Ingleses que erraram pênaltis são alvos de racismo; entidades reagem
Primeiro-ministro Boris Johnson e o Príncipe William se uniram à Uefa, à FA e a vários clubes em apoio a Marcus Rashford, Jadon Sancho e Bukayo Saka
A Eurocopa mais marcada por tensões sociais terminou com título italiano e uma onda de racismo contra Marcus Rashford, Jadon Sancho e Bukayo Saka, três jogadores negros da seleção inglesa que desperdiçaram seus pênaltis na decisão do último domingo 11, em Wembley. Logo após a partida, as redes sociais dos atletas foram infestadas de comentários como “saia do meu país”, “volte para a África” e emojis de macacos. Federações, clubes, jogadores e o ministro Boris Johnson saíram em defesa dos jogadores.
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“Esta seleção da Inglaterra merece ser elogiada como heróis, não abusada racialmente nas redes sociais. Os responsáveis por esse abuso terrível deveriam ter vergonha de si mesmos”, afirmou Johnson, que, por sua vez, foi cobrado ao longo das últimas semanas por não ter apoiado integralmente os protestos contra o racismo antes e depois da Euro. O primeiro-ministro chegou a dizer que os fãs tinham o direito de vaiar o momento em que atletas ingleses se ajoelhavam no gramado.
“Li hoje que o primeiro-ministro condena o abuso racista contra jogadores ingleses. É o mesmo primeiro-ministro que há algumas semanas, quando os jogadores estavam se ajoelhando para promover a igualdade, disse que estava tudo bem para a população deste país vaiar aquilo”, afirmou Gary Neville, ex-jogador e hoje comentarista da Sky Sports, que manifestou seu apoio aos jovens atletas.
O Príncipe William, que esteve no estádio com o filho George, também manifestou apoio aos atletas. “Estou enojado com o abuso racista dirigido aos jogadores da Inglaterra após a partida de ontem à noite. É totalmente inaceitável que os jogadores tenham que suportar esse comportamento repulsivo. Isto deve parar agora e todos os envolvidos devem ser responsabilizados.”
— FA Spokesperson (@FAspokesperson) July 12, 2021
A Federação Inglesa de Futebol (FA) também se disse “chocada com o comportamento repugnante” e cobrou que as redes sociais devem tomar medidas para combater o racismo em suas plataformas. “Não poderíamos deixar mais claro que alguém por trás de tal comportamento nojento não é bem-vindo na nossa equipe. Continuaremos a fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para eliminar a discriminação do jogo, mas imploramos ao governo que aja rapidamente e implemente a legislação apropriada para que esse abuso tenha consequências na vida real”, informou a FA.
“A Uefa condena veementemente o nojento abuso racista dirigido a vários jogadores ingleses nas redes sociais após a final do Eurocopa, que não tem lugar no futebol ou na sociedade. Apoiamos os jogadores e o apelo da FA Inglesa às punições mais fortes possíveis”, complementou a Uefa.
Já na manhã desta segunda-feira, 12, a polícia britânica anunciou que abriu investigações sobre o abuso racista, que considerou como “inaceitável”, contra Rashford, Sancho e Saka. Um mural de Rashford na parede de um café do sul de Manchester ficou desfigurado. O atacante do Manchester United lidera uma série de campanhas contra a pobreza infantil e chegou a convencer o governo britânico a restabelecer almoços grátis para milhares de crianças pobres em meio à pandemia do coronavírus.
Daniel Sturridge, jogador negro com passagem pela seleção, postou uma imagem do trio com coroas na cabeça. “Acordei esta amanhã e só quero dizer que tenho muito orgulho deles por sua coragem. Estes reis estarão por aqui marcando gols e dando assistências por muitos anos pela Inglaterra. Demonstre amor amor e respeito neste momento difícil. (…) Não culpe indivíduos, é um jogo de equipe”, escreveu.
Rio Ferdinand, outro ex-jogador negro da seleção inglesa, lamentou o ocorrido. “Acordo com vontade de repassar o jogo na minha cabeça, mas não consigo porque o foco mudou drasticamente. É uma pena que estejamos continuamente aqui fazendo as mesmas perguntas e ainda não recebendo respostas suficientes.”
Southgate é criticado por suas escolhas
O técnico da Inglaterra, Gareth Southgate, citou os casos de racismo como “imperdoáveis”. “Temos sido um farol em aproximar as pessoas, em pessoas capazes de se relacionar com a seleção nacional, e a seleção nacional representa todos e para que a união tenha que continuar”, disse. O treinador, cuja carreira como jogador foi marcada por errar um pênalti na semifinal da Eurocopa de 1996, foi bastante criticado por suas escolhas na última decisão.
Southgate mandou a campo Rashford e Sancho apenas no fim da prorrogação, somente para bater os pênaltis. Ele ainda escalou Saka, de apenas 19 anos, para cobrar o pênalti decisivo. Muitos comentaristas, como o treinador José Mourinho, condenaram as escolhas e disseram que atletas mais experientes deveriam ter assumido a responsabilidade. O meia Jack Grealish foi às redes sociais garantir que pediu para bater.
“Eu disse que queria bater. O treinador tomou diversas decisões corretas ao longo do torneio e neste jogo também. Mas não vou aceitar que pessoas digam que eu não quis bater o pênalti quando eu disse que queria bater”, escreveu o meia, em resposta a Roy Keane, ex-jogador irlandês.
I said I wanted to take one!!!!
The gaffer has made so many right decisions through this tournament and he did tonight! But I won’t have people say that I didn’t want to take a peno when I said I will… https://t.co/3mBpKyMoUV— Jack Grealish (@JackGrealish) July 12, 2021