Sibéria, SBT na Globo e outros momentos marcantes de Eurico Miranda
Morto aos 74 anos, ex-presidente do Vasco colecionou títulos, polêmicas e desafetos
Para o bem ou para o mal, Eurico Miranda foi um dos dirigentes mais marcantes do futebol brasileiro. O ex-presidente do Vasco da Gama, morto nesta terça-feira, 12, aos 74 anos, vítima de câncer no cérebro, colecionou inimigos e polêmicas ao longo de sua carreira, mas também conquistou diversos troféus e é reconhecido como um grande defensor do clube cruz-maltino. Sua biografia inclui frases célebres, agressões a jornalistas e históricas provocações ao Flamengo e até à Rede Globo. Relembre:
Copa João Havelange: título e provocação à Globo
A controversa Copa João Havelange, o Brasileirão de 2000, foi o momento de consagração de Eurico Miranda, então vice-presidente. O título, na verdade, só foi confirmado em 2001, numa final tumultuada diante do São Caetano. O primeiro jogo terminou empatado em 1 a 1, no Palestra Itália. Na volta, em São Januário, o jogo foi interrompido pela queda de um alambrado. Eurico invadiu o campo e se revoltou com o fato de o governador Anthony Garotinho, a quem chamou de “frouxo” ter ordenado o adiamento da partida. Ficou ainda mais furioso com a cobertura do incidente feita pela Rede Globo, de quem decidiu se vingar de forma mais que inusitada: mandou estampar logos enormes do SBT nos uniformes da final remarcada, vencida pelo Vasco por 3 a 1, no Maracanã. “Tendo sido caluniado, quis o Vasco homenagear quem não o caluniou”, justificou Eurico, que ainda abriu o vestiário do título para uma matéria exclusiva da emissora de Silvio Santos – que não pagou um centavo pela “homenagem”.
Flamengo, o inimigo número 1
Eurico comprou briga com meio mundo para defender o Vasco, mas se manteve fiel a seu maior desafeto: o Flamengo. Dizia que o clássico é um campeonato à parte e caprichava nas frases antes e depois dos duelos. “Não sei se tenho mais prazer numa relação sexual ou se quando ganhamos do Flamengo”, disse, certa vez. “Eu dei os ovos de Páscoa para a torcida do Vasco e o chocolate para eles (Flamengo)”, cravou após uma goleada por 5 a 1 sobre o rival, em um domingo de Páscoa, na final da Taça Guanabara de 2000. Em algumas oportunidades, se deu mal, como quando contou vitória antes da hora no Mundial de Clubes. “A exemplo de como fizemos com a nossa taça da Libertadores, vamos passar novamente com a taça do Mundial pela Gávea quando voltarmos do Japão”. O Vasco jogou bem, mas perdeu para o Real Madrid por 2 a 1.
Rebaixamento da Unidos da Tijuca no carnaval do Rio
A Unidos da Tijuca homenageou o Vasco no carnaval de 1998, ano do centenário do clube e no qual o Vasco conquistou o título da Libertadores. Uma das favoritas, a escola acabou sendo surpreendentemente rebaixada. Eurico foi apontado como um dos culpados pelo resultado negativo por causa da antipatia que ele criava com clubes rivais. O então vice-presidente do Vasco xingou jornalistas durante o desfile.
Água no chope e agressão a jornalista
Eurico Miranda provocou o Flamengo na final do Carioca de 2004, quando disse que já havia comprado o chope para comemorar o título do torneio. Os rivais, no entanto, venceram o Vasco por 3 a 1 e levantaram a taça. O jornalista Carlos Monteiro, do jornal O Dia, após o jogo, perguntou a Eurico onde estavam os litros de chope pagos pelo dirigente, que deu um soco no repórter como resposta. O presidente vascaíno foi condenado a seis meses de prisão, mas a punição foi revertida em multa de 12.000 reais.
‘A mão de Eurico’
Em 1969, então com 25 anos, Eurico Miranda já era vice-presidente de patrimônio do Vasco e bastante ativo na esfera política do clube. Ele ganhou as manchetes pela primeira vez durante uma reunião que definiria a cassação de Reinaldo de Matos Reis, então presidente do Vasco. Eurico foi acusado de desligar o quadro de energia da sede náutica do Vasco para adiar a conclusão da votação, pois ele era a favor de Reis. A falha de energia não impediu a cassação, mas o jornal O Globo publicou uma foto, no dia seguinte, com uma mão no quadro de energia do local com o título “A mão de Eurico”.
Na CBF, deu ‘chapéu’ no Flamengo por Bebeto
Em 1989, o Flamengo negociava a renovação de contrato com seu goleador, o atacante Bebeto, campeão mundial com a seleção brasileira em 1994. As duas partes enfrentavam divergências na negociação enquanto Bebeto estava com o Brasil na Copa América. Eurico Miranda, então diretor de seleções da CBF, aproveitou a situação e depositou o valor pedido pelo agente do jogador, atravessando o Flamengo, para delírio da torcida vascaína e ódio dos rivais.
Período mais vitorioso da história do Vasco
Eurico Miranda, apesar das críticas a seu comportamento, foi um dos principais responsáveis pelo período mais vitorioso do Vasco, que vai do final da década de 80 ao início dos anos 2000. O cartola ainda era vice-presidente do clube à época, mas era bastante atuante na política e no futebol do clube. Ajudou a montar o elenco base que conquistou os títulos do Campeonato Brasileiro em 1989, 1997 e 2000, além da Copa Mercosul (2000) e da Copa Libertadores de 1998, maior troféu da história do clube, já que a taça do Mundial daquele ano não veio, depois da derrota dos vascaínos para o Real Madrid, por 2 a 1.
Rebaixamento e Sibéria
Uma das últimas e mais memoráveis bravatas aconteceu em 2015. O Vasco lutava para evitar seu terceiro rebaixamento no Brasileirão quando Eurico cravou “O Vasco não cai. Se cair, eu me mudo para a Sibéria.” Nenhuma das promessas foi cumprida. Um dia depois do vexame, convocou uma coletiva para assumir sua responsabilidade. “O único e exclusivo responsável pelo rebaixamento do Vasco sou eu. Isso é uma mancha irreparável no meu currículo de 50 anos de Vasco, uma situação que eu não queria passar.” E, ao falar sobre a promessa sobre a Sibéria, explicou seus métodos. “Uso frases de efeito porque é meu estilo e também pela necessidade. Eu tinha e tenho a obrigação de levantar a autoestima desta instituição.”
Como político, teve mandato cassado
Eurico Miranda também exerceu cargos políticos no estado do Rio de Janeiro. Ele foi eleito pela primeira vez em 1994, como deputado federal pelo PPB (Partido Progressista Brasileiro), depois de perder em sua primeira tentativa ao cargo, em 1990, pelo PL (Partido Liberal), quando já era vice do Vasco. Ele foi reeleito em 1998, mas teve seu mandato cassado em 2001, acusado de evasão de divisas. Eurico tentou retornar à política em 2002, mas foi derrotado e não conseguiu mais se eleger nos anos seguintes.