Ricardo Teixeira pediu conselho a Rosell sobre local para fugir
Segundo investigações da Justiça espanhola, ex-presidente da CBF planejou deixar o Brasil com a ajuda do ex-presidente do Barcelona, que está preso
Escutas telefônicas realizadas pela Justiça espanhola revelam que o ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, telefonou para o ex-presidente do Barcelona, Sandro Rosell, para pedir ajuda sobre um lugar “seguro no mundo” para onde poderia fugir caso investigações se aproximassem dele.
A informação faz parte de uma decisão judicial desta quinta-feira e na qual a Justiça espanhola rejeita um pedido de Rosell para aguardar seu processo em liberdade. Por um esquema de corrupção envolvendo a seleção brasileira, o dirigente catalão foi preso no dia 23 de maio. Para justificar sua negativa, a autoridade espanhola apontou que existiria um “alto risco de fuga” por parte de Rosell.
Uma das provas usadas pelos espanhóis para mostrar o conhecimento do catalão pelo mundo seria uma ligação telefônica que ele recebeu de Teixeira. Na conversa, o brasileiro o teria consultado sobre “quais lugares no mundo poderiam resultar mais seguros na hora de evitar problemas derivados das investigações em curso seguidas contra ele em diferentes países”.
A conversa ocorreu em abril desde ano e foi pega nas escutas colocadas pela polícia espanhola contra Rosell, antes de sua prisão. Teixeira é investigado na Suíça, nos Estados Unidos e no Brasil por diferentes assunto, mas estaria vivendo em solo brasileiro depois que passou a ser alvo de inquérito do FBI.
Os documentos também mostram que o suposto esquema montado para desviar recursos da seleção brasileira por Ricardo Teixeira teria um elo com o Catar. Documentos da Justiça espanhola revelam que parte do dinheiro desviado dos amistosos do Brasil terminaram em contas de José Colomer, que representava a Aspire, uma academia de jovens craques financiada pelo Catar.
Nesta quarta-feira, em Madri, Colomer foi preso. De acordo com o ato de acusação, o suspeito “foi receptor em uma conta em Andorra de 350.000 euros (cerca de 1,3 milhão de reais) procedentes da Uptrend, sociedade que não tinha nem atividade econômica e nem comercial aparente ou conhecida”, supostamente usada para desviar recursos.
De acordo com a investigação, Colomer era um dos “laranjas” de Rosell e trabalhava para o projeto Aspire Dream, “financiado pelo Catar”. Trata-se, na realidade, de uma academia montada pelo governo árabe para identificar jovem craques pelo mundo, principalmente na África e América Latina.
Esse não é o único envolvimento do Catar no esquema de supostos desvios de dinheiro da CBF. Os procuradores espanhóis investigam ainda como Teixeira e Rosell puderam influenciar a escolha do país árabe para sediar a Copa de 2022. Como membro da Fifa, o brasileiro foi um dos cabos eleitorais do Catar.
No final de maio, o Ministério Público da Espanha revelou como Ricardo Teixeira usou uma rede de empresas de fachada e contas em seis paraísos fiscais para desviar pelo menos 8,4 milhões de euros (30 milhões de reais) da seleção brasileira e lavar dinheiro. Por contas secretas, ele ainda movimentou mais de 24 milhões de euros (90 milhões de reais) de origem suspeita.
Em 2006, o Brasil assinou com a empresa ISE a concessão de 24 partidas da seleção. Mas, junto com o contrato, veio a obrigação imposta por Teixeira de que parte do dinheiro arrecadado com os jogos não fosse para a CBF, e sim para ele mesmo e para seu aliado, Sandro Rosell.
Para isso, uma complexa estrutura foi montada. Uma empresa de fachada com base nos EUA, a Uptrend, assinou um contrato com a ISE, dias antes da própria CBF fechar seu acordo. Oficialmente, ela atuaria como intermediária do negócio entre a empresa saudita e a brasileira. Em troca, receberia 8,4 milhões de euros. Segundo a investigação, quem criou a empresa foi Rosell.
(com Estadão Conteúdo)