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Opinião – Sem ‘mimimi’: seleção precisa de mais bola e menos rancor

Time já condenou vaias da torcida, preço dos ingressos e retranca dos rivais, mas foi bem menos crítico sobre seu próprio rendimento

Tite tinha dois caminhos na montagem da seleção brasileira que disputaria a Copa América em casa: formar um grupo novo, rejuvenescido, mirando no que mais importa, o Mundial de 2022; ou focar no presente, com uma equipe mais “cascuda” e pronta para entregar um resultado imediato. Fiel a seu estilo conservador, optou pela segunda opção, com uma defesa envelhecida e apenas o ataque formado por jovens promissores (até pela falta de opções mais experientes no setor). Com isso, o técnico atraiu para si ainda mais pressão e trouxe outro efeito colateral que ficou evidente depois das duas primeiras partidas: o rancor e negatividade que emanam dos atletas mais velhos, marcados pelos fracassos recentes do time.

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Até para justificar o papel de líderes do elenco, Daniel Alves e Thiago Silva têm sido os mais críticos em relação a fatores externos. O lateral-direito, capitão do time, rasgou o verbo contra o público silencioso e exigente da estreia no Morumbi. Disse que o time “não se sentiu em casa” e que na Bahia, sua terra natal, o “axé seria diferente”. De fato, foi: a torcida em Salvador apoiou o time, gritou, pulou e até “obrigou” Tite a colocar Everton “Cebolinha” em campo. Mas, diante de mais uma atuação fraca, no empate em 0 a 0, vaiou o time e recorreu aos irônicos gritos de “olé” no toque de bola venezuelano para expor sua frustração. E, ao invés de agradecer o público por ter “jogado junto” e pedir desculpas pela noite infeliz, vários atletas, até os mais jovens, foram contaminados pela amargura geral – um mal que abate, até em maior escala, Lionel Messi e nossos rivais argentinos.

“Torcida vaiar não ajuda, ir contra a gente, gritar ‘olé’ para o adversário. No fim das contas, quem sai perdendo somos nós”, afirmou Filipe Luís, de 33 anos. Onze anos mais jovem, Richarlison foi pelo mesmo caminho. “Até o jogo passado estava tudo certo, todo mundo era craque, e agora que empatou todo mundo é ruim?”. Errou duas vezes, pois é evidente que há qualidade no time, assim como está claro que não estava tudo certo antes (aliás, a atuação contra a Bolívia, apesar da vitória por 3 a 0, foi até pior do que a desta terça). Bem melhor fez Philippe Coutinho, que minimizou as vaias da torcida e admitiu não ter tido boa atuação diante da forte marcação venezuelana.

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Chega a dar certa pena, mas o maior símbolo dessa negatividade do time é justamente um dos atletas mais consagrados do elenco: Fernandinho. O volante do Manchester City foi impiedosamente vaiado, assim como Tite, ao entrar na Fonte Nova. Um gesto cruel, mas bastante previsível, devido ao histórico negativo das últimas Copas. Tite sabia que poderia ser assim e decidiu bancá-lo, mesmo Fernandinho tendo 34 anos e bons concorrentes à disposição – a ausência de Fabinho, do Liverpool, por exemplo, é injustificável sob qualquer aspecto. Técnico e jogador tentaram minimizar o constrangimento, disseram que “pressão faz parte, e etc”, mas seus semblantes falavam mais do que qualquer discurso.

Neste sentido, menos mal que Neymar está longe. Apesar de ser incomparável no quesito técnico, o “detestável ídolo nacional” é, de todos, quem menos sabe lidar com as contestações. Deu chilique quando perdeu e até quando ganhou, ao desabafar com um torcedor que o provocara ao longo da decisão da Olimpíada do Rio em 2016. Logo ele, que tem “alegria” (e ousadia), tatuada no corpo. Pois o que mais falta neste time, mais até do que um articulador decisivo ou um atacante de primeira linha, ou atletas e torcedores “raiz”, é um pouco de leveza, mais cara de Brasil. Saber rir de si mesmo, matar no peito as adversidades, assumir suas próprias responsabilidades. Ainda há tempo para isso nesta Copa América.

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