Rei Cristiano, o português que Portugal todo sonha em ser
Em seu retorno a Lisboa – para a final da Liga dos Campeões, neste sábado -, o craque simboliza o desejo geral de um país mais bem-sucedido e relevante
Exigente, perfeccionista e muitíssimo bem-sucedido, o craque leva uma vida que gostaria de ver refletida em seu próprio país – e, ao mesmo tempo, personifica as ambições mais inatingíveis de uma sociedade ainda insegura sobre o seu próprio papel na Europa e no mundo
A final da Liga dos Campeões, neste sábado, às 15h45 (de Brasília), entre Real Madrid e Atlético de Madri, em Lisboa, marca o retorno de Cristiano Ronaldo ao seu país – e o rei de Portugal, o melhor jogador do mundo, espera brilhar e vencer no Estádio da Luz, fechando um longo processo que o transformou numa espécie de modelo do que a própria nação portuguesa gostaria de ser. Aos 29 anos, “rico, bonito e grande jogador”, como ele mesmo já se definiu, Cristiano chegou a sofrer certa resistência dos portugueses quando despontou: para muitos, principalmente os mais velhos, tinha um ar de arrogância que não caía bem num país que se acostumou a idolatrar o modesto Eusébio, um gênio do futebol com modos extremamente simples, fala suave e jeito pacato. Hoje, Portugal já aprendeu a entender Cristiano, cuja frase lapidar (dita à revista France Football, organizadora do prêmio Bola de Ouro, vencida por ele em janeiro) talvez seja a seguinte: “Ser humilde demais não é bom. Em meu país, as pessoas são exageradamente humildes”. De fato, num país cada vez mais distante de suas antigas glórias, que ainda sofre com o complexo de ser visto como uma espécie de porta dos fundos da Europa, Cristiano simboliza não apenas o sucesso mas também – quem diria! -, valores que todo o povo português gosta de cultivar, como o trabalho duro e o apego às origens.
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Para Ronaldo, as fronteiras de Portugal ficaram pequenas há muito tempo. Ainda assim, o ídolo da seleção ainda se cerca das mesmas pessoas que o ajudaram a pavimentar seu caminho. A começar pela família – é agarrado à mãe, Dolores, e entrega parte de seus negócios a uma das irmãs, Elma -e pelo agente Jorge Mendes, apontado por muitos como o grande mentor do craque desde que ele surgiu no Sporting de Lisboa. Também costuma demonstrar claramente ter a total consciência de sua importância e influência não só para a seleção nacional (é o capitão do time que virá à Copa no Brasil) como para o próprio país. Cristiano sabe que é o embaixador de Portugal para o mundo – o astro maior do clube mais famoso, tradicional e vitorioso do futebol europeu é provavelmente mais notório até do que a nação que ele representa. Assim, não é por acaso que Cristiano defende sua pouca modéstia, seu orgulho próprio, sua competitividade e profissionalismo extremos. Exigente, perfeccionista e muitíssimo bem-sucedido, ele leva uma vida que gostaria de ver refletida em seu próprio país – e, ao mesmo tempo, personifica as ambições mais inatingíveis de uma sociedade ainda insegura sobre o seu próprio papel na Europa e no mundo. Se a velha potência do tempo das grandes navegações (período que inspira a cerimônia preparada pela Uefa para a abertura da decisão da Liga dos Campeões neste sábado) é uma imagem quase inconcebível para a população portuguesa de hoje, Cristiano é a lembrança viva de que o país é capaz, de fato, de expandir seus horizontes.
Lendas – Blindado do assédio do público por causa de sua importância na partida deste sábado – ele não participou das entrevistas coletivas da véspera da final e só saiu do hotel onde o Real está concentrado (o Tivoli, na Avenida da Liberdade) para o treino no estádio da partida -, Cristiano foi objeto da adoração dos portugueses mesmo quando não era visto em carne e osso em Lisboa. Na estreia de um filme da Uefa sobre a Liga dos Campeões, na noite de quinta, na Praça do Comércio, o público aplaudia e gritava a cada cena protagonizada pelo craque. E no rápido treinamento de sexta-feira no gramado da Luz, o astro teve seu nome gritado em coro pelos adolescentes que participarão da festa de abertura – enquanto esperavam escondidos sob as arquibancadas para ensaiar no gramado, passaram cerca de vinte minutos quase ininterruptos cantando “Cristiano Ronaldo” sobre a melodia de Song 2, da banda Blur, mesmo não conseguindo enxergar o ídolo no campo. A camisa 7 vermelha da seleção portuguesa enfeita as vitrines de boa parte das lojas no centro de Lisboa, e a imagem do craque estampa outdoors gigantes e ilustra anúncios dos mais variados produtos. Ele é, disparado, a personalidade portuguesa mais admirada e popular, preenchendo um espaço que já foi de outro ídolo futebolístico que desembarcou em Lisboa vindo de longe para fazer o país reviver, ainda que brevemente, os antigos triunfos nacionais.
