Publicidade
Publicidade

Tite, a esperança do hexa

Nunca um treinador da seleção brasileira chegou à Copa com popularidade tão alta. Mas o gaúcho não se empolga: promete desempenho, não o título

Não é exagero dizer que Tite chega ao Mundial da Rússia tão protagonista quanto Neymar na seleção brasileira. O treinador gaúcho que completa 57 anos nesta sexta-feira hesitou em assumir o cargo em 2016, por um motivo que hoje soa risível: o receio de ficar marcado como o primeiro técnico a deixar o Brasil fora de uma Copa do Mundo. Topou o desafio e conseguiu justamente o oposto, a campanha mais avassaladora da história. Em dezenove jogos, entre Eliminatórias e amistosos, somou quinze vitórias, três empates e apenas uma derrota. O prestígio, que já era grande com os vários títulos conquistados pelo Corinthians, se multiplicou e Tite passou a ser visto como sinônimo de competência e lisura em um país abalado por escândalos políticos. O caminho de Adenor Leonardo Bachi, no entanto, teve seus percalços desde os primeiros chutes na bola em Caxias do Sul.

Publicidade

Tabela completa de jogos da Copa do Mundo de 2018

O apelido lhe foi dado, por acidente, por um personagem importante na vida de Tite: Luiz Felipe Scolari, com quem rompeu relações há alguns anos, por desavenças relacionadas à rivalidade entre Corinthians e Palmeiras. Na década de 70, Felipão iniciava sua carreira de treinador do Caxias e gostou do futebol de dois garotos que viu jogar em um colégio: Ade e Tite. Convidou a dupla para um período de treinos e acabou confundindo os nomes. O jovem Adenor jamais o corrigiu e acabou assumindo a alcunha de quatro letras – um terror para a pronúncia dos jornalistas estrangeiros que passaram a conhecê-lo nos últimos anos. Tite se profissionalizou e teve certo destaque. Meio-campista de bom passe e visão de jogo, tornou-se conhecido na Portuguesa e no Guarani, mas ainda jovem passou a conviver com as lesões no joelho que causaram o fim precoce da carreira, aos 29 anos. Tite admite: esta cicatriz é eterna.

“Quando sonho com futebol, é sempre jogando. O sucesso como treinador não apaga essa frustração, queria ter jogado vários anos mais, jogar é um prazer do c…”, desabafa o treinador, em entrevista no início do ano, na sede da CBF. Tite chorou com a esposa Rose sua derrota mais dolorosa, na final do Brasileiro de 1986, contra o São Paulo. Também dividiu com ela as agruras e alegrias da nova vida de treinador, desde o duro início no Guarany de Garibaldi (RS), passando por bons trabalhos por Inter e Grêmio, fracassos no Atlético-MG e Palmeiras, até a consagração no Corinthians. Atualmente, a família desfruta de uma vida luxuosa na Barra da Tijuca, no Rio, e ganhou um integrante ilustre: Lucca, o primeiro neto de Tite, filho de Matheus Bachi – que é um dos auxiliares do técnico na seleção. “O Tite é um avô bem babão”, entrega Ademir, o “Miro”, irmão de Tite, que vive em Caxias com a matriarca da família, dona Ivone.

Publicidade

Mas apesar de ter abandonado a rotina diária de treinamentos dos clubes, Tite trabalhou como nunca nestes dois últimos anos. Dá expediente de segunda a sexta na sede da CBF, quando não está em viagens para acompanhar partidas de seus potenciais convocados. Um de seus grandes parceiros na carreira, o ex-jogador Edu Gaspar, coordenador de seleções da CBF, revela que Tite é metódico e workaholic. “Eu até tento puxar outros assuntos com ele, mas acaba sempre voltando ao futebol”, brinca Edu.

Tite gosta de compartilhar os méritos com sua extensa equipe e dá liberdade para que todos deem palpites em tudo – inclusive na lista final de 23 convocados, que deu uma leve, bem leve, arranhada na popularidade do treinador. Inovou ao pedir ajuda aos clubes da Série A para fechar as análises das 32 seleções do Mundial. E até mesmo entre os atletas, Tite preza pela divisão de responsabilidades, o que explica seu “rodízio” de capitães – no próximo amistoso, contra a Croácia, em 3 de junho, Gabriel Jesus será o 16º atleta a ostentar a braçadeira. “Saber ouvir é um dos grandes méritos do Tite”, conta Fernando Lázaro, um de seus analistas de desempenho.

Tite é extremamente metódico e ao longo de 2018 dedicou um período para entrevistas exclusivas, outro, curto, para o descanso e outro para intensos dias de trabalho – que incluem presença em diversos comerciais. “Ele não gosta, mas faz, até para ajudar os parceiros da CBF”, conta o irmão Miro. O sucesso, porém, não lhe sobe à cabeça. “Eu não ouço muito os elogios. Não sou falso humilde, gosto do reconhecimento, claro. Principalmente quando embasado em fatos. E o que realmente me incomoda são as críticas rasas, baseadas se ganhou ou perdeu o jogo.” Tite pretende seguir na seleção para o ciclo de 2022, mas prefere esperar o desfecho na Rússia para definir seu futuro. De qualquer forma, a possibilidade de derrota não o atormenta. “É do jogo. Eu estou em paz, cara, sério. Do processo eu tenho controle, do resultado não.”

Publicidade

[googlemaps https://www.google.com/maps/d/embed?mid=1d0NcRqFZVKi2aRAF0XYhtuEBpFWDLNjv&w=640&h=480%5D

Continua após a publicidade

Publicidade