Roger Silva: os planos do ex-atacante para fazer história como técnico
Adepto de um estilo de jogo agressivo, jovem treinador se destacou no Athletic e agora quer subir para a Série B com o Pouso Alegre e deslanchar na carreira
De tempos em tempos, jogadores recém-aposentados são alçados a uma posição de treinador promissor, recebendo a primeira chance à beira do campo já em clubes tradicionais do país. Quase que na contramão disso está Roger Silva, 38 anos, ex-atacante com passagens por grandes equipes, que inicia nova carreira longe da badalação das elites – mas com altas aspirações.
Em entrevista a PLACAR, o profissional contratado nas últimas semanas pelo Pouso Alegre, clube mineiro que disputa a Série C do Brasileirão, detalhou o início de sua carreira à beira do campo, falou sobre referências e sonhos para o futuro. Destaque pelo Athletic, de São João del Rei, nos Campeonatos Mineiros de 2022 e 2023, com duas semifinais e dois títulos de Campeão do Interior, Roger também teve experiências na Inter de Limeira, antes deste desafio, que até agora é o maior da nova fase.
Natural de Campinas, o centroavante foi revelado pela Ponte Preta, da qual é o maior artilheiro no século, com 67 gols. Foi jogador de grandes clubes do país, como São Paulo, Sport, Botafogo, Internacional e Corinthians. Aposentado em 2021, quando atuava na Inter de Limeira, assumiu um cargo diretivo no clube do interior paulista, antes de receber convite para comandar o time.
“Eu passei a ter vontade de ser treinador conforme fui assumindo a posição de liderança nos times que joguei. Sempre tive essa característica e no final da carreira eu costumava ser o capitão. Mas na Inter não foi planejado. Estava em um cargo de gestão, até que me convidaram para ser uma espécie de interino. E fiquei por seis jogos, com quatro vitórias”, conta Roger.
Os poucos jogos no interior paulista foram o bastante para abrir os olhos do Athletic Club, equipe de São João del Rei, cidade localizada a 180km de Belo Horizonte. Tradicional a nível regional, o clube que voltou a ser profissional em 2018 se destaca pela gestão de futebol e mais recentemente por um forte investimento. De acordo com Roger, o convite para assumir o clube já na pré-temporada visando 2022 foi um voto de confiança, que ele agarrou com todas as forças.
Em seu primeiro Campeonato Mineiro, Roger montou uma equipe que venceu oito vezes, empatou três e perdeu quatro. Semifinalista, eliminado para o Cruzeiro, o Athletic foi campeão mineiro do interior. “Eu agradeço a diretoria por ter apostado em mim. Gostei do projeto e fizemos um 2022 maravilhoso, perdendo apenas para os dois grandes”, contou o ex-jogador.
Depois da boa campanha, reassumiu a Inter de Limeira na disputa da Série D. Porém, o próximo momento de brilho seria, novamente, em São João del Rei. De volta à cidade histórica, fez mais uma campanha marcante em 2023, desta vez com a conquista da Recopa Mineira e do Troféu do Interior, mais uma vez. Grato ao clube, abre o coração e detalha o carinho: “Não foi difícil voltar. Eu já conhecia as ideias, é um time que tem gestão profissional e investimento na SAF. A torcida também é maravilhosa, muito apaixonada. Fizemos mais uma ótima jornada e eu tenho certeza que o clube ainda vai fazer uma boa Série D neste ano e chegar na Série B em breve, principalmente se o novo estádio para 12.000 pessoas sair.”
"TEM QUE RESPEITAR"
Depois da eliminação para o Galo na semifinal do Campeonato Mineiro, o treinador Roger Silva anunciou sua saída do @athleticclubmg e cobrou respeito da imprensa local
🎥 @guiazevedo31Veja como foi a semifinal:https://t.co/vcpxplOWSi pic.twitter.com/UySTl2hjt8
— Placar (@placar) March 18, 2023
Sondado por clubes da segunda divisão, Roger, mais uma vez, deu um salto moderado. Contratado pelo Pouso Alegre, time de uma das mais desenvolvidas cidades do sul de Minas Gerais, para a disputa da Série C do Brasileirão, admitiu que receberia outros convites, mas decidiu abraçar o potencial da equipe e manter a palavra.
