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‘Foi golpe, não consegui nem me defender’, diz Peres após impeachment

Ex-presidente do Santos nega irregularidades nas contas do clube e avisa: “Agora estão jogando pedra, mas a partir de janeiro viram vidraça”

José Carlos Peres, 72 anos, virou página definitiva na história do Santos no último domingo, 22. Afastado da presidência do clube desde o dia 28 de setembro por decisão do conselho deliberativo, após aprovação para o parecer de má gestão da comissão de inquérito e sindicância, o cartola se transformou no primeiro mandatário em 108 anos do clube a sofrer um impeachment.

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A decisão foi homologada em assembleia-geral de associados, na Vila Belmiro, com margem ampla: 1.005 votos a favor do impedimento (93,4%), contra 69 que reprovaram, além de dois votos brancos e dois nulos. Peres ainda tentou na justiça anular a votação que aprovou a abertura do processo, mas não obteve sucesso.

“Foi um golpe, eu não consegui nem me defender. A CIS (Comissão de Inquérito e Sindicância) é obrigada a me comunicar e conceder um prazo para apresentar a minha defesa. Só marcaram para o dia 22 a votação. Me falaram que enviaram tudo pelo correio, mas não chegou nada. Curioso, é que assinei documentos durante todo o período a frente do clube, mas preferiram assim: relaxadamente e com desprezo”, disse Peres a PLACAR.

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“E para que o golpe fosse completo ainda absolveram o interino, que era um sumido do clube e que fez tudo isso. Brigou para ficar 18 dias no poder. Ele acha que pode pisotear nas pessoas”, completou o dirigente.

Peres ainda se recusa a chamar o ex-vice e algoz político Orlando Rollo de novo presidente. A dupla rompeu ainda nos primeiros meses de mandato. Rollo, no entanto, foi poupado do processo por entendimento de que não teve participação na administração devido a um licenciamento ainda no ano de 2018.

“Ele falou que fui defenestrado do clube. Posso garantir para ele que essa história não acabou aqui, isso vai longe. Ele se refere a mim sempre com algum palavreado, não tem postura nem para dirigir uma carroça. Não vou baixar ao nível dele, que usa termos pesados, de quem não pensa. Tudo isso já está com o meu advogado, entraremos com uma ação contra ele, também”, afirma.

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Como parte de sua defesa, Peres diz que foi julgado com base em um estatuto social do clube modificado, não o mesmo que o elegeu em dezembro de 2017. “O erro já começou aí. Eles mexeram no estatuto, em 2019, e ele só poderia valer a partir de 2021, no mandato do novo presidente. Armaram isso contando com um Conselho que tem 16 grupos de oposição para aprovar, com cerca de nove pré-candidatos à presidência”.

Mesmo com processos em andamento, o dirigente assegura que a gestão de três anos foi o último ato na política do Santos. “Não volto mais, não quero. Cedi minha casa em São Paulo gratuitamente por amor ao clube de 2004 a 2009, lutei pelo reconhecimento de seis títulos nacionais, encaminhei a construção de uma arena. Não existe dor ou culpa em mim. Eu não roubei um centavo do clube, só me desgastei, trabalhei mais de 16 horas por dia e ainda fui surpreendido por uma pandemia. Eu saí mais pobre do que entrei, mas com a minha integridade. A integridade é tudo na vida”.

Peres foi afastado e, posteriormente, sofreu o impedimento por irregularidades nas contas de 2019, reprovadas pelo conselho deliberativo e pelo conselho fiscal do clube. Durante o período, tentou com liminares voltar ao cargo.

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Ele diz que Rollo e seus apoiadores fizeram um intenso trabalho para espalhar fake news a seu respeito, envolvendo até mesmo a invasão da conta de Instagram de sua esposa, além de uma pitoresca acusação de que teria usado o cartão corporativo do clube para comprar calcinhas em uma loja de roupas e perfumes femininos. Ele alega, com uma nota fiscal em mãos, se tratar de águas perfumadas para as salas de reunião do Business Center, em São Paulo.

“Eu tenho aqui a nota, isso tudo é de um baixo nível horrível deles. Não há nenhuma irregularidade com o cartão, mostrei tudo a minha esposa. O cartão corporativo foi usado para abastecimentos do carro cedido pelo clube. Me acusam de má gestão, mas quando saí deixei a presidência com 10 milhões de reais em caixa para o pagamento integral dos salários. Há uma necessidade de querer aparecer. Em 2019, demos 23,5 milhões de reais de lucro. Que gestão temerária é essa?”, contesta.

Essa foi a segunda vez que o dirigente se tornou alvo de um processo de impeachment. Em 29 de setembro de 2018, no primeiro ano de gestão, escapou de dois processos simultâneos e acabou se mantendo no cargo após 1.155 associados, 36,5% de votos, se manifestarem a favor de um afastamento, percentual insuficiente para tirá-lo do cargo.

Ele atribui o novo número a uma série de ameaças, além da impossibilidade de torcedores de São Paulo votarem, onde tem maior colegiado. “Ele [Orlando Rollo] convocou a organizada, de onde fez parte. A torcida se instalou na frente do portão de votação com cânticos desrespeitosos, ameaçando a quem passava. Com isso, o nosso pessoal não desceu. De mais de 25.000 sócios, tivemos só 1.078 presentes, praticamente um colegiado de Santos, onde o interino tem a base dele”.

Para homologar o seu afastamento, além do uso indevido do cartão corporativo do clube para compras pessoais, foram apontados problemas nas demonstrações financeiras, como o pagamento de comissões não devidas nas transferências de jogadores e diferenças entre o orçamento e gastos efetivos.

“Alegam que gastei 6,7 milhões de reais em comissões. Não paguei nada indevido a ninguém, isso é conversa. Nunca negociei nada sozinho, sempre na presença de duas ou três pessoas. O Palmeiras gastou quase 39 milhões de reais em comissões, o Corinthians 33,5 milhões, o São Paulo 19 milhões. Tudo passa pelo nosso jurídico e pela CBF. Foi uma perseguição pessoal”, afirma.

Sobre os orçamentos e demonstrativos, ele diz que as contas foram auditadas por uma consultoria independente. “No dia em que assumi o Santos tinha uma pilha de pedidos de emprego. Enxugamos a máquina e acabamos com cargos políticos, isso incomodou muita gente”.

O dirigente citou ainda nomes como Marinho, Kaio Jorge, Soteldo, Felipe Jonatan como “ativos para o caixa do clube” e lembrou de outros jogadores já negociados como Eduardo Sasha e Everson, ambos com o Atlético-MG, como exemplo de negociações bem sucedidas.

“Esquecem que troquei o David Braz pelo Marinho, hoje melhor jogador do Brasil? O que faço de bom não lembram. Agora, estão jogando pedra na vidraça, mas a partir de janeiro viram vidraça novamente”.

O clube passará por eleição no próximo dia 12 e tem, até o momento, seis candidatos com candidatura protocoladas: Andrés Rueda, Daniel Curi, Fernando Silva, Milton Teixeira Filho, Ricardo Agostinho e Rodrigo Marino.

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