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Idade é documento? Por que Arrascaeta não seduz o mercado europeu

Assim como Veiga e Gabigol, craque uruguaio do Flamengo brilha há anos no Brasil sem receber propostas de gigantes de fora; especialistas opinam

Guilherme Azevedo e Leandro Miranda

Giorgian de Arrascaeta segue encantando a torcida rubro-negra e, após brilhar na classificação do Flamengo sobre o Corinthians nas quartas de final da Copa Libertadores, reaqueceu uma boa discussão: algum estrangeiro jogou mais que o meia uruguaio na história do futebol brasileiro? Em sete anos por aqui, atuando por Cruzeiro e Flamengo, Arrasca soma 99 gols, 85 assistências e 12 taças. Para além dos números, sua classe, visão de jogo e personalidade fazem lembrar os grandes craques do passado. Mas por que Arrascaeta não atrai gigantes europeus como tantos garotos brasileiros e uruguaios? Na edição impressa de junho, PLACAR tratou sobre o tema, com o rubro-negro Gabigol e o palmeirense Raphael Veiga no centro do debate. A resposta, de acordo com especialistas, passa mais pela idade do que pela qualidade.

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Cada vez mais, times europeus chegam no Brasil – e América do Sul – e levam jovens promessas. Talvez o melhor jogador brasileiro da última temporada europeia, Vinícius Júnior trocou o Flamengo pelo Real Madrid em 2018, aos 18 anos, por 45 milhões de euros, acertados antes mesmo de o atacante completar a maioridade. Outros nomes em situação semelhante são Rodrygo, cria do Santos e hoje parceiro de Vini no Real, Antony, vendido pelo São Paulo ao Ajax, e Martinelli, que o Arsenal levou do Ituano – todos eles em trajetória crescente na seleção. Arrascaeta, por outro lado, não foi fisgado pelo Velho Continente: deixou o futebol uruguaio para jogar no Cruzeiro, aos 20 anos. O meia ainda não explodiu de imediato no país e foi, de fato, consolidar-se, aos 23 anos, idade que já começa a ser considerada tardia para ser contratado por gigantes.

O diagnóstico para o fenômeno é praticamente unânime entre as fontes ouvidas por PLACAR. Empresários, olheiros, intermediários e dirigentes concordam que é muito difícil encher os olhos de clubes grandes (e mesmo médios) da Europa depois dos 21 anos. Os motivos principais são dois: os clubes querem comprar atletas que tenham alto potencial de revenda e preferem terminar a formação esportiva desses jovens lá mesmo, adaptando-os mais rapidamente à realidade de cada país.

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“Contratar um jogador de 23, 24 anos vai custar caro, o atleta demora a se adaptar e, depois, convencer algum clube a pagar uma quantia que amortize o investimento será mais difícil”, diz o analista de desempenho e scout Thomaz Freitas. “Por que, então, o Sevilla, por exemplo, vai contratar jogadores desse perfil se há jogadores mais jovens, com preço parecido, que poderiam agregar futuramente com uma venda mais valorizada?”.

Vynicius Valença, analista de desempenho e consultor tático de atletas, complementa. “O valor de mercado é medido, além do talento, pela idade em que os jogadores se encontram, considerando a margem de tempo em que eles podem seguir atuando em alto nível”. Ou seja: o olho não é só no que o jogador entrega hoje, mas no potencial para os próximos anos, dentro e fora de campo.

Até por isso, a disputa feroz de mercado praticamente obriga os clubes brasileiros a abrir mão de suas principais promessas antes mesmo da maioridade. Com a sofisticação cada vez mais crescente da rede de olheiros, é comum os times europeus terem extensos relatórios até de jogadores sub-13 e sub-15. Os meninos são mapeados antes mesmo de o torcedor saber o nome deles. É muito mais provável o Palmeiras ganhar um caminhão de dinheiro por Endrick, fenômeno da base que liderou o Verdão na inédita conquista da Copa São Paulo de Juniores em janeiro, do que pelos protagonistas das glórias recentes. Como diz um intermediário, que prefere não se identificar, “se não levar logo, outro chega e leva”. Foi a lição aprendida pelo Real Madrid após perder Neymar para o Barcelona.

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A Europa leva sul-americanos cada vez mais jovens -
A Europa leva sul-americanos cada vez mais jovens –

Isso quer dizer que os melhores em atividade aqui no Brasil não servem nem para o segundo ou terceiro escalões da Europa se não forem prodígios desde a base? A resposta é sim. Principalmente por questões financeiras. “Gabigol, Arrascaeta e Veiga hoje ganham salários na casa do milhão de reais, altos até para o padrão europeu”, diz outro recrutador de talentos. “Ou seja, os times médios que poderiam contratá-los não conseguem bancar. E os mais ricos não precisam deles, já contam com opções iguais ou melhores. Então acaba sendo mais negócio para esse atleta permanecer no Brasil”.

Diferente de Raphael Veiga e outros destaques em solo brasileiro, Arrascaeta não sofre com ausências na seleção. O meia é titular da seleção uruguaia e anotou cinco gols nas Eliminatórias para a Copa. No Mundial do Catar, o destaque do Flamengo terá a chance de estar nos holofotes do planeta.

Arrascaeta: 10 gols e 13 assistências na temporada -
Arrascaeta: 11 gols e 15 assistências na temporada –

A lógica do mercado já foi bem diferente – quem não se lembra de Zico, maior craque do Flamengo, deixando a Gávea para jogar pela Udinese, um time de meio de tabela da Itália, já na casa dos 30 anos? Mas, da mesma forma que o esquema de recrutamento do futebol europeu foi mudando nas últimas décadas, especialistas vislumbram uma possível transformação no horizonte, por causa dos preços cada vez mais altos pagos por atletas ainda em formação.

“Acredito que alguns clubes médios da Europa vão voltar a olhar para jogadores ‘prontos’ no Brasil”, afirma Rafael Marques, sócio-fundador da Performa Sports, empresa de consultoria de atletas como Bruno Guimarães, volante do Newcastle e da seleção brasileira. Isso ainda é exceção, mas tem acontecido nos campeonatos mais periféricos – vide a ida de Everton Cebolinha para o português Benfica, e a de Claudinho para o russo Zenit, ambos já aos 24 anos. Outro caso incomum, desta vez na poderosa Premier League, é o de Gustavo Scarpa: aos 28, ele vai defender no ano que vem, quando acaba seu contrato com o Palmeiras, o Nottingham Forest, recém-promovido e que lutará para não cair.

Apesar dos casos isolados, porém, o histórico recente confirma: no futebol atual, para o atleta sul-americano que sonha em desfilar pelos gramados do “big five” (Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França), idade é documento.

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