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O pior castigo a um time de futebol: jogar sem torcida

O Santos foi eliminado da Sul-Americana pelo River-URU, em cena que nem Eduardo Galeano aprovaria: desfalcado de sua torcida, sem ninguém nas arquibancadas

“Não há nada menos vazio que um estádio vazio. Não há nada menos mudo que arquibancadas sem ninguém”, cravou o escritor uruguaio Eduardo Galeano em O Futebol ao Sol e à Sombra (1995). Se estivesse no Pacaembu na noite da última terça-feira 26, Galeano, que era torcedor do Nacional e morreu em 2015 aos 74 anos, ficaria triste ao ver as arquibancadas às moscas em um jogo do time de Pelé, quem tanto admirou. Mas talvez comemorasse junto a seus compatriotas, os atletas e poucos dirigentes do River Plate – os únicos a quebrar o silêncio no local –, a enorme façanha do modestíssimo clube de Montevidéu, que eliminou o Santos na primeira fase da Copa Sul-Americana, com um empate em 1 a 1.

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O duelo se deu com portões fechados, como punição da Conmebol pelos incidentes na eliminação do Santos para o Independiente, na última Libertadores. O caminho ao estádio já parecia um presságio do evento sombrio. Ao contrário das grandes noites de futebol na capital paulista, a descida do cemitério do Araçá rumo ao campo era totalmente silenciosa, mal iluminada, sem nenhum torcedor, vendedor ambulante ou barraca de pernil. Uma tristeza só. Na entrada do estádio, apenas seguranças e espectadores com pulseiras rosas, entregue a profissionais de imprensa e convidados de honra dos clubes.

Quando a bola rolou, ecoavam pelo estádio as narrações dos radialistas, o burburinho dos jornalistas e, claro, os gritos dos atletas. Os goleiros eram os mais participativos, sempre orientado as defesas com expressões como “sai” ou “é minha”, no caso de Vanderlei, ou singelos “arriba” do uruguaio Gastón Oliveira – gritos que quae ecoavam pelo imensio vazio das arquibancadas. O sempre inquieto técnico Jorge Sampaoli também tentava pilhar os atletas do Santos com argentiníssimos berros de “Dale, dale”. No entanto, os maiores ruídos chegaram no meio da primeira etapa, vindos das tribunas de honra, ao lado do setor de imprensa.

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Cerca de dez uruguaios, entre dirigentes, amigos e parentes dos cartolas, levaram camisas, bandeiras e torceram efusivamente pelo River Plate, clube fundado em 1932, que jamais conquistou um título da primeira divisão e mantém um estádio com capacidade para 6.000 pessoas – ironicamente, na partida de ida, que terminou 0 a 0, quem mais fez barulho foram os santistas que viajaram a Montevidéu. O clima da partida esquentou e os cartolas uruguaios pediam “Foul! (falta), amarilla! (cartão amarelo) e aos berros de BIEEEEN! a cada rebatida de sua defesa.

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A falta de apoio se fazia notar em campo. No fim do primeiro tempo, o Santos pediu um pênalti, em lance que, com estádio lotado, poderia ter deixado o árbitro mais pressionado. As boas arrancadas do venezuelano Yeferson Soteldo também perdiam efeito sem o apoio da massa. Afinal, a quem recorrer na arquibancada para validar seu esforço?

E aos nove minutos da segunda etapa, veio o grande baque para os brasileiros, o gol de Mauro da Luz, para explosão dos uruguaios no setor reservado aos dirigentes. Com a vantagem, o River aproveitou para reforçar a defesa e a cada mudança se dava uma cena inusitada: o jogador substituído tinha seu nome gritado pelo grupo de uruguaios e retribuía com acenos num estádio com mais de 40.000 lugares vazios.

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O Santos ainda empatou aos 41 minutos, mas nem mesmo o grito dos atletas santistas se fez ouvir. – afinal a quem clamar para oferecer o gol, beijar a camisa, comemorar em grupo e tornar tudo incentivo rumo a uma virada? Sem companhia para inflamar o ambiente e diante de uma aguerrida equipe uruguaia, o Santos, que vinha encantando a torcida com bom futebol no Campeonato Paulista, experimentou sua primeira grande amargura em 2019.

Sampaoli lamentou a punição da Conmebol. “Jogar sem público não é do futebol. Não justifica a eliminação, evidentemente, mas a torcida do Santos não poder entrar no estádio por causa de 50 pessoas me parece errado.” Enquanto isso, os atletas do River Plate pulavam e posavam para fotos no gramado da maior façanha internacional da história do clube. E todos foram para casa, acompanhados da “melancolia irremediável que todos sentimos depois do amor e ao fim de uma partida”, como dizia Galeano. 

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