Inspiração para Diniz, Scaloni abandonou pecha de interino em solo brasileiro
Jovem treinador deixou boa impressão apesar da derrota na Copa América de 2019, antes de trilhar caminho rumo à glória no Catar
Um treinador jovem, chamado de forma emergencial para dirigir a seleção nacional, sob forte desconfiança. A descrição cabe perfeitamente em Fernando Diniz, técnico interino — ainda que o termo seja evitado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) — do Brasil, e já fez parte de um passado recente de seu adversário desta terça-feira, 21, no clássico diante da Argentina. Lionel Scaloni, de 45 anos, é hoje uma unanimidade no país vizinho. Não há um hermano que não tenha subido à Scaloneta (brincadeira com o sobrenome de Scaloni e o termo “eta”, que designa veículos), mas o quadro era bem distinto no início de seu trabalho.
O caso de Scaloni chama ainda mais atenção, pois o ex-defensor, que passou por clubes europeus e disputou a Copa de 2006 pela Argentina, jamais havia treinado uma equipe profissional, enquanto Diniz, que é quatro anos mais velho, acumula experiências por clubes pequenos e grandes e este ano conquistou o Campeonato Carioca e a Libertadores pelo Fluminense. O argentino, porém, era auxiliar de Jorge Sampaoli e acabou herdando o cargo de forma surpreendente após o fracasso na Copa do Mundo de 2018.
Scaloni era o membro da comissão de Sampaoli mais próximo dos atletas e, a princípio, foi anunciado como um técnico “tampão”, um pasante, como dizem em castelhano, para os primeiros seis meses. O craque Lionel Messi estava afastado da equipe na ocasião e o trabalho de renovação liderado pelo jovem técnico foi bastante elogiado, a ponto de sua passagem pela equipe ser prorrogada.
Já com Messi de volta, Scaloni foi bancado na Copa América de 2019. Durante a competição, a Argentina chegou a treinar no CT do Fluminense, onde o técnico se encontrou com Fernando Diniz e também com Paulo Henrique Ganso, que fora seu colega no Sevilla. E apesar do começo irregular e da eliminação para o Brasil na semifinal, com derrota por 2 a 0 no Mineirão, o treinador foi efetivado pelo presidente da Associação de Futebol Argentino (AFA), Claudio Chiqui Tapia.
“A escolha de Scaloni foi um sucesso absoluto. Desde o primeiro dia eu estava convencido de que era ele. Tampouco tínhamos opções para buscar. Tivemos uma Copa América muito boa, nos deu a sensação de que podíamos ir mais longe. Quando se tem metodologia nas seleções, quer dizer que o projeto funciona, de baixo para cima”, afirmou Tapia, em entrevista ao canal TyC Sports.
Na época, os nomes mais pedidos para dirigir a seleção eram os de Marcelo Gallardo, então no River Plate, e Diego Simeone, do Atlético de Madri, mas nenhum deles demonstrou maior interesse. “Scaloni tinha dois anos de experiência sendo parte da comissão. Quem tinha mais? Basile, Bielsa, Sabella, Passarella, Batista…nenhum deles foi mencionado. Eram Simeone e Gallardo, que não tinham experiência na seleção. Não é a mesma coisa ser técnico de clube ou um selecionador”, complementou Tapia.
As coincidências com Diniz, por ora, param por aí. Com estilo ponderado nos microfones e ativo em campo, sobretudo no que diz respeito a mexer na equipe de acordo com o adversário, Scaloni foi ganhando o respeito dos atletas e admiradores entre o público em geral. O título da Copa América seguinte e da Copa do Mundo de 2022 o alçaram à condição de lenda no país e a renovação do contrato foi mera formalidade.
Fernando Diniz, por sua vez, vive situação turbulenta. Em julho, seis meses depois de formalizada a saída de Tite, a CBF anunciou que o treinador do Fluminense dividiria suas funções com a seleção até a Copa América de 2024, data marcada para que Carlo Ancelotti, do Real Madrid, iniciasse um novo ciclo. Mas apesar de o presidente Ednaldo Rodrigues ter seguidamente cravado a contratação de italiano, as constantes negativas públicas de Ancelotti, somado ao bom momento de Diniz pelo Tricolor, deixaram dúvidas.
Importantes personalidades, como Romário e Cafu fizeram coro pela efetivação de Diniz, uma possibilidade que perdeu força depois dos últimos tropeços. O empate com a Venezuela e as contundentes derrotas para Uruguai e Colômbia abalaram o “Dinizismo” na seleção brasileira e uma eventual frustração contra a Argentina poderia consolidar cada vez mais a condição de interino de Diniz e ampliar os pedidos pela chegada de Ancelotti. O Brasil jamais perdeu um jogo de Eliminatórias em casa: são 51 vitórias e 13 empates.
Scaloni minimiza desfalques: ‘É o Brasil’
Pouco antes de viajar ao Rio, Scaloni concedeu entrevista em Ezeiza e minimizou o fato de o Brasil ter desfalques importantes como Neymar, Casemiro e Vinicius Jr, lesionados. “Estas grandes equipes têm substitutos. Se olharmos para o time que dizem que vai jogar, são todos jogadores de alto nível, jovens, rápidos, com experiência em times importantes. E com certeza o treinador terá algo preparado devido à falta de alguns. É o Brasil, sabemos tudo o que isso significa”
O treinador ainda discordou de que o Brasil tenha jogado mal contra a Colômbia e citou a filosofia de jogo de Diniz. “É relativo dizer que eles vêm baqueados. Fizeram uma boa partida com a Colômbia, uma boa partida até os 76 minutos. O resultado é enganoso. São grandes times, que, venham como venham, têm que sair e vencer. O momento do time não vai mudar, o treinador tem um jeito de jogar, que não vai mudar. Nunca se sabe se é um momento bom ou momento ruim, é o Brasil e sabemos como é.”
Brasil e Argentina realizaram seus últimos treinos preparatórios nesta segunda-feira, na Granja Comary e em Ezeiza, respectivamente. Os campeões do mundo viajam ao Rio de Janeiro no fim da tarde. O provável último jogo de Messi e Di María em solo brasileiro terá casa cheia (os 69.000 ingressos colocados à venda já foram esgotados) e hora de início marcada para às 21h30 (de Brasília), na terça, 21. Após cinco rodadas, a Argentina lidera as Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa de 2026 com 12 pontos, seguida por Uruguai (10) e Colômbia (9). O Brasil, com 7 pontos, é o quinto colocado.
Prováveis escalações:
Brasil: Alisson; Emerson Royal, Marquinhos, Gabriel Magalhães e Carlos Augusto; André e Bruno Guimarães; Martinelli, Gabriel Jesus, Rodrygo e Raphinha.
Argentina: Emiliano Martínez; Nahuel Molina, Cristian Romero, Nicolás Otamendi e Nicolás Tagliafico; Rodrigo De Paul, Alexis Mac Allister e Enzo Fernández; Lionel Messi, Lautaro Martínez (Julián Álvarez) e Ángel Di María (Nicolás González).
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