Queda e polêmicas transformam 2021 no pior ano de Neymar
Lesões, problemas com peso e confusões extracampo foram o roteiro do ano do principal jogador brasileiro
Parecia perfeitamente factível e até iminente diante dos anos a mais do argentino Lionel Messi e do português Cristiano Ronaldo, então hegemônicos nas disputas da Bola de Ouro e do The Best, a possibilidade de ver Neymar como o melhor jogador do mundo. “Ganhar a Bola de Ouro é um dos objetivos que estabeleci e será uma vitória pessoal, mas não tenho pressa”, disse o jogador em entrevista ao jornal russo Sport Express, em 31 de março de 2017.
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A frase vinha de um jogador protagonista e com credenciais que só cresciam no poderoso tridente de ataque do Barcelona ao lado de Messi e do uruguaio Luis Suárez. Eleito em 2015 e 2017 como o terceiro colocado na Bola de Ouro, tradicional premiação entregue pela France Football ao melhor da temporada, a conquista era só questão de tempo.
“Eu quero ser o melhor jogador do mundo. Simples assim”, afirmou o próprio Neymar dois anos depois, em 2019, ao jornal inglês Mirror.
Neymar deixou o Barcelona e foi para o Paris Saint-Germain, um passo de “independência” de Messi, mas o prêmio nunca veio. Aos 29 anos – completa 30 em 5 de fevereiro –, agora soa como utopia falar do jogador mais talentoso que surgiu no país no atual século como o melhor de todos na atualidade.
“Sobre a Bola de Ouro, já nem ligo. Não é algo que penso. E, sendo sincero, não estou nem aí. Quero é ganhar a Liga dos Campeões”, explicou em 27 de abril deste ano, na véspera do primeiro com o Manchester City pelas semifinais da competição europeia. O PSG acabou derrotado e, posteriormente, eliminado na semana seguinte.
Neymar terminou as últimas duas disputas de Bola de Ouro bem distante do sonho que traçou ao chegar na Europa, em 2013. A 16ª colocação na última foi a pior desde 2019, quando pela primeira vez desde sequer ficgou entre os 30 finalistas. Logo em sua estreia em 2011, ainda como jogador do Santos, foi o 10º.
Em números, a atual temporada pelo PSG não anima. Foram 14 partidas e somente três gols e três assistências. Pela seleção, em 2021, foram dois gols em seis jogos na Copa América e quatro gols em sete partidas pelas Eliminatórias da Copa de 2022. Não é só, conviveu com polêmicas de sobra no extracampo. PLACAR recorda algumas das dificuldades do jogador:
Caso Nike
Em 27 de maio, o jornal americano The Wall Street Journal (WSJ) noticiou que o rompimento de contrato de patrocínio com a Nike foi provocado por uma denúncia de assédio sexual feita por uma funcionária da empresa em 2018. O brasileiro não teria colaborado com as investigações e a postura desagradou a fornecedora de material esportivo, que decidiu encerrar o vínculo.
O estafe do atacante negou as acusações. O ex-empresário do atleta, Wagner Ribeiro, disse se tratar de uma “invenção” da empresa, enquanto Neymar da Silva Santos, pai do atleta, negou a PLACAR e acusou a fornecedora americana de não ter honrado com os pagamentos acordados em contrato.
“Se você ficar sem receber você continua na sua empresa, meu amigo? É simples assim. Quando a Nike não honrou os pagamentos que estavam em atraso alegando um monte de situação a gente rompeu. Simples assim”, afirmou. Questionado sobre os motivos, Neymar disse que a rixa com a empresa teve início devido a reclamações do atleta sobre a chuteira da fornecedora americana, que seria a causadora de suas lesões.
O caso estourou, curiosamente, quando Neymar estava novamente na Granja Comary, em Teresópólis (RJ), concentrado com a seleção brasileira que disputaria a Copa América. Dois anos antes, ele não participou da campanha do título em casa por conta de uma lesão. Antes, esteve pressionado pela acusação de assédio da modelo Najila Trindade, caso este que foi arquivado – tanto a denúncia de assédio por parte do atleta quanto às de caluniosa e extorsão contra Najila.
