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Prancheta PLACAR: a história tática do futebol

Pirâmide, WM, Futebol Total, 'Catenaccio' ou Jogo de Posição... entenda as mudanças nas estratégias táticas ao longo das décadas

Publicado por: Guilherme Azevedo em 02/09/2025 às 07:00 - Atualizado em 02/09/2025 às 09:40
Prancheta PLACAR: a história tática do futebol
Ancelotti, Sacchi, Guttmann, Feola e Guardiola são figuras da história tática do futebol - Montagem PLACAR

Há controvérsia sobre as origens do esporte mais popular do planeta. Evidências, por exemplo, apontam que bolas já eram chutadas muitos séculos atrás na China e em Florença. O futebol como conhecemos, no entanto, nasceu na Inglaterra vitoriana do fim do século XIX, tendo como marco oficial a criação da The Football Association, em 1863.

Inicialmente exclusivo da elite local, o esporte nasceu com jogos mais físicos e desorganizados do que racionais, com muitas disputas corpo a corpo, corridas e chutes para a frente. Gradualmente, passes, dribles e novas estratégias desenvolveram um lado menos caótico. Hoje, mais de 100 anos depois, pensar o jogo passou a ser parte indispensável na busca pelo sucesso.

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O futebol, assim, deixou de ser exclusivamente um assunto de campo. Chegou aos números e universidades, com protagonismo de plataformas de análise, que a cada dia têm maior capacidade de relatar tudo que ocorreu em 90 minutos mais acréscimos.

No entanto, para compreender o presente, conhecer o passado é essencial. Dessa forma, PLACAR inaugura o quadro Prancheta, que nesta edição conta sobre a história tática do futebol; confira.

O início: a pirâmide

Logo nos primórdios do futebol profissional, surgiu o sistema 2-3-5, conhecido como “pirâmide”. Com dois defensores, três meio-campistas e cinco atacantes, o desenho refletia a prioridade ofensiva da época: a posse era curta, os avanços eram feitos com passes longos ou corridas individuais, e a função dos zagueiros era quase exclusivamente de contenção.

Pirâmide: esquema em 2-3-5 remete ao futebol “inicial”

O 2-3-5 se espalhou pelo mundo, formando a espinha dorsal dos primeiros campeonatos nacionais e das seleções pioneiras. No Brasil, a pirâmide chegou com Charles Miller e ganhou traços próprios.

A inclusão gradual de negros em um contexto de escravidão recém-abolida, aspectos sociais e particularidades do “terreno” realçaram a influência do drible como recurso cultural, moldando um futebol menos mecânico. O resultado foi o estilo que unia a estrutura pré-existente à ginga dos jogadores brasileiros, prenunciando a identidade que se consolidaria ao longo do século XX.

O WM e a revolução da ordem

Em 1925, uma mudança crucial de regra alterou o futebol: o impedimento passou a exigir apenas dois defensores entre atacante e gol, e não três. Essa mudança obrigou ainda mais uma reorganização coletiva.

Logo, o técnico inglês Herbert Chapman, do Arsenal, respondeu com o WM (3-2-2-3). Os zagueiros ganharam função mais clara, alguns meio-campistas recuaram e o jogo se tornou mais equilibrado entre ataque e defesa.

Esquema WM passou a equilibrar mais fases entre defesa e ataque

O WM foi a primeira verdadeira “revolução tática” difundida em maior magnitde. Ele não só influenciou a Inglaterra, mas também encontrou eco em outros países, que, a partir disso, começaram a forjar suas próprias táticas.

A escola danubiana e a Hungria de Puskás

Nos anos 1930 e 40, emergiu a escola danubiana, batizada assim por ter nascido nas margens do Rio Danúbio, com Áustria e Hungria. O jogo, desse modo, passou a ter adaptações que refinaram o passe curto e a movimentação coletiva.

Foi um contraponto ao futebol britânico. O ápice veio nos anos 1950 com a Hungria de Puskás, Kocsis e Hidegkuti, que apresentou ao mundo a alternância posicional como método, servindo de raiz para modelos como do futebol total e relacionismo.

