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Opinião – Um convite aos puristas: aceitem com carinho o skate e o surfe

Se o mundo muda, por que não mudar também as olimpíadas? Nos primórdios, havia até cabo de guerra; em breve, o debate será sobre e-sports

Para quem anda fazendo muxoxo com o destaque dado ao skate e ao surfe na Olimpíada de Tóquio, por não considerá-los esportes, convém um aviso: olhe ao redor, converse com a rapaziada, ande pelas ruas (depois que a pandemia autorizar mais liberdade de movimentos, claro). O skate é um fenômeno urbano que desconhece as diferenças sociais. O surfe idem, embora, é natural, brote apenas em cidades litorâneas – mas a cultura que o envolve não pressupõe mar no horizonte. O Comitê Olímpico Internacional (COI), entidade de vetustos cartolas, fez a coisa certa ao atrair as duas modalidades para a agenda olímpica. Era um modo de rejuvenescer os Jogos, de atrair interesse de gente mais moça – e dinheiro, evidentemente, de grandes marcas esportivas que há anos sabem tirar lucro de coleções atreladas às pranchas do asfalto e da água salgada.

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Nada contra a luta greco-romana, nada contra as belíssimas provas do atletismo, muito pelo contrário. Nada contra a “nobre arte” do boxe e o hipismo. Mas se o mundo muda, por que não mudar também as olimpíadas? Aliás, é sempre bom relembrar que nos primórdios havia, por exemplo, competição de cabo de guerra – até que alguma mente de olho no futuro que se desenhava achou estranho manter a disputa de algo tão antiquado. Lembre-se ainda que, até 1964, nos outros Jogos de Tóquio, não havia o judô – muito praticado no Oriente, claro, mas que já começava a se espalhar pelas crianças do ocidente. E se há incômodo com o skate e o surf, um alerta, porque o desconforto conservador vai aumentar, e muito. Na Olimpíada de Paris, em 2024, haverá provas de breakdance. O COI discute seriamente a inclusão dos e-sports. Vai demorar um pouco, ainda – mas virá o tempo de vermos jovens craques de videogames subindo ao pódio olímpico. Não é esporte? Procure saber, então, o modo como os meninos e meninas que passam horas com um joystick em mãos mantém o preparo físico.

Não é fácil, certamente, aceitar o skate e o surf – e é compreensível que amantes das olimpíadas clássicas, os puristas e conservadores, evitem dar esse passo. Mas não há mais retorno. Citius, Altius, Fortius, o lema em latim das olimpíadas, talvez peça um outro: Sic Transit Gloria Mundi, porque “toda glória do mundo é transitória”.

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