No caixa, Real 5 x 1 Atlético. E governo quer entrar no jogo
As autoridades espanholas querem intervir para diminuir o abismo financeiro entre os clubes. Atlético tem um orçamento de R$ 360 mi; o Real, de R$ 1,7 bi
“Os reservas deles valem dez vezes mais que a nossa folha salarial inteira”, brinca o lateral brasileiro Filipe Luís, que veio do La Coruña e agora está na mira de outra potência econômica da Europa, o Chelsea
Se derrotar o Real Madrid no sábado, em Lisboa, o Atlético de Madri fará história não apenas pela conquista de sua primeira Liga dos Campeões, mas também por superar um abismo financeiro que, no início da temporada, parecia intransponível. O segundo clube da capital espanhola entrou na competição mais acirrada do futebol internacional com um orçamento relativamente modesto, ao menos para os padrões europeus: 120 milhões de euros, o equivalente a 360 milhões de reais. É um caixa quase cinco vezes menor que o do Real (580 milhões de euros). O Barcelona de Messi e Neymar, eliminado pelo próprio Atlético nas quartas de final, gastou ainda mais: 650 milhões de euros. A diferença é igualmente espantosa quando se examina do valor de cada plantel. O do Barça custa 587 milhões de euros, contra 572 do Real. Somados, todos os atletas do elenco do Atlético têm valor de mercado estimado em 231 milhões. Para ser campeão espanhol, portanto, o clube vermelho e azul da capital contou com um grupo de jogadores que custou menos da metade dos adversários.
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Com apostas certeiras (em nomes como Diego Costa e Arda Turan) e bons valores garimpados entre as categorias de base e times menores, o clube foi capaz de compensar essa diferença abissal em relação aos rivais mais poderosos nesta temporada. Não se sabe, porém, se conseguirá seguir no topo, mesmo que reforce seu caixa com a polpuda premiação oferecida ao campeão de sábado (calcula-se que o clube vencedor terá acumulado mais de 100 milhões de reais com as premiações obtidas no decorrer da campanha, sem contar os bônus acertados com patrocinadores em caso de título). “Os reservas deles valem dez vezes mais que a nossa folha salarial inteira”, brinca o lateral brasileiro Filipe Luís, que veio do La Coruña e agora está na mira de outra potência econômica da Europa, o Chelsea. Apesar do exagero, Filipe fala muito sério ao avaliar que a liga espanhola é um campeonato “para apenas dois”, e que o Atlético compete em condições extremamente desiguais. Se com ele, a terceira força do futebol espanhol, as coisas são assim, o que dizer da situação das agremiações menores?
Pressão e ajuste – Abaixo do Atlético estão outras equipes com muita tradição e relativamente pouco dinheiro. O Valencia, por exemplo, já chegou a duas finais de Liga dos Campeões e foi um dos poucos a furar o domínio de Real e Barça no campeonato espanhol nas últimas décadas. Seu orçamento é de 90 milhões de euros por temporada. Athletic de Bilbao, Sevilla, Villareal e Espanyol, que também fizeram ótimas campanhas em torneios europeus nos últimos anos, têm de se virar com 50 a 60 milhões. O Celta de Vigo, que terminou o campeonato no meio da tabela, contou com apenas 30 milhões para custear sua campanha. Mas esse cenário, que desperta a revolta dos clubes menores há anos, está prestes a mudar. Como um dos principais motivos para a gigantesca diferença de receita é a divisão dos valores pagos pelos direitos de TV, o governo espanhol decidiu, no início do ano, que era hora de intervir, pressionando para que os contratos sejam ajustados de forma a distribuir fatias mais generosas do bolo aos concorrentes de Real e Barça.
Ainda que se discuta a legitimidade da intervenção estatal numa negociação que seguiu as leis do mercado – afinal, na hora de vender os direitos de transmissão para o exterior, todos querem exibir os jogos de Real e Barcelona -, a tentativa de aumentar os valores obtidos por agremiações médias e pequenas pode ter um efeito benéfico sobre a competição na Espanha. Os dois gigantes, que têm muitas outras receitas (são os campeões em patrocínios, bilheteria e venda de produtos licenciados, por exemplo), não entrarão em crise, evidentemente. Terão apenas de enfrentar rivais com recursos um pouco mais compatíveis com o grau de dificuldade do campeonato. O equilíbrio na distribuição de receitas já teve seus benefícios comprovados em outras ligas. Na Inglaterra, por exemplo, o clube mais bem pago pelas emissoras de TV ganha no máximo 35% a mais do que a equipes com as menor fatias dos repasses. Na temporada europeia que se encerra no sábado, o segundo campeonato mais emocionante foi justamente o inglês, decidido no finzinho, com Chelsea, Liverpool e o campeão Manchester City na briga, além de equipes fortes como Arsenal, Tottenham, Everton e Manchester United tentando alcançar os líderes. Liga melhor neste ano, só a espanhola, justamente por causa do fenômeno Atlético de Madri.
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‘Espanholização’ – Que não se pense, porém, que o finalista mais modesto da Liga dos Campeões tem só motivos para reclamar. O clube poderia estar numa situação muito mais confortável não fosse pela já famosa incompetência de sua cartolagem. Na Espanha, o Atlético talvez seja o caso que mais se assemelha ao modo brasileiro de gerir o futebol – com dirigentes que se agarram ao poder por anos a fio, o clube custa a se modernizar. O resultado é uma dívida que passa de meio bilhão de euros, uma sombra que não deverá sumir mesmo que o capitão Gabi levante a taça no Estádio da Luz. Vale dizer, porém, que essa situação foi agravada justamente pelo desejo de peitar com os gigantes mesmo sem ter verba para tal. Foi nos últimos vinte anos, período em que a polarização entre Real e Barça foi se acentuando, que o Atlético viveu alguns dos piores momentos de sua centenária história.
