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Opinião: Neymar no Al-Hilal comprova que sauditas chegaram para ficar

A chegada de mais um craque, midiático e ainda jovem, foi a maior jogada dos sauditas no tabuleiro da geopolítica da bola

A nova transferência de Neymar Jr. causou um enorme furor em todo mundo. O craque de 31 anos foi confirmado como jogador do Al Hilal, então é hora de analisar o impacto que a transação gera no mercado esportivo. Sua chegada ao mundo árabe é a mais impactante para a região por se tratar de um jogador ainda da alta prateleira, com muito a entregar na parte técnica e na casa dos 30 anos de idade, titular e camisa 10 da seleção brasileira.

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No aspecto mercadológico, a presença de Neymar no clube mais popular da Arábia Saudita nos permite cravar: os árabes chegaram para ficar. Não parece ser o mesmo movimento que a China realizou na década passada. A fonte de receita é incomensurável, por isso o investimento será ainda mais espantoso, e há um forte – e polêmico – planejamento por trás.

É compreensível que os fãs brasileiros de Neymar tenham ficado frustrados com sua saída da elite europeia, mas olhando do ponto de vista de quem o comprou, esta foi a maior jogada dos sauditas no tabuleiro da geopolítica do futebol. Mais até do que Cristiano Ronaldo, que apesar de ser um jogador mais famoso e infinitamente mais consagrado, já vive a reta final da carreira, aos 38 anos. Na temporada passada, seu time, o Al-Nassr, terminou com o vice-campeonato.

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Além do alto nível técnico que mantém quando está em forma, fora dos campos Neymar é um dos atletas que gera mais mídia, para o bem e para o mal. Por isso, ele se tornou fundamental na busca do país por sportswashing. O projeto Saudi Vision 2030 é um planejamento estratégico da Arábia Saudita para reduzir a dependência do petróleo na economia local, além de também proporcionar uma melhor imagem do reino e os membros da monarquia, envolvidos em diversas denúncias de violações aos direitos humanos.

Com isso, o turismo passa a ser uma das principais opções para diversificar essa fonte de receita árabe. E que programão será ir até o país para assistir de perto a estrelas do futebol mundial em ação, não é mesmo? Se antes você pensaria em ir para a Europa assistir Neymar vs CR7, agora o destino é outro.

Pela primeira vez na história, os três principais jogadores de futebol do planeta não estão em clubes europeus. Uma nova ordem mundial, como aponta a edição deste mês da Placar? Eu acredito que é o início, sim. É óbvio que as competições europeias seguirão sendo as maiores em números e qualidade técnica, assim como os clubes, mas o atual momento é, no mínimo, interessante. Neymar chega com status de rei, e reforça o que Cristiano Ronaldo já havia dito, que ele “abriu o caminho e agora todos os jogadores estão vindo para cá”. Lembrando que Messi negou uma proposta espetacular do próprio Al Hilal, ou seja, poderíamos ter a tríade do futebol mundial dos últimos anos em gramados árabes.

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Quando o português tomou a decisão de jogar no Al-Nassr, duvidávamos do nível técnico da liga. E muitos ainda duvidam. Porém, com o investimento de cerca de R$ 5 bilhões nos quatro times adquiridos por um fundo do governo saudita, as coisas estão mudando. As contratações continuam, negociações estão na mesa, e essa matéria poderá ficar obsoleta, pois mais atletas do primeiro escalão do futebol mundial podem (e devem) chegar.

Com tudo isso, a liga árabe já atraiu a atenção do mundo inteiro, fechou acordos para transmissão em 136 países. Isso não é pouca coisa. No Brasil, podemos assistir aos jogos na Band, em TV aberta, ou pelo canal Goat, no YouTube, ambos de graça. Sem dúvidas, o turismo esportivo no país aumentará. Além do futebol, os saudistas estão adquirindo propriedades e se apropriando de outros esportes, como o golfe, Fórmula 1, e-sports e tênis.

Como especialista de marketing esportivo, aguardo como as principais ligas europeias vão se mexer para reforçar a importância delas como produto para o grande público, e tentar “construir” novos craques globais e ainda reter os talentos que por lá ainda estão.

Para finalizar, um ponto ainda mais interessante para o mercado brasileiro. Paralelo ao movimento do mundo árabe, o nosso futebol segue crescendo em nomes relevantes do futebol mundial. Atualmente, o Brasileirão tem em seus campos craques globais como Marcelo, Luis Suárez, David Luiz, James Rodríguez, Lucas Moura, Hulk, entre outros, e mais recentemente Diego Costa e o francês Dimitri Payet, que ainda estrearão por Botafogo e Vasco da Gama, respectivamente. E tenho certeza que isso tudo só é possível pelas criações das SAFs e dos grupos de clubes, com nome de ligas. Com pouco mais de organização, podemos nos consolidar ainda mais na rota de grandes craques do futebol mundial.

Felipe Gomiero é profissional de marketing esportivo e diretor-comercial da agência 100 Sports

 

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