Fim do chute ‘folha-seca’? Nova bola promete trajetória 30% mais perfeita
Anunciado pela Nike, o modelo Flight tem ranhuras que estabilizam seu comportamento aerodinâmico e tornam os chutes mais previsíveis
Uma novidade tecnológica anunciada nesta segunda-feira passou um tanto despercebida do noticiário, mas pode provocar uma revolução nos próximos anos. A fabricante americana Nike lançou a bola de futebol que será usada a partir da próxima temporada nos campeonatos da Inglaterra e da Itália (e que deve chegar em 2021 aos gramados brasileiros). Batizada como Flight, o novo modelo chama a atenção pela série de ranhuras e depressões em sua superfície. É essa característica irregular que promete modificar a forma como a esfera viaja no ar após um chute potente.
A Nike Flight pode tornar obsoleto um tipo de batida na bola conhecido como “folha-seca” (ou no inglês “knuckleball”), que teria sido inventado pelo brasileiro Didi e aperfeiçoado por craques como Juninho Pernambucano e, mais recentemente, pelo português Cristiano Ronaldo. Após uma porção de goleiros traídos por chutes cuja trajetória mudava repentinamente, quase que por mágica, os cientistas decidiram se debruçar para entender porque tal fenômeno acontecia. E chegaram à conclusão que o design de cada bola alterava significativamente seu comportamento aerodinâmico.
A ciência passou a desvendar o mistério do chute “folha-seca” a partir de 2006, quando a fabricante alemã Adidas colocou no mercado um modelo revolucionário que estreou na Copa do Mundo de 2006. Batizada como Teamgeist, a bola oficial do Mundial da Alemanha trazia três novidades fundamentais: ela era composta por 14 painéis de tecido (e não mais 32, como nos modelos usados desde 1970), e que não seriam costurados, mas, sim, colados uns aos outros. Com menos emendas, a mudança na confecção tornou a superfície da bola mais lisa.
Eis que entra a física na jogada. Uma bola com menos imperfeições apresenta um comportamento mais errático quando chutada de forma “seca”, sem que a esfera gire em torno do próprio eixo. Ou seja, a fricção do ar com a superfície da bola provoca uma alteração de forças tamanha capaz de alterar sua trajetória. Em 2010, para a Copa realizada na África do Sul, a Adidas deu um passo além, lançando a famosa Jabulani, que era composta por apenas 8 “gomos”. Na época, VEJA trouxe uma reportagem que apresentou um estudo inédito feito por um pesquisador japonês e que colocou os dois modelos (Teamgeist e Jabulani) no túnel de vento.
A Jabulani foi duramente criticada pelos goleiros durante a Copa de 2010 – o arqueiro brasileiro Julio César chegou a compará-la como uma “bola de supermercado”. Pressionada, a Fifa decidiu abandonar o modelo de 8 gomos em suas competições e a Adidas voltou a produzir bolas de 32 painéis, cujos formatos e texturas variaram bastante nos últimos anos.
Para chegar ao presente modelo, a Nike diz ter testado 68 protótipos diferentes da Flight. Além disso, a empresa diz ter testado a novidade com cerca de 800 atletas profissionais. “Tudo o que fazemos no laboratório tem embasamento científico”, diz Kieran Ronan, um dos responsáveis pelo projeto. A tecnologia batizada como AerowSculpt, as ranhuras na superfície da bola, dão à Nike Flight 30% mais precisão de voo se comparada ao modelo anterior da empresa americana. Segundo o fabricante, a configuração dos gomos, 12 painéis com 40% menos costuras rígidas, também causa impacto sobre a trajetória da bola.