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Opositor de presidência do Vasco diz que SAF do clube é prematura

Advogado Luiz Roberto Leven Siano explica que diretoria assume riscos de 'sumir do mapa' e sofrer sanções disciplinares da Fifa pelo empréstimo-ponte

O Vasco terá na noite desta quinta-feira, 24, o primeiro termômetro para a constituição da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) e da venda do clube a 777 Partners, empresa americana interessada na compra de 70% das ações do futebol clube carioca. Conselheiros votarão em reunião extraordinária a aprovação do empréstimo-ponte de 70 milhões de reais junto a 777. O modelo de negócio é reprovado por Luiz Roberto Leven Siano, advogado e principal opositor do atual presidente Jorge Salgado.

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Em entrevista a PLACAR, Siano alertou para a forma apressada como foram conduzidas as negociações, e explicou que riscos de “sumir do mapa” e severas sanções disciplinares da Fifa pelo empréstimo-ponte rondam o clube carioca.

Ele ainda aponta como política as intenções do acordo, explicando que, na prática, o Vasco terá menos do que o Flamengo lucrou com a venda do atacante Vinicius Júnior ao Real Madrid em 23 de maio de 2017 por cerca de 164 milhões de reais na época.

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O senhor enxerga que o acordo com a 777 Partners pode mesmo ser a salvação para o Vasco? Tenho muita preocupação pelo futuro do clube e pela forma como está sendo feito. Debater a possibilidade de uma SAF ser uma solução financeira é saudável, porém isso deveria ser um debate dentro de uma análise estratégico no qual pudesse culminar com essa alternativa. Isso é fácil entender porque publicações da Forbes indicam que o valuation (jargão financeiro usado para definir o valor de uma empresa) de um clube tem relação direta com o faturamento do clube. Há pesquisas que mostram um valuation normalmente variando por diversos critérios: número de torcedores, títulos…. ele pode ser de 2,5 a 7 vezes o valor do faturamento. Como o Vasco é um time de primeira divisão que está na segunda isso deprime o faturamento de uma maneira que deprecia o potencial do valuation do Vaco. Em primeiro lugar, jamais se poderia pensar estrategicamente na venda do Vasco ele estando na Série B. Isso, por si só, já afeta drasticamente esse negócio.

Drasticamente quanto? Só o fato de estar na primeira divisão projeto de 40% a 50% maior, mas isso é uma conta muito grosseira. Estar na elite implica no aumento de outras receitas, também, O número de sócios torcedores aumenta, o interesse do público aumenta, o patrocínio melhora. O faturamento poderia ser, no mínimo, o dobro.

Leven Siano pediu cautela em acordo com 777 Partners -
Leven Siano pediu cautela em acordo com 777 Partners –

Por que acha que a proposta não foi boa? Nós quando nos candidatamos a presidência conseguimos soluções financeiras muito melhores, com juros mais baixos do que juros praticados hoje. Falando dessa proposta sobre a mesa critico que está sendo feito de forma atabalhoada, principalmente considerando o momento que o Vasco vive. Não é necessário ser clube-empresa para chegar na primeira divisão. O Botafogo subiu e não era, o Goiás subiu e não era. Muitos clubes subiram sem ser. Não precisa ser empresa, precisa ser organizado. Faço uma critica ao modelo econômico de clube-empresa. É um modelo que se se extrai valores majoritariamente do futebol, ele não é externo. Apenas o adiantamento é externo. O restante vem da própria operação do futebol, com um suposto superávit ao longo de vários anos. O Cruzeiro foi 400 milhões de reais que entraram uma parte, o restante ao longo dos anos consequente da operação do futebol. O modelo praticado aqui não é de aporte, mas de expectativa da melhoria do modelo operacional. Se aposta que um Cruzeiro, Botafogo e Vasco serão operados de maneira mais eficiente, mas critico se isso vai gerar melhores resultados. Existe uma cortina de fumaça na comunicação de fechamentos de ditos aportes, investimento, como se o dinheiro global viesse imediatamente e do investidor para o clube. É como um golpe.

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Mas chamar de golpe não é precipitado? O Ronaldo não investiu 400 milhões de reais direto no Cruzeiro, ele colocou 50 milhões de reais e o restante será retirado da própria operação. Não está entrando 700 milhões de reais no Vasco, mas 70. Os 630 restantes serão provenientes da própria operação do futebol ao longo de 15 anos, 20 anos, que é o tempo de contrato. Quando você projeta 630 milhões de reais por dez anos, ou seja, 63 milhões por ano precisa ficar claro que você não terá um time para ser campeão, que é a expectativa do torcedor. Talvez, essa não seja a expectativa do investidor. Faço critica ao modelo econômico que vai ser praticado na lei de SAF do Brasil, um modelo que extrai do próprio clube os recursos. Não há no mundo um especialista em fazer futebol. Quando se fala em operação de futebol quem você indicaria? Terceirizar pode ser um grande perigo.

Qual tipo de perigo prevê caso não dê tão certo, por exemplo? Estão entregando o futebol do Vasco para um modelo econômico operacional que não se garante que vai dar resultado, sobre o risco altíssimo de o clube poder desaparecer do mapa. O investidor americano tem outra lógica. Há muitos exemplos de falência, de clubes que ficaram com contas a pagar. Dezessete clubes da Série A italiana já faliram, há outros em Portugal, na Espanha… o risco é muito grande por tão pouco. Esse tipo de decisão precisa ser estratégica, mas foi tudo muito apressado. E nessa decisão você vai avaliar o modelo ideal e o preço mínimo, coisas que não foram feitas aqui. Nem foram feitas de forma democrática, ao menos. Eu ofereci ao Vasco, mesmo para essa direção que eu repudio a legitimidade, o projeto com três soluções financeiras com riscos menores, juros menores e sem entrega de ativo nenhum. A menor captação que consegui foi de 212 milhões de dólares (1,1 bilhão de reais), sem precisar vender ativo nenhum. Tive reunião com o Adriano Mendes, vice-financeiro, mas o clube ignorou por um problema político.

O senhor aponta, então, que há interesses políticos no novo modelo? O Vasco se lançou numa aventura solitária e está tentando empurrar goela abaixo. O valor que realmente vem é menor do que a venda do Vinicius Júnior ao Real Madrid (45 milhões de euros em maio de 2017, cerca de 164 milhões de reais na época). Apenas 70 milhões de reais vem do investidor. É menos do que muito jogador vendido pelo Vasco nos últimos anos, como o próprio Paulinho. Entregamos o nosso futebol pra sempre pela venda de um ou dois jogadores. Vale mesmo a pena? Hoje teremos a votação do empréstimo. Eles e estão dizendo o seguinte: são 70 milhões de reais a juros de 15% ao ano. Se aprovar a SAF, fica como investimento, mas qual a garantia? Quatro jogadores do Vasco que não foram ditos quem são. Uma proposta condicionada que viola o artigo 18bis do Regulamento Nacional de Registro e Transferência de Atletas de Futebol da Fifa, sujeitando o clube a sanções, a ficar até dois anos sem transferir jogadores. A maneira como foi colocada essa proposta viola o estatuto da Fifa, podendo a gerar problemas. A coisa está sendo feita de maneira tão apressada, colocando o clube em riscos.

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