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Opinião: O realismo fantástico do futebol no Brasil

A mistura é ruim: do Brasil, que cuida de modo desleixado da pandemia com o ambiente permanentemente afeito a contrafação do futebol

Um dos quatro jogadores da Argentina que passou pelo Reino Unido e, portanto, não poderia estar na delegação que disputaria a partida contra o Brasil, em Itaquera, é Emiliano Buendía. O sobrenome do argentino de Mar de Plata, meia do Aston Villa, da Inglaterra, remete, sem muito esforço, ao clã dos Buendía, a interminável linhagem da família que ocupa as páginas de Cem Anos de Solidão, o clássico de Gabriel García Márquez, obra-prima do realismo fantástico. Buendía, o jogador, e o ridículo da tarde histórica de 5 de setembro de 2021 na Zona Leste de São Paulo, a improvável Macondo inventada pelos cartolas da CBF e da Conmebol com a ajuda das autoridades da Anvisa, poderiam ser coisa da imaginação do escritor colombiano. E, no entanto, são reais.

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Evidentemente, os quatro atletas argentinos que esconderam ter passado no Reino Unido nos últimos catorze dias mentiram, e mentiram com a anuência de seus chefes. Era segredo de polichinelo. A Anvisa só entrou em cena para valer quando o jogo tinha começado, em cena transmitida para o mundo todo, vergonhosamente. Mas fizeram a coisa certa, ao impedir que o trio irregular permanecesse em campo – Emiliano Buendía, ressalve-se, não estava no gramado.

Haverá, a partir de agora, o clássico empurra-empurra de culpa. Mas há uma certeza: a confusão é resultado de uma mistura ruim: a de um país, o Brasil, que cuidou de modo desleixado da pandemia, em decisões sempre apressadas e tomadas em cima da hora, com o ambiente permanentemente afeito a contrafação do futebol. E então chegamos ao realismo fantástico dos Buendía.

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Fez bem a Globo, depois da suspensão, e com um buraco na programação, ao pôr no ar o filme Círculo de Fogo, de 2013. Relata, no exagero de sua ficção científica, a luta da humanidade contra criaturas monstruosas que emergem do mar. Contudo, os robôs montados para a guerra são fracos em demasia para combater o mal – a esperança é um velho robô, comandado por um veterano piloto. E assim terminou a partida entre Brasil e Argentina pelas Eliminatórias da Copa do Mundo do Catar.

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