Pérolas Negras: clube do Rio contrata jogadores refugiados sírios
Quatro atletas e um treinador se juntaram ao time, fundado originalmente para receber imigrantes do Haiti
A Academia de Futebol Pérolas Negras, fundada pela ONG Viva Rio no Haiti, em 2004, é um time de futebol baseado na cidade de Paty do Alferes. No início, a equipe abriu espaço para refugiados haitianos e agora aposta em atletas vindos da Síria.
Os Pérolas Negras têm cerca de sessenta atletas, entre brasileiros, sírios e venezuelanos vinculados (não conta mais com haitianos), e disputa a Série B do Campeonato Carioca sub-20. A convivência do Centro de Treinamento gira em torno do futebol e a rotina é programada em torno dos treinos e dos estudos desse atletas, muitos desses refugiados.
No início de 2018, a comissão técnica do time foi a Zaatari, um campo de refugiados na Jordânia, selecionar jovens com potencial de se tornarem jogadores profissionais: os atletas que se destacassem seriam convidados para integrar a equipe. Dos 150 que participaram da seleção, cinco foram escolhidos: Ahmad, Hafith, Omar e Quais, além de Jawdat, um treinador, que desembarcaram no Brasil em setembro de 2018.
Natural da cidade Homs, Ahmad, de 17 anos, teve que deixar a Síria rumo ao país vizinho antes de completar 10 anos. “Antes da guerra, um time levava anualmente dez meninos para treinar no Catar. Eu fui selecionado, mas não pude ir porque foi quando a guerra começou”, disse o meia, fã de Neymar.
Já Hafith é chamado de Marcelo, uma homenagem ao seu ídolo, o jogador brasileiro que atua na lateral esquerda do Real Madrid. “Eu estou super bem aqui. A minha única dificuldade, realmente, é com o idioma, mas eu sei que vou superar esse obstáculo e que vai ficar tudo bem”, disse o jogador, natural da cidade de Daara.
Quais é um zagueiro de 14 anos que morou no assentamento por quase metade de sua vida. Quando criança, jogava bola nas ruas da Síria, mas foi na Jordânia que começou a pensar em se tornar atleta profissional. “Em Zaatari, eu era parte de uma equipe, e o treinador nos comunicou que haveria uma seleção para jogar profissionalmente no Brasil. Eu me inscrevi e acabei passando. É maravilhoso poder jogar futebol”, disse o jovem, fã do zagueiro Thiago Silva
Omar, de 16 anos, sente falta de sua família, mas disse viver uma realização no país. “É o sonho de qualquer jogador de futebol vir para o Brasil. Sair de perto da família é difícil, mas qualquer jogador que queira se profissionalizar e ter projeção vai precisar passar por isso”, disse o atacante.