Na Copa em casa, ídolos que fizeram a carreira no exterior
David Luiz, Hulk, Luiz Gustavo e Daniel Alves saíram do Brasil como anônimos. Venceram na vida jogando na Europa – e agora voltam para disputar o Mundial
A pouca familiaridade do torcedor local tem suas vantagens e desvantagens. Por um lado, os atletas que só estouraram no exterior ficam imunes às rivalidades clubísticas. Mas a falta de um conhecimento maior sobre a capacidade e as conquistas desses atletas pode, por vezes, resultar em perseguição
Em todas as cinco Copas do Mundo que venceu, o Brasil sempre teve a maior parte do grupo formado por jogadores que atuavam no país – mesmo no Mundial de 2002, disputado numa época em que os atletas embarcavam cedo para a Europa, a seleção de Luiz Felipe Scolari contava com doze representantes de clubes brasileiros. A partir do penta, porém, o êxodo de jogadores se intensificou, e o futebol passou a ser, cada vez mais, um produto brasileiro de exportação. Fazer a carreira fora do país deixou de ser um sonho reservado aos craques de renome, e jovens anônimos passaram a se aventurar no exterior – e não apenas em países desenvolvidos. Doze anos depois da última conquista, essa fuga de talentos deu origem a um novo fenômeno: uma seleção formada, em grande parte, por atletas pouco identificados com o torcedor de arquibancada no Brasil. David Luiz, Dante, Luiz Gustavo e Hulk, por exemplo, poderiam tranquilamente ter seguido o exemplo de Diego Costa, atuando pelas seleções dos países onde se consagraram.
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Daniel Alves, Marcelo, Fernandinho e Willian chegaram a defender equipes importantes do país, mas também embarcaram rumo aos gramados europeus ainda muito jovens, sem que tivessem tido tempo para deixar sua marca no futebol nacional. Entre os titulares, as exceções são Paulinho e Neymar – com saudade, corintianos e santistas mantêm frescas na memória as passagens de seus ídolos -, e Fred, o artilheiro do Fluminense, revelado no Cruzeiro. Outros craques de Felipão também deixaram marcas no futebol nacional – Júlio César, no Flamengo, Thiago Silva, no Fluminense, Ramires, no Cruzeiro, Bernard, no Atlético-MG. Mesmo nesses casos, entretando, a identificação dos jogadores com seus clubes no país não é tão profunda quanto a do santista Pelé, do botafoguense Garrincha, do flamenguista Zico, do corintiano Sócrates, do palmeirenses Marcos e tantos outros quando disputaram um Mundial. A pouca familiaridade do torcedor local tem suas vantagens e desvantagens. Por um lado, os atletas que só estouraram no exterior ficam imunes às rivalidades clubísticas. Mas a falta de um conhecimento maior sobre a capacidade e as conquistas desses atletas pode, por vezes, resultar em perseguição.
Mesmo com uma ótima reputação no futebol europeu – brilhou pelo Porto e hoje é destaque do Zenit -, o paraíbano Hulk jamais caiu de vez nas graças da torcida brasileira. Após breve passagem pelo Vitória, o robusto atacante foi tentar a sorte no futebol japonês aos 19 anos. Humilde e tímido, Hulk prefere permanecer longe dos holofotes, o que contribui ainda mais para que não seja um dos grandes ídolos do time. Exatamente o inverso do que faz David Luiz. Apesar de não ter atingido grandes feitos por aqui (também passou rapidamente pelo Vitória) o zagueiro é hoje um dos atletas mais queridos da seleção brasileira. Carismático e espalhafatoso, o cabeludo do Chelsea é visto com frequência em comerciais e entrevistas e, não à toa, foi apontado como um dos quatro capitães da equipe por Felipão. Nada disso, porém, seria possível se David Luiz não fosse um excelente jogador – a bola tirada em cima da linha na final da Copa das Confederações contra a Espanha, inclusive, deu a ele enorme crédito com a galera. Idolatrados ou não, os jogadores da seleção terão na Copa em casa uma excelente oportunidade de cativar o público brasileiro e, enfim, conseguir a consagração nos gramados do país.