Por que o amistoso da seleção na Arábia Saudita é um gol contra
Regime saudita usa prestígio do Brasil no futebol para se promover, enquanto é acusado de assassinar – e esquartejar – jornalista opositor
Por que Brasil e Argentina se enfrentarão nesta terça-feira na Arábia Saudita? A resposta é simples: o reino local busca melhorar sua imagem e promover sua “abertura” por meio do futebol e para isso pagou caro para levar o maior clássico do futebol sul-americano ao Oriente Médio. Mas o timing da CBF para se associar ao governo saudita não poderia ser pior. O recente desaparecimento do jornalista Jamal Kashoggi reacendeu os debates sobre as atrocidades e violações aos direitos humanos praticadas em solo saudita. Questionado sobre o tema, Neymar desconversou.
“É difícil falar sobre algo que não tenho domínio. Viemos aqui para jogar futebol e não estamos sabendo de nada”, afirmou o capitão da seleção, em entrevista coletiva na véspera do jogo desta terça-feira. Nos dias que antecederam o amistoso no King Abdullah Sports City, estádio que leva o nome do antigo rei, morto em 2015, os jogadores da seleção fizeram passeios turísticos pela Arábia Saudita, com direito a roupas e jantares típicos – totalmente alheios às controvérsias diplomáticas.
A Arábia Saudita voltou ao centro do debate ético e político depois do sumiço do jornalista Jamal Kashogg. Profissional acostumado a escrever artigos críticos à monarquia saudita, ele deixou o país para morar nos Estados Unidos no ano passado. Há duas semanas, Kashogg viajou da capital americana Washington até Istambul, na Turquia, para buscar uma documentação no consulado saudita. As câmeras de segurança registraram sua entrada, mas não sua saída. Suspeita-se que Kashogg tenha sido morto e esquartejado no consulado, em mais um caso bárbaro de repressão à liberdade de imprensa no país. O governo saudita nega.
Apesar das medidas aparentemente liberais tomadas pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salmán, como a liberação de mulheres para dirigir carros e frequentar estádios de futebol, a Arábia Saudita segue sendo acusado de prisões arbitrárias de ativistas e graves violações dos direitos humanos. Há pouco mais de um mês, um ataque aéreo organizado pelos sauditas matou 29 crianças no Iêmen.
Cantona ataca CBF – e Bolsonaro
O ex-jogador francês Eric Cantona, ídolo do Manchester United, não poupou críticas à seleção brasileira por atuar em solo saudita. Ele aproveitou para alfinetar eleitores do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL).
“Quando vejo a seleção brasileira aceitando jogar um amistoso com a Arábia Saudita, por muito dinheiro, tenho certeza, posso entender o porquê de uma grande parte da população brasileira pretender votar em Bolsonaro”, afirmou Cantona em suas redes sociais.