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Opinião: ‘Fracasso’ de treinadores estrangeiros é culpa dos clubes

Jesualdo, Dudamel e Inácio foram escolhidos sem critério e Coudet é criticado por não vencer clássicos; os técnicos são os menos responsáveis pelas crises

Um novo treinador chega ao clube com promessa de renovação, revolução e – é claro – títulos. Poucos jogos depois, não serve mais e… rua! Quantas vezes esse roteiro se repetiu no futebol brasileiro? Uma vítima recente foi o português Augusto Inácio, que fez apenas sete partidas antes que o Avaí decretasse sua demissão. O conterrâneo Jesualdo Ferreira, do Santos, e o venezuelano Rafael Dudamel, do Atlético Mineiro, passaram de solução à decepção em 15 e 10 partidas, respectivamente. Será que os três eram realmente os problemas?

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O Avaí foi rebaixado no Brasileirão do ano passado com apenas 20 pontos em 38 jogos. O planejamento de 2020 para voltar à elite, portanto, deveria durar para o ano inteiro – afinal, ninguém contrata um profissional esperando demiti-lo em poucos meses. Os sete jogos do português, com derrota para o Brusque na Recopa Catarinense e eliminação na primeira rodada da Copa do Brasil contra a Ferroviária, de São Paulo, foram suficientes para analisar que o trabalho era “ruim”? Ou o erro foi de quem contratou?

Inácio dirigiu apenas um grande time de Portugal, o Sporting, no começo do século. No currículo, passagens em diversas equipes menores do país e aventuras no Catar, na Grécia, no Irã, em Angola, na Romênia e no Egito. Uma análise completa do trabalho do profissional foi feita para definir que ele era o nome certo para o Avaí? O que é a premissa de qualquer empresa séria na hora de contratar, vira utopia no futebol brasileiro. Fica a impressão de que eles olharam apenas o passaporte, buscando um novo Jorge Jesus.

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No caso do Santos, foi exatamente isso. Em entrevista ao programa Grande Círculo, do SporTV, o presidente José Carlos Peres contou que escolheu Jesualdo Ferreira após uma reunião que durou das 8h até a meia-noite. “Ter um estrangeiro era a ideia”, disse. O longo encontro chegou a um nome que não apresentava uma forma de jogar parecida com a do antecessor.

O jogo de posição implementado por Jorge Sampaoli no ano passado, com os pontas bem abertos para alongar a marcação, e os laterais por dentro para ajudar na criação, a velocidade e a intensidade da equipe não são características dos times do português, que prefere um jogo mais cadenciado de posse de bola. Será que o Santos sabia disso? Ou considerou que o trabalho precisava de tempo, porque se tratava de uma mudança drástica de filosofia?

Para piorar ainda mais o já conturbado ambiente dentro e fora de campo, a decisão aconteceu uma semana após a eliminação no Campeonato Paulista. Quatro dias antes da estreia no Brasileirão (sem falar no desrespeito de ter mantido um senhor de 74 anos por quatro meses em um dos países com a pior situação na pandemia para depois dispensá-lo). A demissão também levou à saída do diretor de futebol William Thomas, que acreditava no trabalho de Jesualdo e tentou mantê-lo. Agora a bola está com Cuca, anunciado nesta sexta-feira, 7. Um terceiro técnico, com uma terceira ideia de futebol totalmente diferente. Se o time não conseguir resultados rápidos no meio de toda essa crise, de quem será a culpa?

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O caso de Rafael Dudamel foi bastante parecido. O Atlético Mineiro tentou contratar Sampaoli logo que ele saiu do Santos, mas a alta pedida salarial do argentino inviabilizou o negócio. Recorreu ao técnico da seleção venezuelana, que deu trabalho ao Brasil na última Copa América jogando defensivamente e saindo rápido nos contra-ataques com pontas velozes. Sampaoli e Dudamel tem estilos antagônicos de montar suas equipes. É como escolher entre o Faustão e a Xuxa para apresentar um programa dominical. Cada um vai entregar coisas diferentes para o público. Você tem que saber o que você quer para decidir entre os dois.

O presidente Sérgio Sette Câmara não aguentou as eliminações nas fases iniciais da Copa do Brasil (para o Afogados, time do interior de Pernambuco) e da Copa Sul-Americana (para o Unión, da Argentina) e demitiu, no final de fevereiro, o técnico, o diretor de futebol Rui Costa e o gerente de futebol Marques, ex-jogador do Corinthians e do próprio Galo. Ou seja, dois meses foram suficientes para decretar que não havia mais solução e começar o planejamento de todo o futebol do clube do zero. Qual a porcentagem de culpa de Dudamel se nem o Atlético sabia o que queria quando o contratou?

Se Klopp estivesse no Brasil, já teria sido demitido

“Os treinadores estrangeiros, amantes dos gols e da velocidade, quebram a reserva de mercado e começam a mudar a prosa do futebol brasileiro. A pergunta inevitável: será um movimento duradouro?”. A frase que abre a reportagem de capa da edição de fevereiro de PLACAR (disponível para os assinantes pelo aplicativo) traz um questionamento difícil de responder no futebol brasileiro.

Dos quatro personagens na matéria, só restou Eduardo Coudet. O argentino deu a sua cara ao Internacional logo quando chegou e não passou pelo processo de fritura dos outros estrangeiros. O Colorado pré-pandemia era um time intenso, vibrante e que chegava ao gol adversário com trocas de passes em velocidade. Após a parada, já há quem queira a cabeça dele em uma bandeja pelas derrotas nos clássicos contra o Grêmio e a perda do título gaúcho. Esquecem-se que Renato Portaluppi está há quatro anos no comando do rival, enquanto o argentino dá apenas os primeiros passos no Inter.

A pressão sofrida por Coudet só mais uma prova que os técnicos são os menor dos problemas do clubes. É claro que Dudamel teve eliminações marcantes para os torcedores do Atlético. Também era visível que o time de Jesualdo não era nem sombra do que foi o Santos de Sampaoli. Mas em menos de 15 jogos, você acredita que Jürgen Klopp teria feito algo de muito diferente? O alemão precisou de quatro anos para ganhar seu primeiro título pelo Liverpool. Se estivesse no mercado brasileiro, estaria desempregado pela sua incompetência.

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