira etapa com mais tempo de posse de bola (57% contra 43%) e com mais finalizações, 6 a 4 – mas, assim como na semi, sofria com a imprecisão no ataque e com a vulnerabilidade da defesa. Mesmo com um dia a mais de descanso e diante de uma seleção cujo técnico afirmou abertamente não ter interesse algum na disputa de terceiro lugar, o Brasil pouco criava, defendia mal e estendia o pesadelo iniciado na terça-feira em Minas Gerais.
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Plano fracassado – Na volta para a segunda etapa, Felipão trocou Luiz Gustavo por Fernandinho. Além de não melhorar a produção do meio, o volante cometeu falta violentíssima em Van Persie e levou cartão amarelo aos 12 minutos. Antes, Ramires já havia acertado Robben de forma grosseira. Em mais uma tentativa de Scolari de acertar o setor-chave do jogo, Paulinho deu lugar a Hernanes aos 11 minutos. Aos 14, Ramires deu o primeiro susto em Cillessen no segundo tempo, entrando pelo meio e batendo cruzado, mas para fora. Aos 18, David Luiz teve uma falta frontal para bater, mas chutou nas mãos do goleiro holandês. Aos 22, depois de uma dividida com Blind, Oscar desabou na área e o Brasil pediu pênalti. O árbitro argelino Djamel Haimoudi viu tentativa de simulação de falta do brasileiro, advertido com o cartão amarelo. Curiosamente, Blind acabou tendo de ser substituído logo depois do lance (Janmaat entrou). Aos 26, Felipão fez sua última substituição, colocando Hulk no lugar de Ramires. Três minutos depois, ele soltou a bomba ao ser lançado por Jô, mas o chute saiu pelo alto. Oscar, o único brasileiro a levar perigo ao gol holandês, seguia tentando de forma solitária, com um cruzamento aos 32 e um chute com efeito aos 33, mas sem acertar o alvo. Mesmo diante de uma Holanda cada vez mais desinteressada, o gol brasileiro não saía, e parte da torcida manifestava sua frustração, gritando “olé” nas trocas de passes do adversário. Nos acréscimos, Wijnaldum ainda ampliou, aproveitando passe de Janmaat. O plano de Felipão de se despedir de forma honrosa e digna fracassava: apesar do esforço desordenado e infrutífero dos jogadores, o Brasil dava um adeus melancólico à sua segunda Copa em casa.