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Napoli x Juventus, disputa que transcende o futebol valerá hoje uma taça

Representantes do sul e do norte do país decidem a Copa Itália nesta quarta, com portões fechados e transmissão da DAZN, às 16h

Napoli e Juventus decidem nesta quarta-feira, 17, o título da Copa Itália, no estádio Olímpico de Roma, que estará com portões fechados nesta retomada do futebol em meio à pandemia de coronavírus. A final em jogo único começa às 16h (de Brasília) e terá transmissão do canal de streaming DAZN e da emissora italiana RAI, em TV fechada.  Confirmado entre os titulares, o atacante Cristiano Ronaldo é a atração do duelo repleto de rivalidade, cujas raízes da rixa vão muito além dos resultados de campo.

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Esportivamente, há pouca disputa. Enquanto a equipe de Turim é a mais poderosa, popular e vencedora da Itália – soma 35 títulos da Série A (é a atual octacampeã nacional) e 13 da Copa Itália –, o Napoli tem apenas dois campeonatos italianos, o último em 1990, com o ídolo Diego Armando Maradona, e cinco Copas. Mas são justamente as disparidades, não apenas entre os clubes mas entre suas regiões, que alimentaram o ódio entre seus torcedores.

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A Juve é um símbolo do poderio do norte da Itália, a região mais próspera, onde estão as indústrias de automóveis, as grifes da moda… e também os melhores jogadores de futebol – muitos deles “roubados” das equipes menores, na visão de seus milhões de detratores. Na Itália, quem não torce pela Velha Senhora, provavelmente é um antijuventino, sobretudo no Sul, região mais agrária e subdesenvolvida, e constantemente vítima de preconceito. As rixas remontam das guerras do século XIX que culminaram na unificação italiana e, neste contexto, o time azul e sua fanática torcida representam a região meridional tanto quanto suas deliciosas pizzas.

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Faixas preconceituosas contra os napolitanos são comuns em jogos entre Juventus e Napoli
‘Napoli não é Itália’: faixas preconceituosas são comuns em jogos em Turim Reprodução/Twitter

Vesuvio, lavali col fuoco”. A mensagem, cuja tradução livre seria “Vesúvio, lave-os com fogo”, é constantemente exibida por torcedores do norte em partidas contra o Napoli, em um clara referência à erupção de 79 d.c que destruiu a então cidade de Pompéia, ao lado de Nápoles. Outro termo ofensivo que atormenta os napolitanos nos estádios é Terrone. Entre as diversas versões para origem do xingamento, a mais popular dá conta de que um habitante sulista, ao ver uma banheira e desconhecer sua função, a encheu de terra para cultivar uma horta. Todas as hipóteses partem de um mesmo princípio absurdo: a de que todos quem vêm do sul são sujos e ignorantes – ou ainda mafiosos.

Uma das figuras que melhor soube interpretar este cenário foi um argentino. Ídolo absoluto na cidade, numa época em que o Napoli conseguiu competir em pé de igualdade com a Juventus do francês Michel Platini, Diego Maradona causou uma enorme polêmica antes da semifinal da Copa de 1990, no estádio San Paolo, sua segunda casa. Invocando o ódio entre as regiões, o camisa 10 pediu que os napolitanos torcessem pela Argentina diante da Itália. “Durante 364 dias do ano, vocês são considerados pelo resto do país como estrangeiros. Eu, por outro lado, sou napolitano durante os 365 dias do ano”, cravou, em uma de suas clássicas provocações. Os argentinos venceram nos pênaltis e, na decisão, Maradona ainda xingou os italianos presentes no Olímpico de Roma que vaiavam o hino sul-americano. Por essas e outras, é um Deus em Nápoles.

Título italiano do Napoli completa 30 anos
Maradona, representante máximo do orgulho napolitano Napoli Site Oficial/Reprodução

‘Corações ingratos’

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Outro fator que alimentou a rivalidade entre Napoli e Juventus ao longo das últimas décadas diz respeito ao poderio financeiro da equipe de Turim, cujos milionários donos são os mesmos do grupo Fiat. O dinheiro do norte patrocinou uma série de traições consideradas imperdoáveis pelos napolitanos. Fenômeno semelhante ocorre em Florença, onde os torcedores da Fiorentina detestam os da Juventus devido à compra de ídolos como Roberto Baggio – além de suspeitas de favorecimento da arbitragem.

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O brasileiro José Altafini, o Mazzola, campeão do mundo em 1958, é considerado o primeiro cuore ‘ngrato’” (coração ingrato), como os napolitanos tratam seus ex-ídolos. O atacante fez sucesso no Napoli entre 1962 e 1972, quando trocou o time azul pela Juventus, pelo qual, já veterano, conquistaria dois scudetti.

Casos semelhantes ocorreram com ídolos locais, como o goleiro Dino Zoff e os zagueiros Ciro Ferrara e Fabio Cannavaro. A “traição” mais recente, e certamente uma das mais dolorosas, foi a do argentino Gonzalo Higuaín, que trocou a idolatria que tinha no sul por uma transação de 90 milhões de euros, em 2016. Sua saída coincidiu com um período de recuperação do Napoli, que passou a brigar por títulos – e a novamente incomodar a Juventus.

Comerciante vende papel higiênico com retrato de Higuaín, em protesto contra a saída do jogador do time do Nápoli pelo Juventus
Comerciante vende papel higiênico com retrato de Higuaín, em protesto contra a saída do jogador do time do Nápoli pelo Juventus Carlo Hermann/AFP

Higuaín, lesionado, não estará em campo nesta quarta, mas outro “coração ingrato” vem ganhando as manchetes do país. Maurizio Sarri, o técnico da Juventus, é napolitano e torcedor assumido do Napoli, clube que dirigiu entre 2015 e 2018. Em busca de seu primeiro título no futebol italiano, Sarri recebeu duras críticas do presidente de seu ex-clube, o controverso Aurelio de Laurentiis – apontado por Higuaín como o responsável por sua saída.

“Sarri me deixou p*** com sua justificativa vulgar do dinheiro. Ele me forçou a ter que mudar tudo no Napoli e ainda tinha dois anos de contrato para cumprir”, reclamou o presidente sobre a saída de Sarri rumo ao Chelsea, em 2018, em entrevista ao jornal italiano Corriere dello Sport. O experiente treinador tentou colocar panos quentes. “Não estou interessado no Napoli.” Para sua sorte, não haverá torcedores azuis à beira do gramado com faixas e gritos para lembrá-los de suas mágoas.

Na única vez em que se enfrentaram na final da Copa Itália, em 2012, o Napoli venceu por 2 a 0 com gols de Edinson Cavani e Dries Mertens. O belga, por sinal, segue na equipe e no empate em 1 a 1 com a Inter de Milão na semifinal se tornou o maior artilheiro da história do Napoli, com 122 gols, superando Maradona e Marek Hamsik. A Juventus chegou à decisão depois de dois empates contra o Milan (1 a 1 em San Siro e 0 a 0 no Allianz Stadium).

Prováveis escalações

Napoli: Meret; Di Lorenzo, Maksimovic, Koulibaly, Hysaj; Elmas, Demme, Zielinski; Politano, Insigne, Mertens.

Juventus: Buffon; Cuadrado, Bonucci, Mathijjs de Ligt, Alex Sandro; Pjanic (Khedira), Bentancur, Blaise Matuidi; Douglas Costa, Dybala, Cristiano Ronaldo

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