Puskás no topo do pódio dos Jogos de 1952 em Helsique -@Fifa.com/Twitter

Puskás, o craque da Hungria, no topo do pódio dos Jogos de 1952 em Helsique [email protected]/Twitter

O célebre 6 a 3 sobre a Inglaterra em 1953, em pleno Wembley, foi um marco. A Copa do Mundo do ano seguinte, na qual a seleção húngara chegou à final e perdeu para a Alemanha, também levou à Terra um vistoso e ofensivo estilo.

Brasil brasileiro — e húngaro

A influência húngara foi sentida, inclusive, no Brasil. A ideia de atacantes que recuam, meio-campistas que chegam e defesas que participam da construção encontrou terreno fértil no improviso brasileiro.

Um dos primeiros húngaros a atuar no Brasil foi Eugênio Medgyessy, treinador de clubes como Botafogo, São Paulo, Fluminense e Atlético Mineiro, entre 1926 e 1933. Além dele, Dori Kurschner, que chegou ao país para comandar o Flamengo, em 1937, também agregou toques da escola danubiana.

Nos anos seguintes, Béla Guttmann foi outro que deixou sua marca no futebol brasileiro. O nome histórico, com importante passagem pelo Tricolor Paulista, teve uma carreira vitoriosa na Europa, onde conquistou títulos importantes pelo Benfica.

O Brasil, então, absorveu e reinterpretou as ideias, em movimento que tem como peça importante Vicente Feola. Adaptando conceitos de mobilidade, passes curtos e ocupação do espaço de forma inteligente, potencializou ainda mais a individualidade de seus craques.

Na preparação e durante a Copa do Mundo de 1958, Feola estruturou o time de forma a permitir que jogadores como Zito, Didi, Pelé e Garrincha explorassem liberdade criativa. O 4-2-4 móvel, de laterais ofensivos, meias habilidosos e ataque brilhante, levou a seleção brasileira ao primeiro título mundial de sua história, dando início a um período de glórias.

Formação móvel em 4-2-4 foi base da seleção brasileira histórica

Entre 1958 e 1970, o Brasil conquistou três das quatro edições de Copa do Mundo. Em todas elas, destaque para o modo de jogar com ofensividade, presente nos times comandados por Feola, Aymoré Moreira (1962) e Zagallo (1970).

O catenaccio italiano e a obsessão pela defesa

O catenaccio (correntão, em italiano), muitas vezes reduzido ao rótulo de “retranca”, trata-se de uma concepção sofisticada de defesa e contra-ataque. Seu embrião surgiu nos anos 1930 com o austríaco Karl Rappan, técnico da seleção suíça, que criou o verrou (tranca): um sistema em que um jogador atuava atrás da defesa, livre de marcação.

A ideia foi absorvida e adaptada na Itália do pós-guerra por treinadores como Nereo Rocco, até alcançar seu auge nos anos 1960 com Helenio Herrera, que brilhou na Inter de Milão. Taticamente, o catenaccio se apoiava em cinco pilares.

Foram eles: um líbero, que jogava atrás da zaga como cobertura; a marcação individual rígida, com defensores colados nos atacantes adversários; laterais de perfil quase exclusivamente defensivo; linhas compactas, fechando espaços; e, por fim, a busca do contra-ataque vertical, com passes longos ou arrancadas rápidas.

Formação em 1-3-3-3 foi uma das primeiras a brilhar com o catenaccio italiano

Na prática, o catenaccio não se limitava a uma formação única, mas algumas estruturas se tornaram clássicas. A mais emblemática foi o 1–3–3–3, utilizada por Herrera na Inter: um líbero atrás, três zagueiros fixos, três meias e três atacantes, sendo um deles recuado para ligação.

O futebol total 

Os anos 1970 foram definidos pelo futebol total da Holanda de Rinus Michels e Johan Cruyff. A ideia era simples, mas radical: todos atacam, todos defendem, todos alternam posição e a busca é a manutenção da ocupação dos espaços.

O 4-3-3 servia apenas de base para um jogo de movimentos contínuos, pressão alta, marcação zonal intensa e compactação.

