O possível impacto do Brexit na Premier League
Liga inglesa pode perder jogadores e dinheiro com saída do Reino Unido da União Europeia
As equipes da Premier League estão dominando a Europa este ano, com quatro representantes nas quartas de final da Liga dos Campeões. Mas o Campeonato Inglês pode ter problemas caso o Brexit, a eventual saída do Reino Unido da União Europeia, se confirme, o que amenizaria o poder da liga mais rica do mundo.
Um acordo ainda não foi alcançado sobre os termos do Brexit, o que vem provocando dúvidas na economia britânica. A Premier League não está imune a estas preocupações, principalmente porque grande parte de seu sucesso, tanto esportivo como financeiro, se deve a uma coleção globalizada de estrelas, técnicos e proprietários.
O valor da libra esterlina vem caindo desde o resultado do referendo realizado em 2016, o que torna as transferências pagas pelos clubes ingleses muito mais caras. O técnico do Tottenham, o argentino Mauricio Pochettino, explicou que a fragilidade da moeda britânica era um dos motivos pelos quais o clube londrino não ter realizado nenhuma transferência ao fim da temporada passada, comparando os efeitos do Brexit aos de um acidente de carro.
A consultoria Deloitte, especialista em finanças do futebol, também apontou a fragilidade da libra como um fator que contribuiu para que o Manchester United, durante anos o clube mais rico do mundo, caísse no ranking da Football Money League, sendo superado pelos gigantes espanhóis Barcelona e Real Madrid.
O maior problema, no entanto, seria a perda de estrelas comunitárias europeias, que passariam a ser considerados estrangeiros. Em sua campanha a favor do “Remain” (a permanência na União Europeia, UE) em 2016, o ex-presidente da Premier League Richard Scudamore garantiu que o Brexit era “incongruente” com o compromisso de abertura do Campeonato Inglês.
O interesse global pela competição depende da capacidade dos clubes em recrutar os melhores jogadores do mundo, independentemente de suas origens, e o fim da livre circulação dos jogadores europeus dificultará muito este objetivo. “A Premier League é fundamentalmente uma constelação de estrelas”, explicou Simon Chadwick, professor de Industria Esportiva da Universidade de Salford.
“Por consequência, qualquer medida adotada para restringir o fluxo de entrada de talentos poderia mudar o posicionamento da Premier League no mercado, reduzindo sua vantagem competitiva”, continua.
Os jogadores com nacionalidades europeias, o que inclui muitos jogadores sul-americanos e africanos que possuem a dupla cidadania, terão de satisfazer exigências muito mais estritas para obter um visto de trabalho no Reino Unido.
O sistema atual pelo qual as autoridades britânicas outorgam ou não vistos de trabalhos a jogadores que não são oriundos de países da União Europeia leva em consideração o número de jogos dos atletas por suas seleções, o valor da transferência, o salário proposto e o histórico esportivo.
O meia francês N’Golo Kanté e o argelino Riyad Mahrez, praticamente anônimos na França quando foram jogar na Inglaterra, são dois exemplos de jogadores que não receberiam vistos de trabalho com essa regra mais severa de entrada no país.
Em 2016, a BBC calculou que 332 jogadores que atuavam nas duas principais divisões do futebol inglês e escocês não cumpririam os requisitos se fossem aplicadas as regras para cidadãos que não pertencem à UE. Com o Brexit, a Premier League também ficaria impossibilitada de contratar jogadores menores de idade, a não ser que o Reino Unido siga pertencendo ao Espaço Econômico Europeu (EEE), o que é pouco provável.
A Fifa proíbe as contratações de jogadores menores de 18 anos, com exceção das movimentações dentro do EEE, o que permitiu a jogadores como o espanhol Cesc Fábregas ou o francês Paul Pogba de serem contratados por clubes ingleses quando tinham 16 anos.
Com o Brexit, e problemas na economia britânica, a Premier League também sofreria Apesar dos lucrativos contratos televisivos no estrangeiro, o sucesso do torneio está relacionado diretamente ao bom andamento da economia britânica.
Já existem temores de que os direitos de televisão domésticos sofrerão uma desvalorização, com as emissoras pagando menos dinheiro no período 2019-2022 do que desembolsaram no triênio anterior. É difícil prever a evolução da economia, mas se o Brexit afetar o bolso dos britânicos, os clubes poderiam sofrer grandes perdas em vendas de ingressos e mercadorias.
Apenas a seleção inglesa poderia se beneficiar do Brexit, já que restrições mais severas para a entrada de jogadores estrangeiros certamente dariam mais oportunidades a atletas domésticos. Atualmente, somente 30% dos elencos dos clubes da Premier League são compostos por jogadores selecionáveis pela Inglaterra.
A Premier League defende que esta situação não beneficiaria a equipe nacional, pelo contrário, já que significaria uma queda no nível dos jogadores, que não competiriam cada semana contra os melhores atletas do mundo.