José Maria Marin é condenado pela Justiça americana
Ex-presidente da CBF foi considerado culpado em seis das sete acusações de corrupção e será encaminhado para prisão federal ainda nesta sexta-feira
José Maria Marin, ex-presidente da CBF, foi considerado culpado de seis acusações de corrupção nesta sexta-feira na Corte do Brooklyn, em Nova York, nos Estados Unidos. A pena do ex-dirigente de 85 anos ainda não foi imposta pela juíza Pamela Chen. A magistrada, no entanto, decidiu que Marin e o outro cartola também condenado, o paraguaio Juan Angel Napout, ex-presidente da Conmebol e ex-vice-presidente da Fifa, serão encaminhados ainda nesta sexta-feira para uma prisão federal americana, segundo informações do canal Sportv. Outro acusado nos processos é Manuel Burga, ex-presidente da Federação Peruana de Futebol, que ainda não teve o veredicto de seu caso anunciado.
Chen ouviu os argumentos da defesa antes de tomar a decisão. Os advogados de Marin, por exemplo, argumentaram que o cartola brasileiro de 85 anos não ofereceria risco de fuga e poderia seguir em prisão domiciliar, em seu apartamento em Nova York. Já Napout, que cumpre prisão domiciliar em Miami, aceitou mudar-se para Nova York. Ainda assim, a magistrada decidiu acatar o pedido da promotoria e enviar os dois ex-dirigentes para uma prisão federal.
Embora haja um veredicto sobre os culpados no julgamento, as sentenças ainda devem demorar alguns dias, pois júri não determina a penalidade. De acordo com a praxe, os juízes costumam entregar a sentença no prazo de 30 a 60 dias. O prazo para que a juíza Pamela Chen delibere a sentença é indeterminado, podendo ocorrer na próxima semana ou num prazo de até dois meses. José Maria Marin pode pegar até 20 anos de prisão.
Marin, Napout e Burga respondem a treze denúncias, transformadas em 7 acusações. Há uma semana, o júri americano, composto por doze pessoas, delibera sobre o assunto depois de ouvir acusações dos promotores e defesas dos réus. O cartola brasileiro e seus pares cumprem prisão domiciliar em Nova York. Todos eles estavam no tribunal nesta sexta-feira.
Marin era acusado de sete crimes: conspiração para recebimento de dinheiro ilícito, conspiração para fraude relativa à Copa Libertadores, conspiração para lavagem de dinheiro relativa à Libertadores, conspiração para fraude relativa à Copa do Brasil, conspiração para lavagem de dinheiro relativa à Copa do Brasil, conspiração para fraude relativa à Copa América e conspiração para lavagem de dinheiro relativa à Copa América. A Justiça dos EUA o acusa formalmente de ter recebido 6,5 milhões de dólares desde que assumiu o cargo em 2012.
Na decisão desta sexta-feira, em Nova York, o jurado considerou Marin culpado em seis das sete acusações. O dirigente brasileiro foi absolvido apenas da acusação de lavagem de dinheiro da Copa do Brasil. Juan Angel Napout foi considerado culpado em três das cinco acusações contra ele.
Entenda o caso
Quando José Maria Marin foi surpreendido pela polícia em seu luxuoso quarto de hotel, em Zurique, na Suíça, no dia 27 de maio de 2015, recebeu uma recomendação dos agentes que o levaram: a mala que estava preparando era pequena demais. “Faça uma mala maior. Existe o risco de que isso não termine muito cedo”, disse um deles.
Eles sabiam do que falavam. Eram 6h10 da manhã daquela primavera europeia. Não houve chute na porta ou algemas. No luxuoso hotel Baur au Lac de Zurique, uma operação da polícia suíça daria início a uma revolução no futebol, com a prisão de alguns dos mais poderosos dirigentes do esporte em cooperação com o FBI.
Dois anos e meio depois, 41 cartolas foram indiciados e mais de uma dezena de federações viram seus presidentes serem presos por corrupção. No total, a Justiça americana já aplicou mais de US$ 190 milhões em multas. A Fifa, bilionária, foi obrigada a se refundar para não desaparecer e gastou US$ 60 milhões apenas com advogados.
Mas, se Marin foi considerado culpado, o julgamento e acordos de delação premiada mostraram de forma inédita as “entranhas do futebol brasileiro”, com revelações sobre como sede de Copas foram compradas, como jogos foram arranjados e como um sistema criminoso penetrou no futebol.
Para investigadores envolvidos no caso, a decisão anunciada nesta sexta-feira debilita Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, que tinham conseguido evitar uma prisão. Em ambos os casos citados diante do tribunal, a interpretação é de que eles também foram em parte julgados em suas ausências e que, para a Justiça brasileira, ficará cada vez mais difícil justificar a inexistência de um processo.
Oficialmente, o único considerado culpado, por enquanto, entre os cartolas brasileiro é Marin, que herdou uma CBF de Ricardo Teixeira repleta de “acordos”. Segundo as investigações, o ex-governador de São Paulo nada fez para acabar com a corrupção. De fato, ele a ampliou e, em apenas dois anos, recebeu US$ 6,5 milhões em propinas relacionadas com a Copa do Brasil, Libertadores e Copa América.
Marin se recusou a confessar seus crimes e, assim, passou seis meses preso em uma cadeia em Zurique. Acabou cedendo, em troca da garantia que ficaria em prisão domiciliar nos EUA.
Para investigadores, Marin era apenas o elo mais fraco do esquema na CBF. Seu julgamento, segundo esses investigadores, serviu ainda assim como uma grande vitrine para o que de fato é o futebol no Brasil: um assunto pessoal de alguns dirigentes.
Os efeitos, mesmo distantes, acabaram se concretizando inclusive para aqueles que conseguiram fugir.
Marco Polo Del Nero, depois de manobrar o estatuto da CBF, continuou a mandar na entidade. Mas, foi afastado pela Fifa na semana passada, depois que gravações, evidências e testemunhas o terem apontado como receptor de US$ 6,5 milhões em propinas. Ainda que seus advogados garantam que ele vai se defender, na Fifa não existe qualquer pré-disposição a aceitar uma volta sua ao futebol.
Ricardo Teixeira, apontado como um dos artífices do esquema de corrupção em denúncias de outros cartolas presos, continua solto. Mas foram as investigações nos EUA que levaram a Espanha a abrir um processo que culminou na prisão de Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona, e emitir uma ordem internacional de prisão contra o brasileiro. Foi também o processo que levou Monaco e a França a descobrir depósitos em seu nome, enquanto o cerco também se fecha na Suíça.
O julgamento também acabou revelando cúmplices do esquema montado por 30 anos na CBF. A Rede Globo foi citada como autora de pagamento de propinas, em troca de contratos e a Nike foi acusava de fazer parte de um esquema de propinas no patrocínio da seleção brasileira. Ambos negaram.