Rio-2016: com salários atrasados, campeão mundial boicota evento-teste da canoagem
Isaquias Queiroz e mais três companheiros não recebem da confederação há oito meses e desistiram de competir na Lagoa Rodrigo de Freitas.
O evento-teste da canoagem de velocidade para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro começou nesta sexta-feira com um protesto dos principais atletas do país. O campeão mundial e panamericano Isaquias Queiroz e seus companheiros Erlon de Souza, Nivalter Santos e Ronilson de Oliveira decidiram não competir na Lagoa Rodrigo de Freitas. Isaquias foi o porta-voz do grupo e explicou que os atletas não recebem salário da Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa) há oito meses.
A verba da entidade é obtida via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), mas, segundo Isaquias, não está sendo repassada. “Não paramos de treinar, continuamos trabalhando, mesmo sem receber da confederação desde fevereiro”, afirmou o principal atleta brasileiro da modalidade e esperança de medalha olímpica, em entrevista ao canal SporTV.
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O grupo reclamou também das más condições das instalações usadas no Rio. Os atletas estão nos alojamentos da Escola de Educação Física do Exército, na Urca, e são acordados todos os dias às 5h pelo apito de despertar. “Queria saber em qual hotel o presidente da confederação está dormindo?”, disse Isaquias, referindo-se a João Tomasini Schwertner.
A competição, que termina no domingo, serve para testar a Lagoa Rodrigo de Freitas para os Jogos Olímpicos de 2016. Serão testados, por exemplo, o sistema de GPS para divulgação dos resultados, cronometragem, instalações (mesmo sem a arquibancada flutuante prevista para a competição do ano quem vem), controle antidoping e organização. A qualidade da água, que já gerou diversos questionamentos durante o evento-teste de remo, também será analisada.
Em reportagem especial, VEJA apresentou 11 promessas olímpicas, que devem brilhar nos Jogos do Rio de Janeiro, em agosto do ano que vem. Leia o perfil de Isaquias abaixo ou clique aqui para ler todos os textos.
O Neymar de Ubaitaba
Isaquias Queiroz, 21 anos – Canoagem de velocidade
“A constituição física desses índios (…) é robusta e sua fisionomia muito mais simpática do que a dos sabujás e dos cariris. São bons remadores e nadadores.” A descrição dos brasileiros encontrados entre 1817 e 1820 no sul da Bahia está na Viagem pelo Brasil, de Carl Friedrich Philipp von Martius e Johann Baptiste von Spix, naturalistas alemães que vieram descobrir por que nesta terra em se plantando tudo dá. Corte para o século XXI e vamos encontrar Isaquias Queiroz, medalha de ouro na prova de velocidade de 500 metros no campeonato mundial de canoagem de Duisburgo, cidade banhada pelo Ruhr. Ele é o índio brasileiro que mostra aos alemães de hoje o que é ficar de joelhos, enfiar os remos na água e zarpar.
Natural de Ubaitaba, na Bahia, lugar de gente robusta, o menino sem um rim (perdido numa queda da mangueira onde buscava uma cobra) começou a remar no Rio das Contas, onde se descobriram dezenas de outros Isaquias bons de canoa. Mas nenhum foi tão longe quanto o Sem Rim, como o apelidaram jocosamente. A glória não lhe subiu à cabeça, ou quase não subiu. Isaquias, de pele e cabeleira agredidas por água e sol, coleciona cortes de cabelo e cremes hidratantes. “Já fiz até escova progressiva. Tenho de me cuidar, senão a namorada me larga”, brinca. Recentemente, Isaquias fez um corte à Neymar. Em tempo, para não restar dúvida: a palavra Ubaitaba, que dá nome à terra natal de Isaquias, é a fusão de três vocábulos indígenas: ubá, canoa pequena; y, rio; e taba, aldeia
(com Estadão Conteúdo)