Talvez a maior “zebra” da história do Campeonato Brasileiro não tenha sido lá uma zebra. Único campeão brasileiro do interior, o Guarani de Carlos Alberto Silva, em seu primeiro trabalho, jogava um futebol mágico, bonito, com diversas revelações da base campineira, que culminou na taça.
Muito antes do Leicester City, o Guarani já havia montado um time chamado de “modesto” em 1978, que terminou campeão nacional.
E assim como o Leicester, o Guarani começava com um goleiro de ótima colocação e muita qualidade. Ficou 778 minutos seguidos sem sofrer gols no torneio e tem a melhor média de gols sofridas pelo Bugre na história. De 1976 a 1979, sofreu 43 jogos em 62 jogos, com média de 0,69 gol sofrido por jogo.
Na defesa, Mauro era um lateral clássico, de apoio e marcação. Gomes e Edson eram xerifes do meio da zaga, enquanto Miranda era um habilidoso lateral esquerdo, que se destacou muito no torneio.
No meio de campo, Zé Carlos era o marcador, enquanto Zenon era o clássico dez, habilidoso, com visão de jogo. Ao seu lado, outro craque que chegou à seleção. Renato “Pé Murcho”, que apesar do apelido era preciso nos chutes.
Por fim, no trio de ataque, Capitão caia pela direita com muita habilidade, enquanto Bozó caia na esquerda com muita habilidade. Contudo, o craque daquele ataque e do time era um atacante de 17 anos que surgia ali. Careca foi a maior revelação do futebol brasileiro deste ano e depois brilharia em diversos clubes do Brasil e do mundo, com muita habilidade.
Naquele ano, o Bugre estreava no Campeonato Brasileiro no começo do ano, mas antes já mostraria que causaria problemas nos amistosos. Foram vitórias contra Francana, Santos, XV de Piracicaba e Olaria, além de empates contra Dom Bosco-MT, Operário-MT e Portuguesa.
Na primeira fase, no entanto, o Bugre caiu no grupo D e ficou em quinto de 12 clubes. Apenas seis de classificavam.Foram cinco vitórias, quatro empates e duas derrotas. 21 gols pró (segundo melhor da chave) e nove gols sofridos.
Logo na estreia, no Brinco de Ouro, derrota de 1 x 3 para o Vasco com gol de Miranda para o Bugre. No segundo jogo, também em casa, 2 x 1 no Bahia, com gols de Zenon, de falta, e Macedo.
Mais uma vez em casa, o Guarani fez 2 x 0 no CSA-AL, com gols de Capitão e Zenon. O primeiro jogo fora seria na Fonte Nova, em Salvador, contra o Vitória, com empate em 0 x 0. Contra o CRB-AL, em Maceió, novo empate: 1 x 1, com gol de Macedo, reserva direto de Bozó.
Contra o Sergipe, em Aracaju, novo empate por 0 x 0. Voltando a jogar em casa, contra o Confiança, a primeira grande goleada no torneio: 5 x 0 no Confiança, com gols de Capitão, Miranda (2), Gersinho (pênalti) e Careca.
A partida seguinte era decisiva. Um clássico contra a Ponte Preta no Brinco de Ouro, com vitória de 2 x 1 para o Guarani, que chegou a estar vencendo por 2 x 0, com gols de Careca.
O último jogo em casa dessa fase preliminar do Brasileiro foi contra o Itabuna-BA, com vitória de 7 x 0 do Guarani, com gols de Capitão, Careca (2), Renato (3) e Bozó.
No Raulino de Oliveira, contra o Volta Redonda, derrota por 0 x 2. Já no Maracanã, contra o Botafogo, empate por 1 x 1, com gol de Zenon, cobrando falta.
Na segunda fase, o Guarani caia de novo no grupo D, com nove equipes, classificando os seis primeiros e até o melhor sétimo colocado de quatro chaves. Novamente, uma missão longe de ser impossível. O Guarani se classificou em quarto, com três vitórias, três empates e duas derrotas, com 12 gols pró e dez contra.
Uma campanha irregular que começou com empate em 1 x 1 com o São Paulo, com gol de Zenon de pênalti aos 40 do segundo tempo. No jogo seguinte, em Taguatinga, vitória de 3 x 0 no Brasília, com gols de Renato (2) e Bozó.
Contudo, no Mangueirão, em Belém, o Guarani perdeu para o Remo por 1 x 5. Careca fez o único gol bugrino. A recuperação veio no Brinco de Ouro, com 3 x 0 sobre o Caxias, com dois gols de Renato e um de Mauro.
Em São Januário, contra o Vasco, o Guarani praticamente garantiu sua vaga ao empatar em 2 x 2, com gols de Careca, após estar perdendo na primeira etapa.
No Pacaembu, nova derrota: 0 x 2 para a Portuguesa. Restavam duas rodadas, dois jogos em casa. Contra o Coritiba, empate por 0 x 0. Contra o Villa Nova, vitória de 2 x 0, com dois deles: Careca.
Na terceira fase, a última antes do mata-mata, o Guarani caiu no grupo A, com outras sete equipes, classificando os dois primeiros para as quartas. Com campanha impecável, o Bugre ficou em primeiro, com seis vitórias e apenas um empate.
E a estreia, no Beira-Rio, foi um grande resultado: 3 x 0 para o Bugre, com gols de Renato, Bozó e Zenon.
