Kelvin Oliveira cabe no seu time, mas não quer jogar na Série A
Astro da Kings League passou pela base do Milan quando adolescente e esteve perto do time profissional do Grêmio. Falta de oportunidade no campo o levou para o futebol 7, modalidade em que hoje é ídolo
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O futebol brasileiro tem um atacante, camisa 9, que marcou 19 gols em cinco jogos na última Copa do Mundo de que participou, mas não está em nenhum clube da elite do futebol mundial. E nem quer. Kelvin Oliveira, o K9, é bastante consciente das diferenças do futebol tradicional e do futebol 7 e, talvez por isso, deixa para os torcedores imaginarem como teria sido sua carreira no campo. “Entendo que, se ficasse no campo, poderia dar certo ou não. Era uma aposta. Uma transição”, disse o atleta de 29 anos, artilheiro e MVP da Copa do Mundo de seleções da Kings League.
Texto publicado na PLACAR de fevereiro de 2025, edição 1520
Kelvin fez as categorias de base para se tornar jogador de futebol de campo. Aos 16 anos, depois de sucesso em times de sua cidade natal, Ipatinga (MG), foi levado por empresários para um período de testes no Milan. Sem a cidadania italiana, voltou e continuou sua formação no Cruzeiro. A falta de oportunidades o fez migrar para o society em 2020. Três anos depois, já tendo conquistado títulos na modalidade, integrou o time sensação do Grêmio, com os ex-jogadores Douglas e Maicon. O empurrãozinho dos companheiros de time o levou para um período de observação na equipe do então técnico Renato Gaúcho.
“A Kings League foi uma virada de chave na minha vida pessoal e profissional. Sou muito feliz e orgulhoso de ter alcançado esse prestígio”, afirma o atleta que chegou a ser cotado para substituir o titular Luis Suárez, quando o uruguaio passou o primeiro semestre daquele ano com problemas no joelho. “Tive essa passagem no Grêmio, fiz bons treinos, mas algumas coisas até difíceis de explicar aconteceram e não deu certo.”
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O atleta ainda foi contratado para disputar a Série C pelo São José. Como lateral-esquerdo, que fazia as vezes de ponta, atuou em seis partidas da Copa Federação Gaúcha, marcou um gol e voltou para o fut7. “Cheguei no final da temporada, atuei em uma posição que não era a minha, mas assim é a vida. Ainda bem que tomei a decisão de seguir no fut7, e hoje, se me chamarem para jogar na Série A do Brasileirão, não aceitaria.”
Em julho do ano passado, quando PLACAR apresentou o “Futebol Z”, esse futebol gameficado com regras diferenciadas em que torcedores nascidos nos anos 2000 se engajam cada vez mais, Kelvin “furou a bolha”. Jogador da G3X, assim como os parceiros Andreas Vaz e Matheus Rufino, todos confirmados como estrelas para a Kings Brasil, Kelvin marcou o gol da vitória da equipe brasileira para lá dos acréscimos e eliminou os espanhóis da Ultimate Móstoles nas oitavas de final da versão clubes da competição. Na final, contra a Porcinos, no estádio do Monterrey, na Cidade do México, o time acabou superado, mas a história já estava escrita.
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Ídolos do futsal ao futebol, de Falcão a Neymar, mandaram mensagens parabenizando o jogador pela campanha que lhe rendeu pela primeira vez os troféus de artilheiro e de MVP – foram 13 gols em seis jogos. Ali, o jogador já viu suas redes sociais crescerem. Hoje, depois do sucesso no Mundial de clubes e de seleções, já são 1,7 milhão de seguidores no Instagram, mais que muito goleador de time grande.
O atacante, campeão de tudo que era possível em sua modalidade, quer ainda mais títulos e deixar um legado no seu esporte. “Quero que, quando as pessoas se lembrarem de futebol 7, se lembrem do meu nome. Ser uma pessoa que representa essa modalidade seria algo muito bacana para mim, que me daria muito orgulho.”