Pelé, da Vila Belmiro para o mundo
No Brasil, Pelé só jogou pelo Santos Futebol Clube – um reinado que atravessou três décadas e colocou o alvinegro praiano no mapa da bola
“Presidente, este daqui é o menino que eu falei que vai ser o maior jogador do mundo.” Assim Waldemar de Brito, titular da seleção brasileira na Copa de 1938 e agora caçador de talentos de faro aguçado, apresentou o jovem Edson ao mandatário do Santos Futebol Clube, Athiê Jorge Cury. Estávamos em uma tarde qualquer de 1956. Defensor do título paulista, o alvinegro tinha uma equipe forte, que contava com Pepe, Vasconcelos e Del Vecchio, entre outros medalhões.
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Logo nos primeiros treinos, porém, o garoto magricela deixou colegas e comissão técnica boquiabertos – e o astuto Lula, treinador do Santos, não demorou a puxá-lo para o time principal. Pelé estreou entre os profissionais ainda aos 15 anos de idade, no dia 7 de setembro de 1956, marcando um gol no massacre de 7 a 1 sobre o Corinthians de Santo André.
Daí para frente, o craque empilharia títulos e pulverizaria recordes com a camisa 10 do Santos, um período que atravessaria três décadas e terminaria apenas com sua primeira despedida do futebol, na Vila Belmiro, em 1974.
Foram duas Taças Libertadores da América – em duelos épicos contra o Peñarol e o Boca Juniors –, dois mundiais interclubes – sobre o Milan e o Benfica –, seis brasileiros, dez paulistas e quatro torneios Rio-São Paulo, entre inúmeros outros.
Títulos de artilheiro, apenas no Paulista, foram 11, nove deles consecutivos. Durante a década de 1960, chamada por motivos óbvios de “Era Pelé”, o Peixe passou de quarta força no futebol de São Paulo a superpotência internacional.
Mais do que isso, as façanhas do Rei do Futebol colocaram em definitivo a pequena cidade da baixada no mapa-múndi da bola. Nenhum outro time rodou o planeta tanto como aquele esquadrão alvinegro, levando o nome de Santos – e do Brasil – para confins quase inalcançáveis. As excursões eram tantas, e tão lucrativas, que, por diversas vezes, o clube abdicou de sua vaga na Libertadores para apresentar-se em campos internacionais. Algumas dessas turnês entraram para a história – como a de 1969, pela África, quando os combatentes da sangrenta Guerra Civil Nigeriana concordaram em uma trégua momentânea para ver Pelé jogar. Um poder que nenhum outro monarca jamais teve.
Pelé morreu nesta quinta-feira, 29. Tinha 82 anos e estava internado desde o último dia 29 de novembro no hospital Albert Einstein, em São Paulo, para tratamento de um quadro de infecção respiratória e reavaliação da terapia quimioterápica – que, assim como os medicamentos, já não respondia mais para interromper o crescimento de metástases.