Tifanny defende Bernardinho e critica ex-jogadora Ana Paula
Treinador ‘reclamou’ da condição da primeira jogadora trans do Brasil
A primeira atleta transexual do vôlei brasileiro, Tifanny Abreu, usou seu Instagram para defender o técnico Bernardinho e criticar a ex-jogadora Ana Paula. Bernardinho reclamou da jogadora na última terça-feira, 26, durante a partida do Sesc-RJ, comandado pelo treinador, e o Sesi-Bauru, pelas quartas de final da Superliga Feminina de Vôlei. O ex-técnico da seleção brasileira masculina se irritou em um lance da atleta da equipe paulista e disparou em direção ao banco de reservas: “Um homem, é fo**!”
O treinador foi muito criticado nas redes sociais e pediu desculpas na publicação feita pela Angels Volley, um time LGBTQ, que defende a inclusão no esporte. “Peço desculpas a todos. Não foi minha intenção de forma alguma ofendê-la, me referia ao gesto técnico e ao controle físico que ela tem, comum aos jogadores do masculino e que a maior parte das jogadoras não têm. Sempre trabalhei e tentei ajudar, com meu trabalho, diversos jogadores e jogadoras, sem qualquer tipo de preconceito. À Tiffany dou meus parabéns pela grande atuação e conquista, e a todos que se sentiram ofendidos reitero minhas desculpas, pois jamais foi minha intenção”, escreveu.
A ex-jogadora Ana Paula Henkel condenou a presença de atletas trans no vôlei feminino. “Minha pergunta: o que uma amostra de anos atrás de uma atleta transexual mostraria em relação à testosterona? Por que a duríssima patrulha médica para as mulheres, justa para um esporte limpo, foi completamente abandonada?! Enterra-se a biologia por uma ideologia? Incrivelmente injusto”, começou a ex-jogadora. “Se as entidades antidoping resolvessem re-testar hoje minhas amostras do passado, e eles podem fazer isso, e achassem um traço acima do feminino para testosterona, eu perderia retroativamente, todos os meu títulos. Se ainda estivesse jogando, seria suspensa e poderia ser banida. Desde os 16 anos sou testada, dentro e fora de competições, para testosterona. Fui patrulhada durante os 365 dias do ano por décadas para que eu jamais construísse uma fibra do meu corpo com o hormônio masculino”, escreveu em sua conta do Twitter.
Tifanny entrou ao vivo em seu Instagram e defendeu o treinador, guardando suas críticas para Ana Paula Henkel. “Estou vendo que estão crucificando o Bernardo. Não me senti menosprezado, maltratado ou ofendida com algo que ele tenha dito no meio do jogo. O Bernardo sempre me respeitou. É um apaixonado pelo esporte, que fez muito pelo vôlei. Aprendi muito com ele. Ele sempre me respeitou e me tratou com muito carinho. Sempre tivemos um respeito grande pelo outro”, explicou Tifanny. “Conversamos depois do jogo e ele pediu desculpas se falou algo de errado. Também pedi desculpas a ele por estar sofrendo por algo relacionado a mim. Peço a meus fãs que se desculpem e respeitem o Bernardo.”
“Nós mulheres trans começamos jogando o vôlei masculino, aprendendo movimentos do esporte masculino, que as mulheres não aprendem. O Bernardo elogiou minha jogada, dizendo que era bonita e usada ainda no vôlei masculino, mas não muito no feminino, porque algumas mulheres não conseguem. É um movimento que eu treino.”
Ana Paula Henkel recebeu reclamações de Tifanny. “A senhora Ana Paula nem no Brasil reside. Se considera uma mulher americana. Então, minha senhora, vá cuidar das trans que jogam nos Estados Unidos. Aquela carta que você manda para todos, para o Comitê Olímpico, não é crível. Só quem estudou o corpo de uma mulher trans é o Comitê Olímpico, não você. Você dilata transfobia, homofobia usando palavras bonitas. É uma oportunista.”
Tiffany foi a principal pontuadora do jogo desta terça-feira, com 28 pontos. O Sesi-Bauru passou pelo Sesc-RJ por 2 a 1 na série das quartas de final e agora terá pela frente o Praia Clube, de Uberlândia (MG), atual campeão da Superliga Feminina.