Os 11 grandes momentos da Olimpíada de Tóquio
Uma lista de cenas e resultados que ficarão para sempre na história dos Jogos
A coragem libertadora de Simone Biles
Lembraremos da coragem de uma supercampeã para quem a vida vale mais do que a pressão de ser a melhor de todas. Eis o que disse Simone Biles, ao desistir de competir pelo time americano; no individual geral e em três aparelhos (ela disputou apenas a trave, no individual, e ficou com o bronze): “Eu não sei como eu estou me sentindo agora. Eu só preciso voltar para casa e trabalhar em mim mesma, me sentir ok com tudo o que está acontecendo, processar tudo enquanto estou aqui. Foi a parte mais difícil disso tudo. Eu estava ok por perder as finais porque sabia que, fisicamente, eu não poderia fazer isso. Mas eu precisava entender por que o meu corpo e minha mente não estavam em sincronia. O que aconteceu? Eu estava muito cansada? Por que os cabos não se conectavam? Eu treinei a minha vida toda, eu estava pronta, mas algo aconteceu fora do meu controle. Mas, no fim do dia, a minha saúde importa mais do que qualquer medalha”.
A fraternidade no topo do pódio
No salto em altura, o italiano Gianmarco Tamberi, 30 anos, e Mutaz Essa Barshim, 29 anos, do Catar, decidiram dividir o ouro. Ambos superaram o sarrafo em 2m37. Havia a possibilidade de haver um único vencedor, se tentassem passar o 2m39. Erraram no primeiro salto e decidiram não tentar mais. “Não podemos ter dois ouros?” perguntou o atleta do Catar. “É possível se vocês dois decidirem”, respondeu o oficial, levando Barshim a estender a mão ao italiano que rapidamente retribuiu. O bronze ficou com Maksim Nedasekau, de Belarus, que alcançou a mesma marca, mas perdeu no desempate de outros saltos – demorou um pouquinho mais para chegar à marca dos campeões.
Quando o recorde mundial não valeu ouro…
A corrida dos 400 metros com barreiras masculino foi uma das grandes provas de todos os tempos na história do atletismo em olimpíadas. O norueguês Karsten Warholm, de 25 anos, que cresceu para ser um decatleta, fulminou seu próprio recorde mundial, com 45s94. O americano Rai Benjamin foi o segundo, com 46s17 – tempo que eclipsaria a marca anterior de Warholm, mas foi insuficiente para o ouro. O terceiro lugar ficou com o brasileiro Alison dos Santos, o Piu, com 46s72, novo recorde sul-americano e quarto melhor tempo da história. Dos sete velocistas que ficaram atrás de Warholm, cinco bateram recordes nacionais. É prova para ser vista e revista quatrocentas vezes.
… e quando o recorde mundial continuou a não valer ouro
Nos 400 metros com barreiras feminino, um outro espanto inesquecível, e só entra nessa lista depois do masculino por ter ocorrido alguns dias depois, na Olimpíada de Tóquio. A americana Sydney McLaughlin, de 21 anos, fez evaporar seu próprio recorde mundial em 0.44 segundos, ao cravar 51s46. A segunda colocada, a também americana Dalilah Muhammad cravou 51s58. Ela também superou o antigo recorde de Sydney, mas foi insuficiente para o ouro.
O silêncio nos estádios
E não há mais nada a dizer, na Tóquio da pandemia, sem torcida, nem mesmo a de japoneses, por compulsória cautela sanitária.
Oito vezes olímpica
A ginasta Oksana Chusovitina, do Uzbequistão, fez sua oitava Olimpíada seguida. Ela tem 46 anos de idade. Ela já era a ginasta mais velha a disputar uma edição de Jogos Olímpicos e ampliou em cinco anos o recorde. Foi ovacionada pelos atletas e treinadores que acompanhavam a prova do salto no Centro de Ginástica Ariake, em Tóquio. Não conseguiu vaga na final do aparelho. E daí? Oksana tem duas medalhas olímpicas. Um ouro por equipes, em 1992, disputado pela União Soviética, e uma prata no salto, em Pequim-2008, com a bandeira da Alemanha, que oferecera abrigo e tratamento da leucemia do filho pequeno. Há alguns anos, ela começou a defender as cores uzbeques. A brasileira Rebeca Andrade, ouro no salto, nasceu sete anos depois da primeira vez que Oksana participou dos Jogos.
… e por falar em Rebeca
O ouro veio no salto. Mas o que se eternizou foi o Baile de Favela do solo, ao vencer a prata no individual geral. Nunca antes um atleta brasileiro, mulher ou homem, tinha conseguido ouro e prata numa mesma Olimpíada.. “Que ela veio quente e hoje eu tô fervendo, que ela veio quente e hoje eu tô fervendo”, no refrão do McJoão.
A venezuelana que superou recorde mundial mais velho que ela
Yulimar Rojas nasceu em Caracas no dia 21 de outubro de 1995, dois meses depois de a ucraniana Inessa Kravets quebrar o recorde mundial do salto triplo. No dia primeiro de agosto, em Tóquio, Yulimar saltou 15,67 metros, superando uma marca que era mais velha que ela em 17 centímetros. Foi também a primeira medalha de ouro de uma venezuelana em Jogos Olímpicos.
O jogos de luzes nas finais dos 100 metros
Foi lindo, mágico e emocionante. Nas finais dos 100 metros, os refletores do estádio olímpico de Tóquio foram apagados e um show de luzes foi projetado na pista, com belas imagens e informações sobre os atletas. A criativa ideia, elogio à mais nobre das provas do atletismo, certamente será um dos legados da Olimpíada. Os atletas foram alertados antes do espetáculo de modo a não serem pegos de surpresa e, portanto, poderem manter a concentração.
O ouro por um triz
A brasileira Ana Marcela Cunha levou 1h59m30s para completar o circuito de 10 km da maratona aquática e faturar a medalha de ouro. A segunda colocada, a holandesa Sharon van Rouwendaal, que havia sido ouro na Rio-2016, finalizou a prova em 1h59m31s. A australiana Kareena Lee chegou em terceiro lugar com o tempo de 1h59m32s. Apenas dois segundos separaram o ouro do bronze, algo fantástico em uma prova de longa duração. Foi a medalha mais emocionante do Brasil. Até o peixinho que ficou famoso na fotografia de Jonne Roriz, uma das grandes imagens da Olimpíada, sorriu e andou achando que também mereceria pódio.
Um cruzado de esquerda para a história
A revista Ring, a mais prestigiada e antiga a respeito da Nobre Arte, definiu o cruzado de esquerda do brasileiro Hebert Conceição no maxilar do ucraniano Oleksandr Khyzniak, que lhe valeu o ouro, como um dos mais espetaculares do boxe em toda a história olímpica. Foi realmente espetacular o nocaute no terceiro round. O boxeador baiano foi o primeiro em 25 anos a vencer uma final olímpica por K.O. O anterior havia sido o do americano David Reid contra o cubano Alfredo Duvergel, em Atlanta-1996.