A 'Laranja Mecânica' em ação: lance do jogo ente Holanda x Argentina na Copa do Mundo de 1974

A ‘Laranja Mecânica’ em ação: lance do jogo ente Holanda x Argentina na Copa do Mundo de 1974

O conceito nasceu no Ajax no fim dos anos 1960, sob comando de Michels, que encontrou em Cruyff o intérprete perfeito para a filosofia. A inspiração vinha de princípios táticos do húngaro Gusztáv Sebes nos anos 1950 (seleção da Hungria) e de influencias de seu ex-treinador, Jack Reynolds, com quem trabalhou no time de Amsterdã.

A seleção holandesa levou essa proposta à Copa do Mundo de 1974, encantando o mundo com um futebol inovador, ainda que tenha perdido a final para a Alemanha Ocidental.

Esquema utilizado até hoje, 4-3-3 teve primeiro momento de destaque com a Holanda, que tinha a formação apenas como “base”

O futebol total não deu título mundial à Holanda, mas transformou o esporte. O Ajax conquistou três Champions League seguidas (1971 a 1973) e a filosofia inspirou gerações. Sua herança aparece na pressão organizada de Arrigo Sacchi no Milan dos anos 1980, no Barcelona de Cruyff nos anos 1990, e, mais recentemente, no jogo de posição moderno.

Sacchi e influenciado vitorioso

Nos anos 1980, o futebol europeu experimentou uma transformação no modo de se organizar sem bola. O Milan de Arrigo Sacchi tornou-se sinônimo de organização coletiva e intensidade, saindo da linha bastanta defensiva da tradição italiana do catenaccio.

O técnico introduziu linhas compactas, pressão alta sobre a saída de bola adversária e marcação por zona, invertendo a lógica de defensores marcando um adversário específico. Sua abordagem não apenas redefiniu o Milan bicampeão europeu, mas influenciou gerações subsequentes.

4-4-2 postado pelo Milan de Sacchi tinha pressão zonal bem feita e influenciou gerações

Carlo Ancelotti, que começou no clube, foi auxiliar de Sacchi e absorveu a filosofia, adaptou esses princípios à modernidade, aplicando-os em gigantes como o Real Madrid com ênfase em posse dinâmica, transições rápidas e flexibilidade posicional. Equilibrado e bom para adaptar seu estilo ao elenco, o italiano brilhou também no Milan, onde foi campeão da Champions de 2003 e 2007, numa adaptação do 4-4-2, com o meio-campo em losango.

Variação do meio-campo foi uma adaptação do 4-4-2

A globalização e a consolidação posicional

A Holanda de Rinus Michels plantou sementes com o célebre Futebol Total, ao levar ao extremo a troca constante de posições. Na virada da década de 1980, Arrigo Sacchi estabeleceu a marcação por zona como uma premissa promissora.

E, assim, se a Itália ofereceu um modelo defensivo moderno, seria na Catalunha que o ataque encontraria sua revolução. Quando Johan Cruyff assumiu o Barcelona, no início dos anos 1990, levou consigo a herança do Ajax e da seleção holandesa.

Mas em vez de simplesmente reproduzir o Futebol Total, Cruyff moldou algo mais racionalizado. O campo passou a ser dividido em zonas e corredores; a circulação da bola tornou-se um instrumento para criar superioridades e encontrar o “homem livre”.

Foi sobre esse alicerce que Pep Guardiola, atleta do holandês sob o sistema, construiu a onda dominante do século XXI. Primeiro como discípulo em campo, depois como técnico, o espanhol, junto de figuras como Juanma Lillo, transformou os princípios em método.

Corredores centrais, meio-espaços e corredores laterais coexistem com alturas de profundidade na “divisão do campo”

Entre 2008 e 2012, seu Barcelona redefiniu o futebol mundial: pressionava alto, mantinha a bola sob controle obsessivo e atacava com paciência cirúrgica. A filosofia moldou não só o clube, mas também a seleção espanhola, campeã mundial em 2010 e europeia em 2008 e 2012, além de ecoar em experiências posteriores no Bayern de Munique e no Manchester City.

Muitas vezes confundido com o ataque posicional, o jogo de posição vai além de uma fase ofensiva. É uma filosofia integral, com conceitos como dividir o campo, ocupar racionalmente os espaços, viajar juntos pelo campo e construir vantagens.