Gordinho, eu?
Sempre elogiado pelo físico exemplar, Neymar viu em 2021, pela primeira vez na carreira, questionamentos sobre o seu peso. Incomodado, provou debate público com os acusadores de que estaria com quilos a mais. Após o vice-campeonato da Copa América, em 10 de julho , ele recebeu férias do Paris Saint-Germain
“Camisa era G. Tô no meu peso já. Próximo jogo peço camisa M”, escreveu, ironizando críticas.
Cansaço mental
Em outubro deste ano, no documentário Neymar Jr & The Lines of Kings, da plataforma de streaming DAZN, o atleta revelado pelo Santos falou sobre sua saúde mental. Melhor jogador brasileiro desde sua consolidação, Neymar admitiu cansaço e cogitou não defender a seleção brasileira em mais uma Copa do Mundo, após o Mundial de 2022, no Catar: “Acho que 2022 é a minha última Copa do Mundo. Encaro como a última porque não sei se terei mais condições, de cabeça, de aguentar mais futebol”
Cobrado por nunca ter conquistado um título relevante com o Brasil – excluindo o ouro olímpico de 2016 – em mais de uma década vestindo a ‘amarelinha’, Neymar dificilmente abriu mão de uma postura forte. Quase sempre batendo de frente com críticas e polêmicas, o brasileiro admitiu inseguranças pela primeira vez apenas em 2021.
Dias depois, Neymar disse ter sido mal interpretado em sua fala. “Eu disse uma coisa, mas as pessoas entenderam outra. Eu disse que, sim, a próxima seria a minha última Copa do Mundo e que a enfrentaria da melhor maneira possível. Vou dar o meu melhor para estar 100%, porque é como se tivesse um jogo no dia seguinte. É assim que faço.”
Coadjuvante
Contratado pelo Paris Saint-Germain para ser o grande nome da equipe, Neymar falhou na missão. O vice-campeonato da Liga dos Campeões de 2019/20 e a queda nas semifinais da edição seguinte fizeram o time francês ir atrás de mais uma estrela. O escolhido foi o argentino Lionel Messi, amigo de Neymar e companheiro nos tempos de Barcelona.
O trio composto pelo brasileiro, pelo argentino e pelo francês Kylian Mbappé fez o mundo parar e focar no PSG. Contudo, a equipe repleta de estrelas não embalou e o próprio Neymar sofreu com o encaixe e se tornou um coadjuvante na equipe, principalmente em estatísticas ofensivas. Nesta temporada, o camisa 10 revelado pelo Santos atuou 14 vezes, com três gols e três assistências. Messi, recém-chegado no clube, entrou em campo uma vez a mais, mas marcou seis vezes. Mbappé é o destaque e balançou a rede em 15 ocasiões, nas 24 vezes que jogou.
Lesionado, Neymar acompanhou das tribunas a evolução dos parceiros nos últimos jogos, como o da rodada final da Liga dos Campeões, em que o PSG goleou o Club Brugge, da Bélgica, por 4 a 1, com dois gols de Messi e de Mbappé.
Lesionado e boas festas
Como se não bastasse o ano repleto de polêmicas, com problemas físicos e pouco futebol, Neymar fechará o ano lesionado. Durante vitória do PSG sobre o Saint-Étienne, pelo Campeonato Francês, o atleta sofreu uma lesão ligamentar no tornozelo esquerdo.
Após exames, o clube de Paris divulgou que o brasileiro não jogaria mais em 2021. Um atestado seguido de um “boas festas”. De acordo com o setor médico do PSG, o atacante volta a campo em janeiro, a tempo de atuar pelas oitavas de final da Liga dos Campeões, que acontecem em fevereiro. Desde que chegou à França, Neymar perdeu 99 jogos por lesão ou gestão de esforço físico.