“Estamos no Pouso Alegre. Agora é a Série C, um campeonato que foi bastante valorizado pela CBF. Estamos chegando com uma folha salarial bem menor do que a dos nossos concorrentes e o objetivo do time é não cair. Mas para mim isso não existe, dentro de mim não consigo. Sou ambicioso e vamos jogar futebol, pode ter certeza”, falou sobre as expectativas para o restante do ano.
REFERÊNCIAS NA PROFISSÃO
Ao longo de toda a carreira, Roger foi treinado por grandes nomes do futebol nacional e admite que no início tinha preferência de trabalhar com “motivadores”. Com o passar dos anos e a maior valorização do lado tático no debate, apaixonou-se pela característica e hoje se considera um adepto.
“Trabalhei com grandes treinadores, difícil citar todos sem ser injusto. Abel Braga, Muricy Ramalho e Vadão eram caras que tinham uma gestão de grupo incrível. Motivadores, tinham o plantel na mão. Mais tarde fui treinado por caras que me fizeram ser um adepto da tática, como o Nelsinho Baptista, o Mauricio Barbieri, o Thiago Carpini, que hoje está voando no Água Santa, e o Vágner Mancini, que chamo de ‘rústico’, porque tem um time que joga muito bem e sem aqueles termos difíceis”, relatou Roger, em tom de respeito e bom humor.
Nome bastante citado por Roger na entrevista, Nelsinho Baptista esteve com o atacante na Ponte Preta, no Sport e no japonês Kashiwa Reysol. O experiente treinador, inclusive, alimenta um dos sonhos de Roger na profissão, que é treinar no futebol nipônico.
ESTILO DE JOGO
Neste Campeonato Mineiro, o Athletic de Roger Silva venceu um dos jogos contra Atlético Mineiro, empatou com o Cruzeiro e com o América Mineiro. Um fator comum em todos esses jogos foi a postura agressiva do time, que não se fechou abdicando da bola na maior parte do jogo. Quando o assunto da entrevista foi as ideias de futebol que tenta imprimir em seus times, a resposta foi ao encontro do apresentado em campo.
“Consigo te falar que sou um cara apaixonado por times intensos. Agressividade sem bola, pressão alta quando possível, trabalho de marcação começando com o atacante. Quando temos a bola, gosto de valorizar a posse visando o gol adversário. Os homens de frente atacando o espaço, os pontas partindo para cima no 1×1, bastante agressividade. Não costumo mudar muito a postura, mas enxergo jogo a jogo, estudo o adversário, faço alterações para melhores encaixes”.
Jogo rápido
De bem com a vida, Roger não relutou para responder rapidamente perguntas diretas de PLACAR.
Ídolo de infância?
Ronaldo
Primeiro momento marcante?
O gol número 1 como profissional, pela Ponte, contra o Vitória
Gol mais marcante?
O meu em um Corinthians x Santos, em 2018, que tenho até um quadro aqui em casa
Gol mais bonito?
Um pelo Botafogo, contra o Estudiantes, na Libertadores
Melhor temporada?
2017, no Botafogo
Melhor zagueiro que já jogou?
Miranda
Companheiro de ataque preferido?
Amoroso
Sonho de consumo?
Não ia falar, mas vou. Treinar um gigante do Brasil
São Paulo ou Minas Gerais?
Minas, né? Hoje é Minas.
Pão de queijo ou queijo com goiabada?
Queijo com goiabada.
E quem é o maior de Campinas?
A Ponte, né? O clube que representa a cidade. Joguei nos dois, mas tenho minha preferência clara e gosto dessa brincadeira de “zoar e ser zoado”