Trata-se, aliás, de um alerta claro para o Brasil, onde Flamengo e Corinthians abocanham porções cada vez maiores dos direitos de TV desde a dissolução, em 2011, do Clube dos 13, que negociava os contratos coletivamente. Atualmente, graças à “espanholização” dos acordos com a TV Globo – que acerta os valores com cada agremiação individualmente -, os dois clubes mais populares do país ganham 120 milhões de reais anuais cada um, o dobro do que recebeu o último campeão brasileiro, o Cruzeiro. Em 2016, Flamengo e Corinthians passarão a faturar 170 milhões cada – e esse valor não inclui o dinheiro referente dos pacotes de pay-per-view, cujas vendas também são encabeçadas pela dupla. Na avaliação dos dirigentes dos clubes concorrentes, o Brasil de hoje é a Espanha de alguns anos atrás – e, assim como no país dos finalistas da Liga dos Campeões, o governo já sinalizou (não se sabe exatamente de que maneira) com a possibilidade de costurar uma valorização dos contratos das demais equipes, evitando que o Brasileirão perca uma das poucas características em que faz frente às ligas europeias: o equilíbrio.
https://youtube.com/watch?v=9MGu5sPHEJI%3Frel%3D0
2013: Bayern
Depois de perder duas decisões em três anos – uma delas, em seu próprio estádio -, o Bayern não deixou passar a terceira oportunidade de levantar a taça. Em um clássico alemão, a equipe de Munique derrotou o Borussia por 2 a 1 no Estádio de Wembley.
2012: Chelsea
A equipe londrina surpreendeu e conquistou seu primeiro título contra o Bayern de Munique, na casa do adversário, a Allianz Arena. Didier Drogba foi o grande destaque da final, que foi decidida nos pênaltis depois de empate por 1 a 1 no tempo normal.
2011: Barcelona
Com Messi inspirado e com Pep Guardiola como técnico, o Barça foi campeão no Estádio de Wembley, em Londres, fazendo 3 a 1 no Manchester United. O jogo é considerado uma das melhores da fase de ouro da equipe catalã sob o comando de Guardiola.
2010: Internazionale
O argentino Milito foi o destaque na vitória da equipe italiana sobre o Bayern, no Estádio Santiago Bernabéu, em Madri – fez os dois gols na vitória por 2 a 0 e deu à Inter de Milão um título que não conquistava desde a década de 1960. Mourinho era o técnico.
2009: Barcelona
Eto’o e Messi marcaram os gols da vitória catalã no Estádio Olímpico de Roma, contra o Manchester United de sir Alex Ferguson e da dupla de ataque formada por Rooney e Cristiano Ronaldo. Foi o terceiro título do torneio continental para o Barça.
2008: Manchester United
Na final entre os ingleses, a equipe de Alex Ferguson levou a melhor sobre o Chelsea, no Estádio Luzhniki, em Moscou. No tempo normal, Cristiano Ronaldo abriu o placar e Lampard empatou. Na cobrança de pênaltis, Anelka perdeu e o United comemorou.
https://youtube.com/watch?v=e5iNzdPlAj4
2007: Milan
Com grandes atuações de Kaká e Inzaghi, a equipe italiana se vingou da derrota para o Liverpool na final de 2005. A decisão disputada no Estádio Olímpico de Atenas foi totalmente dominada pelo Milan, que conquistou seu sétimo título da Liga dos Campeões.
2006: Barcelona
Com Ronaldinho Gaúcho em grande fase, o Barça era favorito contra o Arsenal no Stade de France, em Paris. Os ingleses saíram na frente com Campbell, mas os catalães viraram com gols de Eto’o e do brasileiro Belletti. Foi o bicampeonato do Barcelona.
2005: Liverpool
Uma das maiores surpresas da história do torneio – não pela vitória da equipe inglesa, clube tradicional na competição, mas sim pela recuperação histórica. O Milan vencia por 3 a 0 no intervalo em Istambul. O Liverpool buscou o empate e venceu nos pênaltis.
2004: Porto
Carlos Alberto e Deco estavam entre os destaques da jovem equipe do Porto treinada por um então desconhecido, José Mourinho. Do outro lado estava outra zebra, o Monaco. A final, disputada em Gelsenkirchen, terminou com vitória dos portugueses, 3 a 0.
https://youtube.com/watch?v=9y7zKOKJGzk
2003: Milan
A final entre dois italianos no estádio Old Trafford, em Manchester, foi marcada pelo enorme equilíbrio. Milan e Juventus ficaram no 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação. Na disputa por pênaltis, Dida defendeu três cobranças e Shevchenko selou a vitória do Milan.
https://youtube.com/watch?v=OLh6lGlXC3A%3Frel%3D0
2000: Real Madrid x Valencia
https://youtube.com/watch?v=jjYPOj2hros%3Frel%3D0
2003: Milan x Juventus
https://youtube.com/watch?v=jGJ62A2_CTQ%3Frel%3D0
2008: Manchester United x Chelsea