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Sem investidores, futebol brasileiro terá que se reinventar

Nova regra da CBF impedirá a participação de empresários nos direitos econômicos dos atletas. A curto prazo, medida pode causar grave crise nos clubes, mas se faz necessária, garante especialista em gestão esportiva

O consultor aponta com firmeza qual deve ser a solução imediata para se adaptar à nova regulamentação: a aposta nos jovens. “Os clubes que investem em uma boa categoria de base tendem a ser os futuros campeões.”

A CBF iniciou 2015 tomando medidas inesperadas e que devem mudar drasticamente o cenário do futebol nacional. Na terça-feira, a entidade apresentou o novo Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol, que impede a participação de investidores na compra e venda de direitos econômicos dos atletas. A regra se baseou em recentes recomendações da Uefa e da Fifa e entrará em vigor a partir do dia 1.º de maio. A medida visa acabar com a prática de “fatiar” atletas: atualmente, vários jogadores do Brasil têm seus direitos econômicos divididos entre o clube e um ou mais investidores. Com isso, os empresários ajudam os times a montar bons elencos, mas levam boa parte dos lucros em futuras negociações. De acordo com Amir Somoggi, consultor de marketing e gestão esportiva, a nova regulamentação irá provocar uma crise financeira ainda maior nos clubes do país, mas se faz necessária. “A longo prazo a medida é boa, mas a curto prazo o cenário deve ser de crise profunda. Técnicos e jogadores vão ter que se adequar à nova realidade. Quem ganhava 300 vai ter que ganhar 100. Se os clubes não fizerem isso, não haverá viabilidade.”

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​Somoggi explica que a medida nasceu na Europa há dois anos, quando a Uefa passou a discutir os riscos que a influência dos empresários poderia causar. “A Uefa temia que o mercado de apostas, que movimentam bilhões no mundo, interferissem nos resultados. Quem garante que estes fundos que compram jogadores não estão envolvidos nisso? O objetivo principal desta nova regra é acabar com a interferência de terceiros no futebol.” O especialista em mercado esportivo afirma que, como os clubes “fatiaram” seus atletas, o empresário não age simplesmente como alguém que intermedia negociações. Ele se torna um parceiro do clube, pois paga uma parte do atleta para poder lucrar no futuro com uma possível venda. “O problema dos clubes hoje é financeiro, e por conta dos altos salários de jogadores e técnicos. Sem ajuda de parceiros, eles não conseguem montar times competitivos. Então, mudar este cenário seria um problema, mas também uma solução. Em longo prazo, deter 100% do direito econômico de um bom jogador pode ser uma forma fantástica de financiar o clube”.

O Santos é um dos exemplos mais evidentes do risco que a influência de terceiros pode ter. Depois de anos brigando por títulos e com as finanças em dia, a equipe do litoral paulista investiu em atletas caros e está pagando a conta. Com salários atrasados e vários jogadores entrando na Justiça, o time deve enfrentar uma crise profunda em 2015. Somoggi explica as razões. “O Santos vive um drama. Sem grandes custos, ele montou um time competitivo que ganhou tudo, com Neymar e Ganso, mas depois vendeu estes atletas para fazer caixa, e quis montar um outro grande time. O problema é que o time não tinha dinheiro, pois o lucro com as vendas foi dividido em várias partes. Em seguida, o clube gastou uma fortuna no Leandro Damião e outros atletas, inflou os salários e isso acabou ruindo. Isso é muito comum no futebol brasileiro atualmente.”

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Ainda usando o Santos de Neymar e Ganso como exemplo, o consultor aponta com firmeza qual deve ser a solução imediata para se adaptar à nova regulamentação: a aposta nos jovens. “Os clubes que investem em uma boa categoria de base tendem a ser os futuros campeões.” Outra fonte de renda importante serão os programas de sócio-torcedor e os estádios modernos. “A Copa poderia ter sido muito melhor, mas ajudou por ter trazido infraestrutura. Com exceção dos elefantes brancos, as arenas vão ajudar na cadeia produtiva do futebol.” Amir Somoggi explica ainda que a inadequação à realidade financeira não é exclusividade do Brasil. “Lá fora, tirando a Alemanha, que é mais equilibrada, as demais ligas também estão em crise. O futebol é um negócio de caráter deficitário. Quando mais se fatura, mais se gasta, porque todos querem ganhar títulos. O trunfo dos clubes com boa estrutura financeira é ter uma gestão altamente eficiente.”

Por fim, o especialista espera que, de fato, a nova regra não seja apenas jogo de cena dos dirigentes e seja colocada em prática com firmeza. “Todo mundo duvidava que isso acontecesse no Brasil, mas eu espero que aconteça, mesmo que os impactos sejam negativos no começo, porque é fundamental começar do zero.” Outra novidade presente no regulamento de 24 páginas, assinado pelo presidente da CBF, José Maria Marin, é a criação de um documento oficial para cuidar do registro dos atletas, para evitar problemas de documentação, fato corriqueiro nas últimas edições do Brasileirão. A entidade também exigirá que os clubes divulguem o valor das transferências em contrato.

(Com Estadão Conteúdo)

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