Lazio promove Romano Mussolini, bisneto do ditador fascista italiano
Jovem de 18 anos atua como lateral e disse não se interessar por política. Clube de Roma é constantemente associado à extrema-direita
O sobrenome mais conhecido do fascismo italiano voltou a ecoar pelas ruas de Roma nesta semana em razão do futebol. Romano Floriani Mussolini, bisneto de Benito Mussolini, ditador fascista italiano do século XX, foi promovido ao time sub-19 da Lazio, tradicional clube da capital.
A notícia ganhou especial repercussão pelo fato de a ala mais conhecida da torcida organizada da Lazio ser constantemente ligada a grupos de extrema-direita. O jovem de 18 anos, no entanto, disse não se interessar por política e tentou minimizar a importância de seu parentesco com Il Duce.
Romano atua como lateral-direito e já fazia parte das categorias de base há alguns anos. Recentemente, foi promovido à equipe “Primavera”, porta de entrada para chegar ao time principal. Ele é filho de Alessandra Mussolini, neta de Benito, e uma famosa apresentadora e política de direita.
Em entrevistas à agência local Adkronos, Alessandra Mussolini pediu que não relacionassem a carreira do filho com política e que o foco do garoto está no futebol. “É um tema do qual prefiro ficar fora. Meu filho não quer nenhuma intromissão em sua vida e suas coisas”, declarou Alessandra. O jovem também é sobrinho-neto da atriz Sophia Loren, irmã de sua avó Maria Scicolone, que foi viúva de Romano Mussolini, quarto filho do ditador.
O garoto chegou a atuar nas categorias de base da rival Roma, mas em entrevista ao diário Il Messaggero, agradeceu o tratamento que recebeu desde que chegou à equipe azul. “Na Lazio sou julgado pela forma como jogo, não pelo meu sobrenome.”
Romano atuou 14 vezes e marcou um gol pela equipe sub-17 no ano passado. Ele recebeu elogios de Mauro Bianchessi, chefe do setor juvenil da Lazio. “Para mim o sobrenome não importa, joga quem merece. Romano é um ótimo garoto, é muito bom na escola, demonstra grande inteligência. “É um menino realmente humilde, um grande trabalhador”, afirmou o dirigente.
Segundo os meios locais, o lateral é chamado por colegas e treinadores apenas como Romano. Ele, no entanto, prefere adotar ambos os sobrenomes, Mussolini (materno) e Floriani (paterno), o que gerou um temor de que torcedores radicais apareçam nas arquibancadas do estádio Olímpico com o sobrenome do antigo ditador nas camisas.
Uma série de episódios envolvendo os ultra, como são conhecidas as torcidas organizadas, da Lazio relacionaram o clube romano ao fascismo. Em 2018, o time foi multado após um grupo levar ao estádio adesivos de Anne Frank, jovem judia morta no Holocausto, com a camisa da rival Roma. Em 2005, o atacante Paolo Di Canio foi multado ao celebrar um gol no clássico com o tradicional gesto fascista. O centroavante alegou que seu braço esticado foi mal interpretado, mas não convenceu as autoridades.
Benito Mussolini foi o líder da Itália entre 1922 e 1943. Considerado o criador do fascismo, se aliou a Alemanha nazista de Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. A política dos dois ditadores se baseava na promoção de crenças sobre superioridade racial, xenofobia e imperialismo, e ambos utilizaram o esporte como forma de propaganda político-ideológica.
Mussolini jamais declarou torcida por um time específico, mas é constantemente ligado à Lazio, do qual foi sócio honorário, à Roma, que ajudou a fundar, e ao Bologna, clube que dominou o futebol italiano durante o auge do Fascismo. O ditador foi capturado por guerrilheiros da Resistência Italiana e fuzilado em 28 de abril de 1945. Ele e sua companheira Clara Petacci tiveram seus corpos expostos em praça pública, em um posto de gasolina em Milão.