Números, rendimento e sombra de Jesus: o início de Paulo Sousa no Flamengo
Pressionado por declarações do compatriota, técnico perdeu partidas importantes e ficou com dois vice-campeonatos em cinco meses
Contratado para promover uma reconstrução no Flamengo após um 2021 sem brilho, o técnico português Paulo Sousa chegou ao Rio sob otimismo da torcida ao deixar a seleção polonesa e a possibilidade de disputar a Copa do Mundo. No Rio de Janeiro, uma forte exigência por bom futebol e títulos faz um trabalho de 66,6% de aproveitamento parecer ruim. Apesar dos bons números, o desempenho é abaixo do esperado e é agravado por uma pressão causada por declarações do ex-treinador do clube Jorge Jesus, ídolo na Gávea em razão dos troféus conquistados em 2019.
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Ao pisar no Ninho do Urubu, Paulo Sousa se deparou com um elenco de extrema qualidade, mas com peças já envelhecidas. Destaques na temporada que terminou com títulos de Libertadores e Brasileirão, nomes como Diego Alves, Filipe Luís, Diego Ribas e Everton Ribeiro já não rendem como antes. Além disso, Gerson, Pablo Mari e Rafinha deixaram o plantel. Mesmo assim, os anos de 2020 e 2021 também registraram bons reforços, como Thiago Maia, Andreas Pereira, Pedro e David Luiz. Os jogadores, contudo, tampouco convencem.
Para reforçar o elenco, a diretoria rubro-negra fez algumas contratações para este ano. Chegaram os zagueiros Pablo, Fabrício Bruno, o goleiro Santos, o lateral Ayrton Lucas e o atacante Marinho. Com mais peças, Paulo busca aplicar o próprio modelo de jogo e as dificuldades de rendimento são claras.
Futebol abaixo, números bons
À beira do campo em 24 partidas do Flamengo, Paulo Sousa venceu 14, empatou seis e perdeu quatro: aproveitamento de 66,6%. Apesar dos bons números, as derrotas foram pesadas e em jogos grandes. Três delas aconteceram em clássicos, duas contra o Fluminense (uma na final do Campeonato Carioca) e outra para o Botafogo, recentemente. Um dos empates da lista culminaram num vice-campeonato nos pênaltis, na Supercopa do Brasil, frente o Atlético Mineiro.
A questão que mais pesa contra Paulo Sousa é o futebol praticado. Mesmo com um ataque eficiente (46 gols marcados em 24 jogos) e uma defesa que tem média inferior a um gol sofrido por jogo (0,9), a torcida não está convencida. Em situação confortável na Libertadores (três vitórias e um empate em quatro jogos), o início de Campeonato Brasileiro é ruim e a realidade é a 14ª posição, a dois pontos do Ceará, 17º, que tem uma partida a menos.
Dentro de campo, questões pesam contra o português. Sem definição quanto o goleiro titular, alternando entre Hugo Souza e Santos, a defesa não fica ilesa há cinco partidas. O revezamento também é simultâneo a um aumento de falhas do jovem goleiro, que já não consta mais na lista de “preferidos” dos torcedores. A insistência em usar Bruno Henrique muito próximo à linha lateral de campo também pesa nas análises. Distante de Gabriel Barbosa, o atacante tem três gols e quatro assistências em 15 jogos no ano. Média inferior em comparação às três temporadas passadas no Flamengo.
Jesus de olho
Como se não bastasse a pressão da torcida após dois vice-campeonatos e um futebol nada convincente, Jorge Jesus apareceu como “fantasma”. Durante controversa entrevista ao Uol, o ex-rubro-negro relatou desejo de voltar ao clube, revelou detalhes de suposta negociação e criticou o futebol apresentado pela equipe de Paulo Sousa.
As declarações incendiaram a torcida flamenguista, que entoou cantos pedindo a volta de Jorge Jesus durante derrota contra o Botafogo, no último domingo, 8. Paulo Sousa, em entrevista coletiva, mandou recado ao conterrâneo e ironizou a perda do título do Mundial de Clubes de 2019, diante do Liverpool, ao citar Paulo César Carpegiani, o treinador campeão mundial com o Flamengo em 1981. “Respeito aquilo que o Jorge foi em 2019 no Flamengo. Mas também temos que respeitar Carpegiani, que conquistou o Mundial. Só peço a Deus que abençoe a família dele, sucesso, saúde e paz”.
Já de volta a Portugal após dias no Brasil, Jorge Jesus se contradisse. Ainda no aeroporto, afirmou que não volta a trabalhar no país neste momento. Enquanto isso, o Flamengo precisa driblar crises de bastidores, rendimentos e resultados, potencializadas pelas declarações do técnico.