Messi tenta furar o bloqueio de Marcelo, Alonso e Pepe no clássico deste sábado, no Estádio Santiago Bernabéu, entre Real Madrid e Barcelona

Messi em ação no clássico contra o Real Madrid – Getty Images

No século XXI, essa lógica ganhou força justamente pelos diversos profissionais que buscaram reproduzir o Barcelona de Pep. Desse modo, mesmo longe da escola holandesa-espanhola, treinadores passaram a incorporar amplitude para abrir o campo, opções de passe constantes e distribuição de jogadores entre os corredores.

Ou seja, na cultura do jogo de posição ou no ataque posicional, a ideia de se organizar a partir dos espaços tomou o mundo. O Brasil atual é um exemplo disso, com duas interpretações diferentes dessa linha.

O Palmeiras de Abel Ferreira, vitorioso nos últimos anos, é muito inspirado na escola posicional portuguesa, que tem como grande expoente o acadêmico Júlio Garganta. Já o Bahia de Rogério Ceni, que com apreço por um jogo mais curtos e menos rigído, pode ser assimilado mais ao estilo dos primeiros anos do Barça de Guardiola.

A contracultura: relacionismo

O relacionismo é uma corrente contemporânea do pensamento tático que propõe uma abordagem diferente do posicional. Enquanto o posicionalismo prioriza a ocupação prévia de zonas no campo, o relacionismo defende que o futebol deve se organizar a partir das relações entre os jogadores e bola.

A ideia ganhou força em alguns clubes da América do Sul nos últimos anos, sendo associada a técnicos como Fernando Diniz, que coloca a interdependência e o movimento coletivo acima de qualquer rigidez estrutural. Nomes mais moderados, como Lionel Scaloni e até Carlo Ancelotti, praticaram o modelo em um contexto de primeira prateleira global.

O relacionismo (ou jogo funcional) se estabelece como resposta crítica ao futebol posicional dominante no século XXI. O futebol brasileiro clássico, praticado especialmente nos anos 50, 60 e 70 e, posteriormente, por lendas como Telê Santana e Vanderlei Luxemburgo, é visto como uma das referências para a consolidação dessa forma de enxergar o jogo.

O estilo propõe que a organização do time aconteça de forma dinâmica, com trocas constantes de posição, aglomerações, tabelas e espaços criados a partir das relações de passe e movimentação, e não de ocupações pré-definidas. Taticamente, se caracteriza por coletivo fluido, inclinações assimétricas e progressão por escadinhas — três ou mais jogadores posicionados numa diagonal, em alturas diferentes.

O jogo do século XXI e as tendências

Além do jogo funcional, o futebol passa por momento de outras adaptações nos modelos. Entre os princípios em alta, um deles é o box-midfield (meio em quadrado), visto no Manchester City de Guardiola que venceu a Champions de 2022/23, com muitos jogadores no campo ofensivo, remete ao WM.

A pressão alta tem raízes no futebol total, mas com a intensidade física da modernidade. Os laterais, tão importantes na história brasileira, têm atuado como construtores por dentro, função que agrega segurança para contra-pressão ou transição defensiva, além de distribuição no comando do ataque e última linha pesada com atletas ofensivos.

Rodri e Guardiola, lendas do City multicampeão  – Getty Images

Pep Guardiola prioriza a ocupação racional dos corredores e a criação de superioridades numéricas e espaciais. Nesse modelo, a posse de bola não é um fim, mas um meio de defesa e ataque, podendo manter o controle enquanto busca desorganizar a defesa adversária, sem ceder a bola.

Nos últimos vinte anos, porém, muitas outras ideias se manifestaram nas filosofias de alguns dos principais treinadores contemporâneos. O argentino Diego Simeone tornou-se referência em compactação defensiva e intensidade, moldando um Atlético de Madrid extremamente eficiente e seguro, que, com um “toque sudaca” trabalha com bastante dinâmica quando tem a posse.

Já Jürgen Klopp, que brilhou no Borussia Dortmund e no Liverpool, popularizou o gegenpressing a nível global. A ideia consiste em intensidade ao recuperar a bola, pressão alta coordenada, mobilidade ofensiva e ataques diretos, aumentando a necessidade física e de organização coletiva.

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