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Sem Globo ou grandes marcas, futsal brasileiro busca um caminho pós-Falcão

Lenda das quadras se aposentou e levou consigo anunciantes e exposição na TV aberta. Crise não afetou o rendimento do time, favorito para a Copa América

É estranho, e não haveria como não ser, ver a seleção brasileira de futsal em quadra sem seu maior craque, aquele que vestia a camisa de número 12 e ludibriava os rivais com seus dribles. Falcão se aposentou no ano passado depois de duas décadas de serviços prestados ao time, incluindo dois títulos da Copa do Mundo e mais de 400 gols marcados. E é justamente a ausência daquele que, para muitos, se tornou maior que a própria modalidade que trouxe consequências negativas – mais nas finanças do que propriamente no desempenho esportivo. Sem Falcão, os patrocinadores minguaram e a seleção vai, aos poucos, tentando se reorganizar.

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Diferentemente do que ocorreu com o tênis nacional, que perdeu completamente o protagonismo depois da aposentadoria de Gustavo Kuerten, o Guga, o futsal do país segue na elite do esporte, com jogadores de destaque internacional e a seleção líder do ranking mundial. O Brasil buscaria o título da 13ª edição da Copa América de Futsal, a partir desta quarta-feira 23, em Santiago, mas a Conmebol suspendeu a competição pois o Chile está em estado de emergência. Por se tratar de uma data Fifa (sim, a entidade máxima do futebol também comanda a modalidade de quadra), o time brasileiro pôde convocar seus principais atletas em um importante teste visando o objetivo principal: a Copa do Mundo, que será realizada no ano que vem, na Lituânia.

A equipe brasileira acumula nesta temporada uma série de bons resultados em amistosos contra as potências da modalidade: venceu Portugal, do melhor do mundo Ricardinho, por 6 a 1 e 4 a 0, e somou contra a Espanha um empate em 2 a 2 e um triunfo por 3 a 1, em excursão recente pela Europa. A crise econômica da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS) ainda preocupa, mas já foi pior: em quatro anos, a dívida foi reduzida de 23 milhões de reais para cerca de 14 milhões. “A aposentadoria do Falcão coincidiu com um momento econômico ruim do ponto de vista de investimento e estrutura. Infelizmente, estamos pagando um preço alto por isso. Por outro lado, conseguimos nos manter com um time forte. Os resultados são excelentes e continuamos produzindo o que o futsal brasileiro sempre produziu”, afirmou o técnico da seleção, Marquinhos Xavier, no cargo desde julho de 2017.

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Além da incrível habilidade com a bola, Falcão também é craque nos negócios e sempre se colocou à frente das negociações para atrair patrocinadores. Costumava ir pessoalmente a reuniões com empresários e garantiu alguns bons contratos em anos anteriores. Com a aposentadoria do “rei das quadras”, a seleção perdeu seu acordo mais valioso, as quatro datas que tinha com a Rede Globo, com jogos transmitidos em manhãs de domingo. Atualmente, apenas o braço esportivo da emissora, o SporTV, transmite os jogos da seleção e de campeonatos nacionais.

“A saída da TV aberta afetou negativamente, os patrocinadores não estão interessados porque o Falcão não joga mais”, admitiu Marquinhos, que concilia os trabalhos de técnico da seleção e do Carlos Barbosa, maior campeão da história da Liga Nacional. Para 2019, as empresas Magnus, Implante Rio e I9 Life não renovaram contrato com a CBFS. No site da entidade, constam apenas dois patrocinadores (Penalty e Travel Ace Assistance), além do apoio do governo.

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O time conta com atletas de renome no meio do futsal, como Gadeia, que em 2018 foi eleito o segundo melhor jogador do mundo, Ferrão, pivô do Barcelona, e o capitão Rodrigo. O próprio Falcão, no entanto, não vê ninguém com potencial de sucedê-lo em termos de representatividade. “Eu atingi um nível de exposição, de números dentro de quadra, difíceis de comparar. Espero que apareçam novos grandes jogadores que a imprensa os abrace. Mas é preciso que eles saibam dar uma boa entrevista e como interagir com o público. A seleção brasileira tem jogadores muito bem aceitos e conhecidos no mercado do futsal, mas ainda é pouco para quem busca patrocinadores e interesse da mídia.”

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O técnico Marquinhos Xavier concorda. “Estou convicto de que não temos ninguém que se aproxime do que foi o Falcão. Temos atletas no exterior com potencial, mas eles não têm identidade com o público brasileiro, porque saíram cedo do país e os jogos de lá não são transmitidos. O fã, muitas vezes, é aquela pessoa que não entende da modalidade, mas para para assistir o craque. Hoje não temos um cara decisivo como Falcão, então focamos o nosso trabalho na coletividade. A seleção brasileira produz o mesmo resultado, porém sem tanto protagonismo”, explicou Marquinhos Xavier.

Falcão jamais precisou atuar fora do Brasil, pois, por sua visibilidade, conseguiu atrair parceiros e manter por aqui um salário de “nível europeu”, um luxo que apenas ele era capaz de ter. Da seleção convocada para a Copa América, só três atuam em solo nacional: o capitão Rodrigo, Leandro Lino e Danilo Baron, todos do Magnus Sorocaba, time pelo qual Falcão se aposentou e segue trabalhando como embaixador. “É como no futebol, é difícil competir com o mercado europeu. Cada abertura de janela é um sofrimento, porque te tiram o que você tem de melhor. Continuamos abastecendo o mundo inteiro com nossas matérias-primas e não conseguimos segurar os atletas”, afirma o Marquinhos Xavier.

Marquinhos apostará em uma seleção experiente, com média de idade de 30 anos e 4 meses. Apenas um jogador do grupo tem menos de 24 anos: Leandro Lino, que por sua facilidade para driblar já foi apontado pelo próprio Falcão como um de seus possíveis sucessores no posto de craque do time. Para o melhor de todos os tempos, a comissão acerta ao apostar em um time mais “cascudo”. “Acho uma média de idade boa para uma Copa do Mundo, porque é um campeonato de tiro curto no qual a experiência conta bastante.” No último Mundial, em 2016, na Colômbia, o heptacampeão Brasil fez a pior campanha de sua história, ao ser eliminado nas oitavas de final pelo Irã. Na época, a modalidade vivia o auge de sua crise política e financeira, que incluiu boicote de atletas, falta de pagamentos e uma sequência de trocas no comando.

O treinador garante não ignorar a importância de renovação do time. “Montamos as seleções sub-17 e sub-20, algo inédito no futsal brasileiro. Nas competições continentais, convocamos alguns atletas da nossa base para ganhar experiência. O projeto de seleção de base é monitorar esses jogadores”, explicou Marquinhos. “A perspectiva de título não muda. O lado técnico e competitivo segue muito forte, o Brasil tem jogadores e comissão técnica para brigar por todos os títulos e é a grande favorita para a Copa do Mundo do ano que vem, apesar dos problemas externos”, cravou Falcão, que, ao contrário do futsal, só viu crescer o interesse de patrocinadores depois da aposentadoria e tem viajado o mundo para realizar eventos.

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