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O dilema de Rogério Ceni, um campeão contestado no Flamengo

Ex-goleiro chega a cinco títulos em quatro anos como técnico, mas está bem longe de ser unanimidade; mesmo com contrato, permanência ainda será rediscutida

Rogério Ceni classificou, ainda no gramado do Morumbi, como um “all-in” (termo utilizado no pôquer quando um jogador aposta todas as fichas  disponíveis na mesa) a estratégia que adotou para chegar ao primeiro título com o Flamengo, o quinto de sua nova carreira, mas o de maior relevância até aqui após as conquistas da Série B, Copa do Nordeste e o bicampeonato cearense com o Fortaleza.

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A jogada foi aparentemente simples, sem “glamour”: recuar Willian Arão para a zaga, até então intocável num meio de campo vencedor, e abrir espaço para Diego, meia e camisa 10 da escola mais antiga, cumprir uma função atípica na carreira, como volante que inicia as jogadas. O efeito foi imediato, com sete vitórias a partir do primeiro teste na 30ª rodada, a mais importante delas diante do Inter, concorrente direto.

Ceni, no entanto, não recebeu tantos méritos pela mudança como gostaria. Mesmo com o troféu, o ex-goleiro ainda é criticado asperamente por parte da torcida, a quem se esforça para conquistar. De quebra, se indispôs com a torcida que sempre o idolatrou, a do São Paulo – ironicamente, o técnico ergueu o troféu diante das arquibancadas vazias do Morumbi, onde chegou a morar nos primeiros anos como juvenil.

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Contratado em novembro pelo Flamengo, bastaram vinte dias para o técnico conviver com as primeiras pressões de demissão no cargo. Quedas precoces na Copa do Brasil, para o São Paulo, e na Copa Libertadores, para o Racing, levaram Ceni a posição de vidraça desde então.

O time com o ataque mais rápido do Brasil passou a ser chamado de lento. As mexidas eram sempre criticadas. E uma pergunta parecia não calar: por que Pedro não consegue ser titular? Rogério foi mantido e reagiu. “Estou com o Rogério até o fim. Ele pode saltar do avião sem paraquedas que salto atrás e ofereço a proteção”, disse o vice-presidente Marcos Braz ao jornalista Paulo Vinícius Coelho.

Na entrevista após o título, Ceni foi questionado se, com a primeira taça pelo novo clube, passava, enfim, a se sentir seguro no cargo. O técnico despistou, pediu para que a pergunta fosse direcionada à diretoria de futebol.

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“Eu estou seguro, apesar da derrota de hoje, e isso me constrange um pouco, mas estou seguro que estou feliz e quero desfrutar ao máximo. Com quatro anos de carreira chegar ao Flamengo e ser campeão com o Flamengo é algo fantástico. Não tenho proposta, absolutamente, nada, estou focado no meu trabalho. O momento é de alguns poucos dias de descanso para depois voltarmos a trabalhar”, explicou o treinador, interrompendo uma pergunta que iniciaria logo na sequência.: “ah, e essa pergunta, também, tem que ser feita na verdade as pessoas que comandam o clube”.

A conquista elevou Rogério a um patamar histórico. Ele se tornou o oitavo profissional a ganhar a competição como jogador – em 2006, 2007 e 2008 pelo São Paulo – e, posteriormente, como treinador, se unindo a nomes como Paulo César Carpegiani, Carlos Alberto Torres, Pepe, Joel Santana, Emerson Leão, Muricy Ramalho e Andrade. Mesmo assim, a unanimidade sonhada ainda é utopia.

Premiado como técnico vencedor do prêmio Bola de Prata, da ESPN Brasil, Ceni disse que não responderia a crítica alguma, mas que tem como alvo criar uma “proximidade maior com o torcedor”. Ele também explicou que sentaria com o clube para definir uma continuidade, apesar do contrato até dezembro de 2021.

Bruno Henrique cumprimenta o técnico Rogério Ceni após gol no Morumbi -
Bruno Henrique cumprimenta o técnico Rogério Ceni após gol no Morumbi – Nelson Almeida/AFP

No vídeo postado pelo clube em que os jogadores jogam gelo e isotônico no treinador durante a entrevista, menções a nomes como Leonardo Jardim, ex-técnico do Monaco, e Jorge Jesus pipocaram nos comentários da publicação. Críticas duras ao treinador também foram registradas.

A pressão sobre Rogério Ceni aumenta devido a situação delicada vivida por Jorge Jesus, responsável por cinco títulos conquistados no Flamengo em apenas um ano. O Mister sofreu na quinta-feira uma nova eliminação precoce com o Benfica, desta vez para o Arsenal, em jogo válido pela segunda fase da Liga Europa.

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Antes, Jesus já havia sido eliminado da Taça da Liga de Portugal, para o Braga, e na fase preliminar da Liga dos Campeões, para o PAOK. Além disso, o técnico ocupa a quarta colocação no Campeonato Português, 15 pontos atrás do líder Sporting.

Ceni viveu momentos de crise intensa, a principal delas com Gabriel Barbosa, artilheiro da equipe no Brasileiro e na última temporada. Eles chegaram a entrar em rota de colisão após o jogador sair reclamando ao ser substituído em derrota por 2 a 1 para o Athletico-PR, em 24 de janeiro, válido pela 32ª rodada da competição. O atacante, no entanto, voltou à boa fase e deu diversas demonstrações de afeto ao treinador desde então.

“A chegada do Rogério nos ajudou muito, nossa atitude mudou bastante. É como eu tinha falado numa coletiva: ‘Como é que um time que venceu uma Libertadores em três minutos não seria capaz de fazer isso em dez jogos?’ Eu sabia que, se a gente se juntasse, seríamos campeões. E fomos”, disse o camisa 9.

O técnico prometeu folga aos jogadores e time alternativo no início do Campeonato Carioca. Mais do que o título, Rogério ganhou tempo para além de respeito, mas impor o conceito que o elevou a condição de um dos técnicos emergentes mais cobiçados do país.

“Para mim é especial porque passo todo dia no corredor do CT, e fico oito, dez horas trabalhando, todos os dias, chego cedo e volto no fim da tarde, e vejo a foto desses caras que ganharam tudo. E eu sempre disse que não iria embora do Flamengo sem colocar a minha foto também na parede. Então fico feliz de ter conseguido esse título e com certeza que uma nova pintura, um novo pôster vai estar lá na parede. E quando você coloca seu nome na parede de um clube do tamanho do Flamengo, você fica eternizado”, concluiu

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