Professores pretos: CBF dará bolsas para formar treinadores negros
Vinicius Junior e Cesar Sampaio estrelam campanha, em parceria com a Vivo e o Observatório da Discriminação Racial no Futebol
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) anunciou nesta quarta-feira, 9, em parceria com a Vivo, um projeto que incentiva a formação de treinadores negros no país. A iniciativa de um dos principais patrocinadores da entidade tem como porta-voz o ex-volante e atual auxiliar técnico César Sampaio, além do atacante Vinicius Júnior, do Real Madrid e da seleção brasileira, alvo recente de insultos raciais no futebol espanhol.
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“A gente sabe como o jogo é jogado no Brasil. Olhando para dentro de campo, vemos o talento preto. Mas olhando para o banco, vemos uma questão: onde estão os treinadores pretos?”, questiona o jogador no teaser de apresentação. “É hora de mudar a tática, é hora de mudar esse jogo”, completa.
A gente sabe como o jogo é jogado no Brasil. Olhando pra dentro do campo, vemos o talento preto. Olhando pro banco, fica o questionamento: onde estão os treinadores pretos? Vem aí, um projeto para promover um futuro mais diverso. Em breve nas nossas redes. pic.twitter.com/JIEC7IY85v
— Vivo (@vivobr) November 6, 2022
O programa dará a seis treinadores bolsas de estudo para obterem preparação e licenças da CBF Academy: C (iniciação no futebol), B (categorias de base) e A (futebol profissional).
Segundo a empresa, os nomes foram escolhidos pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Eles virão de diferentes regiões do país e têm em comum o fato de que ainda não atuam em grandes clubes, além de identificação com o propósito antirrascista.
“Ao diagnosticar a ausência de treinadores negros nos grandes clubes do Brasil, foi possível apontar que ela acontece por alguns motivos, entre eles a falta de confiança, o preconceito, a falta de oportunidade e a ausência de projetos de incentivo a diversidade e inclusão”, afirma o Marcelo Carvalho do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.
“A CBF Academy tem orgulho em contribuir com toda e qualquer iniciativa que fomente a igualdade de oportunidades no futebol”, completou Michel Mattar, coordenador geral da CBF Academy.
Os selecionados foram definidos na última terça-feira, 8, um dia depois do anúncio de Tite dos 26 jogadores convocados para a Copa do Mundo do Catar.
A convocação está feita. O time formado pela Vivo, @cbf_futebol e @ObRacialFutebol tem a honra de apresentar os Professores Pretos que vão ajudar a construir um futuro mais diverso dentro e fora do futebol. pic.twitter.com/Rnnb8Ey5Gk
— Vivo (@vivobr) November 8, 2022
Em outubro do último ano, na última entrevista antes de enfrentar a Venezuela, em confronto pela 11ª rodada das Eliminatórias da Copa, o técnico Tite afirmou haver um preconceito estrutural contra treinadores negros no país fazendo coro a fala de Marcão, do Fluminense, então único negro empregado na Série A do Campeonato Brasileiro, que, em entrevista à Folha de S.Paulo, reclamou da falta de oportunidades a nomes como Cristóvão Borges e Andrade, desempregados.
“Eu vou me posicionar. Luto e lutei minha vida toda contra minha ignorância. Procurei ler, aprender e estudar. E continuo. E contra a hipocrisia. Que é brincar de faz de conta. Prefiro responder quando não quero. Há sim um preconceito. E ele é arraigado, estrutural, sim”, disse, antes de completar mencionando como principal exemplo Roger Machado.
”O que posso dizer é que tenho um respeito muito grande e, talvez, um dos maiores atletas que trabalhei, e tenho um respeito muito grande, chama-se Roger Machado. Pela conduta pessoal, pelo conhecimento profissional, pelos momentos bons, difíceis, e exemplo nele de um dos profissionais que tenho mais profundo respeito. Devemos lutar contra o preconceito, porque há na relação ao técnico negro e, talvez, ampliando numa situação generalizada e maior em termos sociais”, afirmou o treinador.
Tite também já lembrou de um episódio de quando dirigiu o Veranópolis Esporte Clube, no primeiro semestre de 1992, e teve recusada a contratação de dois jogadores negros.
“Eu tenho isso em relação ao negro. Vivo em uma região preconceituosa. O meu primeiro título foi no Veranópolis, e as contratações que eu pedi foram de dois jogadores negros. Aquilo gerou impacto”, contou, em entrevista ao SporTV em dezembro de 2018.
Ainda em 2018, contou que tentou fazer justiça ao chamar o volante Fernandinho, apontado pelos torcedores brasileiros como um dos principais vilões pela eliminação nas quartas de final do mundial da Rússia. O jogador, contudo, recusou o chamado.
Atualmente, dos 20 técnicos empregados na Série A, somente Orlando Ribeiro, do Santos, é negro. O treinador, contudo, ocupa o cargo de forma interina e deve ser substituído para a próxima temporada.
Na Série B, Roger Machado chegou a comandar o Grêmio em parte da campanha, mas acabou demitido e sucedido por Renato Gaúcho no início de setembro. Ele é cotado para assumir o Red Bull Bragantino em caso de saída de Maurício Barbieri.
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