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Pelé morreu, viva o Rei!

Humorista Marcelo Madureira se despede do Atleta do Século: "Pelé representava o Brasil, e os brasileiros se sentiam orgulhosamente representados por ele"

Pelé, preto de origem pobre, foi, na minha opinião, o maior brasileiro de todos os tempos. Através do futebol, o Edson sintetizou no Pelé a genialidade de todos os grandes craques brasileiros. Pelé fez de um apelido o sinônimo de gol; muito mais do que isso, Pelé foi sinônimo de Brasil na simbiose mais simpática, mais feliz, mais significativa que um povo poderia almejar. Pelé representava o Brasil, e os brasileiros se sentiam orgulhosamente representados pelo Pelé.

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Nasci em maio de 1958, ao mesmo tempo que o menino Edson já despontava no Santos. A minha estreia como torcedor no Maracanã, eu me lembro, foi no dia 1º de novembro de 1969. Fui assistir ao meu Flamengo ser goleado pelo Santos do Pelé, 4 a 1 – claro, com um gol do Rei aos 29 minutos do segundo tempo.

Uma vez, durante a cobertura da Copa de 90 na Itália, estávamos eu e o saudoso amigo Ricardo Boechat no centro de Imprensa quando chega o Pelé, que comentava os jogos do Brasil pra TV Globo. Imediatamente cria-se um tumulto, cujo epicentro é o Rei do Futebol. Todo mundo assediando o craque, uma confusão. Só para se ter uma ideia, naquela Copa, o Pelé era o único que chegava aos estádios de helicóptero. Nem o presidente da Itália, então o Sandro Pertini, chegava por via aérea. Somente Sua Majestade.

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“Noblesse oblige”, Pelé atendia com paciência e cortesia cada um, mal podia caminhar para a fazer o seu trabalho. Pois bem, presenciando aquela multidão comentei com o Boechat: “Olha só, Boechat, ninguém deixa o Negão em paz um minuto sequer. Deve ser um saco ser Pelé…”. Ao que o grande jornalista respondeu de bate-pronto: “Marcelo, um saco é ser caixa de banco”. O Boechat tinha toda razão. E o Pelé sempre teve plena consciência de sua majestade, mas sem perder jamais a sua simpatia, a sua natural humanidade. Nem precisava pedir, era só passar na frente do Rei para ele vir com um sorriso e um abraço.

No Casseta & Planeta, tive a felicidade de contracenar com o Pelé algumas vezes e conversar com ele (e com o Edson) fora das câmeras, um lorde. Nos anos 90, idealizei um projeto para o Rei: queria provar que o Pelé era o maior cidadão do planeta. A ideia era dar uma volta ao mundo com o Rei do Futebol sem passaporte, sem um tostão no bolso. Iríamos viajar, comer, dormir, visitar o Papa sem marcar audiência, confraternizar com chefes de Estado, cientistas, artistas, esportistas, tudo isso sem lenço nem documento, só e unicamente pelo fato de ser o Pelé.

O Pelé era o único que podia andar por aí, o mundo era o seu quintal. Por motivos vários não rolou. Mas teria sido uma tarefa muito fácil. Afinal, era o Pelé.

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O Pelé foi o maior Pelé de todos os tempos.

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