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Se Cristiano, que nasceu em família pobre na Ilha da Madeira e transformou-se em celebridade de alcance global, aparece como o equivalente moderno de um rei para os portugueses, Eusébio, o lendário craque moçambicano morto em janeiro último, é visto quase como um novo santo. Na sessão pública do filme sobre a Liga dos Campeões, as falas do Pantera Negra também eram acompanhadas por aplausos – e, na última cena, quando o velho craque diz ter sido “um simples jogador da bola”, também por lágrimas. Sua estátua diante do estádio que receberá a final deste sábado foi transformada num altar, com centenas de faixas e bandeiras deixadas durante seu velório, no salão nobre da Luz, no início do ano. Cristiano não substitui Eusébio no coração dos portugueses, mas serve, à sua maneira, como sucessor do outro supercraque que fez o país sentir-se maior perante o resto do mundo. Na verdade, o astro do Real Madrid sobe ao campo da Luz neste sábado não como um novo Eusébio, e sim como protagonista de uma versão moderna da lenda de D. Sebastião, o rei em cuja morte (numa batalha na África, em 1578) o povo português não acreditou. Na época, achava-se que ele sobrevivera – e que voltaria, no momento certo, para libertar Portugal da submissão às potências estrangeiras, acabar com as injustiças e restaurar as antigas grandezas de seu povo. Um jogo de futebol e um eventual título europeu não serão capazes de redimir os portugueses num momento pouco reluzente de sua história. Mas eles podem servir, pelo menos, como uma recordação de tempos melhores e como inspiração para um futuro mais próspero, personificados no camisa 7 de um dos times finalistas deste sábado.
https://youtube.com/watch?v=9MGu5sPHEJI%3Frel%3D0
2013: Bayern
Depois de perder duas decisões em três anos – uma delas, em seu próprio estádio -, o Bayern não deixou passar a terceira oportunidade de levantar a taça. Em um clássico alemão, a equipe de Munique derrotou o Borussia por 2 a 1 no Estádio de Wembley.
2012: Chelsea
A equipe londrina surpreendeu e conquistou seu primeiro título contra o Bayern de Munique, na casa do adversário, a Allianz Arena. Didier Drogba foi o grande destaque da final, que foi decidida nos pênaltis depois de empate por 1 a 1 no tempo normal.
2011: Barcelona
Com Messi inspirado e com Pep Guardiola como técnico, o Barça foi campeão no Estádio de Wembley, em Londres, fazendo 3 a 1 no Manchester United. O jogo é considerado uma das melhores da fase de ouro da equipe catalã sob o comando de Guardiola.
2010: Internazionale
O argentino Milito foi o destaque na vitória da equipe italiana sobre o Bayern, no Estádio Santiago Bernabéu, em Madri – fez os dois gols na vitória por 2 a 0 e deu à Inter de Milão um título que não conquistava desde a década de 1960. Mourinho era o técnico.
2009: Barcelona
Eto’o e Messi marcaram os gols da vitória catalã no Estádio Olímpico de Roma, contra o Manchester United de sir Alex Ferguson e da dupla de ataque formada por Rooney e Cristiano Ronaldo. Foi o terceiro título do torneio continental para o Barça.
2008: Manchester United
Na final entre os ingleses, a equipe de Alex Ferguson levou a melhor sobre o Chelsea, no Estádio Luzhniki, em Moscou. No tempo normal, Cristiano Ronaldo abriu o placar e Lampard empatou. Na cobrança de pênaltis, Anelka perdeu e o United comemorou.
https://youtube.com/watch?v=e5iNzdPlAj4
2007: Milan
Com grandes atuações de Kaká e Inzaghi, a equipe italiana se vingou da derrota para o Liverpool na final de 2005. A decisão disputada no Estádio Olímpico de Atenas foi totalmente dominada pelo Milan, que conquistou seu sétimo título da Liga dos Campeões.
2006: Barcelona
Com Ronaldinho Gaúcho em grande fase, o Barça era favorito contra o Arsenal no Stade de France, em Paris. Os ingleses saíram na frente com Campbell, mas os catalães viraram com gols de Eto’o e do brasileiro Belletti. Foi o bicampeonato do Barcelona.
2005: Liverpool
Uma das maiores surpresas da história do torneio – não pela vitória da equipe inglesa, clube tradicional na competição, mas sim pela recuperação histórica. O Milan vencia por 3 a 0 no intervalo em Istambul. O Liverpool buscou o empate e venceu nos pênaltis.
2004: Porto
Carlos Alberto e Deco estavam entre os destaques da jovem equipe do Porto treinada por um então desconhecido, José Mourinho. Do outro lado estava outra zebra, o Monaco. A final, disputada em Gelsenkirchen, terminou com vitória dos portugueses, 3 a 0.
https://youtube.com/watch?v=9y7zKOKJGzk
2003: Milan
A final entre dois italianos no estádio Old Trafford, em Manchester, foi marcada pelo enorme equilíbrio. Milan e Juventus ficaram no 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação. Na disputa por pênaltis, Dida defendeu três cobranças e Shevchenko selou a vitória do Milan.
https://youtube.com/watch?v=OLh6lGlXC3A%3Frel%3D0
2000: Real Madrid x Valencia
https://youtube.com/watch?v=jjYPOj2hros%3Frel%3D0
2003: Milan x Juventus
https://youtube.com/watch?v=jGJ62A2_CTQ%3Frel%3D0
2008: Manchester United x Chelsea