Tite e os riscos de repetir pecados de Dunga e Felipão
Em 2010 e 2014, seleção brasileira fracassou com atletas que viviam má fase em seus clubes. A um ano da Copa na Rússia, técnico não deve “fechar grupo”
O técnico Tite se tornou unanimidade depois de anos de glória no Corinthians e um início arrasador na seleção brasileira, mas, como todos os homens que ocuparam a posição na CBF, não está isento de contestações. Nesta quinta-feira, o treinador gaúcho divulgou sua lista de convocados para os jogos contra Equador e Colômbia e, mais uma vez, causou certa controvérsia com suas preferências. Os nomes de Rodrigo Caio, Giuliano e Taison foram os mais comentados nas redes sociais. Sempre foi assim: todos os treinadores têm seus jogadores de confiança e, tanto nas cinco conquistas como nos fracassos, a seleção brasileira teve atletas impopulares no elenco. Espera-se, porém, que Tite não cometa os mesmos erros de Dunga, em 2010, e Luiz Felipe Scolari, em 2014: o de “fechar o grupo” cedo demais.
As convocações de Rodrigo Caio e Giuliano chamam a atenção pelo mau momento dos atletas. O primeiro não tem se salvado na crise do São Paulo, que integra a zona de rebaixamento do Brasileirão. É jovem e tem talento, mas hoje está claramente abaixo de Geromel, líder do Grêmio, um dos times que mais encanta na temporada. Já o meia Giuliano, constantemente convocado por Tite, é atualmente reserva do Zenit, e negocia sua saída do clube russo.
Ao justificar a convocação do meia de 27 anos, Tite mandou um recado claro: ele terá de jogar em seu clube para ser lembrado. “Giuliano se destacou na última Liga Europa e agora está num momento de reconduzir sua situação, está se reajustando. Mas ele sabe que para estar na seleção, necessita estar jogando, senão vai perder espaço.” Na mesma resposta, Tite contou que ligou pessoalmente para o goleiro Alisson para dizer que, caso ele seguisse na reserva da Roma, perderia a vaga. O jogador, porém, conversou com seu treinador no clube italiano e ouviu a promessa de que seria o camisa 1 a partir de agora.
Na sede da CBF, Tite garantiu que as vagas não estão fechadas e citou diversos atletas que vem sendo observados, desde jovens como Douglas (ex-Vasco), Richarlison (ex-Fluminense) e Guilherme Arana (Corinthians) a atletas mais experientes como Diego Souza (Sport), Felipe (Porto), Diego (Flamengo), Douglas Costa (Juventus), Rodriguinho (Corinthians) e Éverton Ribeiro (Flamengo), entre outros. E também negou ter dívida de gratidão com determinados atletas. “Se fidelidade fosse a tônica, Gil e Weverton estariam aqui hoje. Clamor popular e da imprensa a gente ouve, mas tenta, dentro dos critérios, ver o que é melhor para a seleção”.
Dunga e Felipão: exemplos do que não fazer
Nos dois últimos fracassos da seleção em Copa do Mundo ocorreu um fenômeno semelhante: a presença de jogadores em péssima fase. Em 2010, Dunga poderia ter chamado jogadores promissores como Neymar e Paulo Henrique Ganso, mas deu preferência a jogadores de sua confiança como Josué, Ramires, Júlio Baptista, Nilmar e Grafite. Até mesmo Kleberson (então reserva do Flamengo) integrou o grupo. Com Kaká, Elano e Luis Fabiano baleados, Dunga não teve boas opções para mudar o jogo contra a Holanda, nas quartas de final.
Quatro anos depois, Felipão também “morreu abraçado” a atletas de sua preferência. O título da Copa das Confederações de 2013 sobre a Espanha acabou sendo muito prejudicial, pois garantiu a vaga de jogadores como Paulinho, Fred, Jô e Bernard, entre outros, que estavam em decadência no ano seguinte. Ele também poderia ter levado Miranda, que vivia a melhor fase da carreira no Atlético de Madri, mas preferiu Henrique (então reserva do Napoli). Com Thiago Silva suspenso e Neymar machucado, optou por Dante e Bernard contra a Alemanha e o resultado jamais será esquecido.
No pentacampeonato em 2002, Felipão também tomou medidas impopulares (como a ausência de Romário) e apostou em jogadores pouco badalados, como Gilberto Silva e o próprio Kleberson no time titular. A diferença é que, naquele momento, a dupla de volantes vivia ótima fase em seus clubes (Atlético-MG e Atlético-PR, no caso). Esta é uma lição importante para Tite, que até o momento vem acertando em cheio até mesmo em apostas arriscadas como Paulinho e Renato Augusto: na Copa do Mundo, é preciso ter jogadores em boa fase técnica e física. E confiar em todos os convocados, pois lesões e suspensões sempre podem acontecer.