O drama de Fénelón, o camisa 10 haitiano
Jovem soube da morte do pai um dia antes da partida do Pérolas Negras, equipe do Haiti que conquistou a torcida na Copa São Paulo de Futebol Júnior
Um drama familiar marcou o jogo entre América-MG e Pérolas Negras, a equipe haitiana sensação da 47ª Copa São Paulo de Futebol Júnior. Perfilados antes da partida desta terça-feira, os jogadores respeitaram um minuto de silêncio pela morte do pai do atacante Fénelón Marckenson, anunciada pelo sistema de som da Rua Javari, a casa do Juventus da Mooca. De cabeça baixa, o jogador de 17 anos se emocionou ao lembrar do maior incentivador de sua carreira, que havia falecido um dia antes após vários meses de internação no Haiti. “Ontem foi triste demais, chorei o dia todo, não dormi direito. Mas o time me deu força para vir jogar, todo mundo estava concentrado para jogar pelo meu pai”, contou o camisa 10 em português impecável.
Fénelón está no Brasil há quase quatro anos – passou por Audax e Boavista, do Rio, e foi emprestado ao Pérolas Negras para reforçar o time onde começou a jogar. Membros da comissão técnica contaram que o pai de Fénelón havia sido jogador e até bandeirinha de futebol e que batalhou muito para poder dar a primeira chuteira ao herdeiro. Mesmo abatido, Fénélón fez de tudo para marcar um gol em homenagem ao pai e chorou ao desperdiçar uma cobrança de pênalti. Em seguida, foi abraçado e consolado pelos companheiros, que comemoravam o gol de Camille Dany, que saiu no rebote.
“Foi um momento difícil, tivemos que fazer um trabalho psicológico com ele. Demos total liberadade para ele escolher se queria ficar ou não, mas ele teve personalidade e decidiu ficar e quis bater o pênalti pelo pai, que foi o grande incentivador da carreira dele e deve estar muito orgulhoso do que ele fez nesse jogo”, contou o massagista Rafael Moreira logo após a derrota do time por 2 a 1. Perguntado se pretendia voltar ao Boavista, time que disputa a primeira divisão do Carioca, Fénelón deu uma resposta de cortar o coração. “Meu sonho agora é só voltar para casa e ficar ao lado da minha família.”