O único empate veio no 1 x 1 com o Goiás, no Serra Dourada, com gol de Careca aos 44 do segundo tempo. Depois disso, quatro vitórias em casa e uma fora. Contra o Santos, 2 x 1 (Mauro e Zenon, de falta); Botafogo-PB, 1 x 0 (Careca); Goytacaz-RJ, 3 x 0 ( Zenon, de falta e pênalti, e Gomes); Botafogo-SP, 1 x 0 (Zenon). Fora, no Estádio do Café, venceu o Londrina por 1 x 0, gol de Miranda.
O Guarani chegou nas quartas e enfrentaria o Sport. Na Ilha do Retiro, vitória por 2 x 0, com gols de Zenon (pênalti) e Capitão. Na volta, em Campinas, goleada por 4 x 0, com gols de Miranda, Capitão (2) e Renato, com mais de 18 mil pagantes e 20 mil presentes no Brinco.
Contra o Vasco, na semifinal, em casa, com mais de 27 mil pagantes e 30 mil presentes, o Guarani venceu por 2 x 0, com gols de Orlando (contra) e um de Renato. No Maracanã, com mais de 101 mil torcedores, o Guarani fez 2 x 1 no Vasco, após estar vencendo por 2 x 0, com gols de Zenon, sendo um de falta.
A decisão seria contra outro alviverde de São Paulo, o Palmeiras. No Morumbi, com gol de pênalti de Zenon, cometido infantilmente por Leão, o Guarani fez 1 x 0. Na volta, no Brinco de Ouro, com mais de 27 mil pagantes e 28 mil presentes, Careca fez o gol que deu o título ao Bugre.
No Paulista daquele ano, o Guarani foi bem também, mas não repetiu a campanha do Brasileiro. Na primeira fase o Guarani enfrentava todos os rivais, mas cairia no grupo C. Foi líder, com onze vitórias, seis empates e apenas duas derrotas, com 33 gols pró (melhor ataque do torneio) e 14 gols sofridos. Só não teve a melhor campanha do torneio porque tinha uma vitória a menos que o São Paulo.
Nessa primeira fase do primeiro turno, fez 2 x 0 no Palmeiras, no Brinco de Ouro, com dois gols de Careca; empatou em 1 x 1 com o Corinthians no Morumbi, com gol de Paulo Borges; fez 3 x 0 no São Paulo, no Brinco de Ouro, com gols de Osnir, Capitão e Paulo Borges; venceu o Santos por 2 x 0 na Vila Belmiro, com gols de Bozó e Renato; e empatou em 0 x 0 com a Ponte Preta no Moisés Lucarelli.
Primeiro do grupo C, enfrentou o segundo colocado do grupo D, o XV de Jaú nas quartas de final. Após empate por 1 x 1 no 120 minutos, com gol de Capitão, o Guarani se classificou no Brinco de Ouro por ter feito mais gols na primeira fase.
Na semifinal do turno, contra o Corinthians, no Morumbi, derrota por 2 x 3, com gols de Zenon e Capitão quando o jogo já estava 3 x 0 para o Timão.
No returno, nos mesmos moldes, o Guarani se classificou em primeiro do grupo A, com sete vitórias, oito empates e quatro derrotas, com 24 gols pró e 16 gols contra. O returno adentrou 1979.
Na primeira fase do returno, venceu o Palmeiras por 2 x 1 no Palestra Itália, gols de Capitão e Renato; perdeu de 0 x 3 para o São Paulo, no Morumbi; perdeu do Santos por 0 x 1 no Brinco de Ouro; empatou em casa contra a Ponte Preta por 1 x 1, com gol de Capitão; e fez 4 x 0 no Corinthians no Brinco de Ouro, com gols de Careca (2), Capitão e Miltão.
Nas quartas de final, o rival foi o segundo colocado do grupo B, o Botafogo de Ribeirão Preto. Com gols de Careca e Zé Carlos, o time se classificou para a semifinal. O rival seria a Juventus da capital, o Moleque Travesso, que tinha eliminado o Corinthians nas quartas. Com gols de Careca e Miltão, no Pacaembu, o Guarani se classificou para a final contra a rival Ponte Preta.
No Moisés Lucarelli, Zenon marcou no empate em 1 x 1 com a Ponte. Contudo, pela Macaca ter feito mais gols na primeira fase, após o 0 x 0 na prorrogação, o Guarani ficou sem a conquista simbólica, mas teria vaga na final.
O terceiro turno teria os campeões dos turnos e os times de melhor índice técnico, somando somente os jogos da fase de grupos. Em 38 jogos, com 18 vitórias, 14 empates e seis derrotas, com 57 gols pró (melhor ataque) e 30 contra, o Guarani garantiu vaga.
Todos enfrentavam todos entre os dez classificados. Contudo, novamente, os times estariam divididos em chaves. O Guarani foi líder do grupo A, com cinco vitórias, três empates e uma derrota, com 19 gols pró (melhor ataque) e sete gols contra. Nesse terceiro turno, venceu a Ponte Preta no Pacaembu, por 2 x 0, gols de Capitão e Zenon; perdeu para o Santos no mesmo Pacaembu por 1 x 3, com gol de Paulo Borges; empatou com o Palmeiras, dono da melhor campanha geral nessa fase, por 0 x 0 no Pacaembu; empatou em 1 x 1 com o São Paulo no Morumbi, gol de Renato; e empatou sem gols com o Corinthians, no dia do feriado de Corpus Christi, no Morumbi.
Passada essa fase, finalmente se jogaria a semifinal do torneio. E o Guarani pegou o Santos no Morumbi e foi derrotado por 1 x 3, com gol de Zenon, de pênalti, e acabou eliminado do torneio, que seria vencido pelo Peixe, já em junho de 1979.