Fator psicológico pode ser decisivo para Gabriel Medina
Fábio Gouveia, primeiro surfista brasileiro de elite, acredita que o jovem de 20 anos precisa controlar os nervos para superar Mick Fanning e Kelly Slater
“O título de Medina parecia muito simples até Trestles e Peniche, mas infelizmente ele não conseguiu manter o ritmo. Não sei o que houve, mas faz parte e, se algo o atrapalhou, com certeza vai servir como aprendizado.” afirmou Fábio Gouveia, um dos maiores ícones do surfe brasileiro
O surfista brasileiro Gabriel Medina segue aguardando pelas condições ideais das ondas em Pipeline, no Havaí, para entrar no mar e brigar pelo inédito título mundial. Sensação do esporte brasileiro, o jovem de 20 anos lidera o campeonato, mas vem de dois resultados ruins e viu sua vantagem para os veteranos Mick Fanning e Kelly Slater diminuir de forma preocupante na última etapa. Nesta reta final, o fator psicológico pode ser decisivo para Medina, que precisa chegar à final para ser campeão sem depender dos resultados dos concorrentes. De acordo com Fábio Gouveia, um dos maiores ídolos do surfe brasileiro, Medina pode ter se abalado com a pressão de ver o título tão perto nas últimas etapas, na França e em Portugal. Porém, o ex-surfista paraibano de 45 anos acredita que Medina está maduro o suficiente para controlar os nervos em Pipeline e voltar ao Brasil com o histórico troféu.
Leia também:
Bateria de Medina bate recorde de audiência no surfe
Perfil: Gabriel Medina, um Guga sobre as ondas
Mar agitado adia de novo bateria de Medina
Medina vence na estreia em Pipeline e fica mais perto do título
Perto da glória, Medina já gosta de ser o ‘Neymar do surfe’
“Esses dias de espera são difíceis, e quem conseguir manter o foco sairá vitorioso. O título de Medina parecia muito simples até Trestles e Peniche (etapas anteriores), mas infelizmente ele não manteve o ritmo. Não sei o que houve, mas se algo o atrapalhou vai servir como aprendizado. O que parecia fácil ficou mais difícil, mas sua vantagem ainda é boa. Vencer no Havaí, na última etapa, será ainda mais emocionante”, afirmou Fábio, que está em Pipeline e já treinou diversas vezes com Medina.
Gouveia foi, ao lado de Teco Padaratz, o grande nome do surfe brasileiro até o surgimento de Medina. Ele foi campeão mundial amador em 1988, em Porto Rico, e foi o primeiro brasileiro a vencer no Havaí em uma disputa da elite, em 1992, em Sunset. O paraibano competiu diversas vezes com Kelly Slater – Gouveia diz ter ótimo retrospecto nas baterias que realizou contra o americano, onze vezes campeão e considerado o maior surfista de todos os tempos -, e também algumas com o australiano Mick Fanning, os dois concorrentes de Medina. Gouveia admite que o histórico pode pesar a favor dos estrangeiros, mas a disputa está aberta. “Acho que muitos apostam no Medina, mas Mick Fanning está bem no Havaí e Kelly Slater é um mágico do esporte. Isso tudo iguala o favoritismo. Acho que a estrela de Medina vai brilhar.”
Diferenciais – Gouveia ainda compete entre os masters (é campeão brasileiro e vice-campeão mundial na categoria), tem uma empresa que produz pranchas e apresenta um programa sobre o esporte no canal Woohoo. Na condição de especialista das ondas, ele falou sobre as habilidades que fazem de Medina um atleta de elite e acredita que o jovem seguirá no topo por muitos anos. “Ele tem a seu favor a precocidade. É muito rápido e ágil e executa aéreos altos com variadas rotações. Isso lhe garante uma chegada muito forte e um momento de troca de guarda. Tudo isso aliado à evolução em ondas de qualidade e o amadurecimento nas táticas de bateria faz dele um surfista com muitas chances de títulos.”
Gouveia admitiu que em sua época os surfistas encaravam a carreira de forma bem menos regrada. Mesmo entre os profissionais, havia mais tempo livre para festas e menos assédio da imprensa. Segundo ele, os tempos de excessos acabaram e os surfistas que não se adequarem a este novo cenário têm poucas chances de brigar por troféus. “Faz tempo que o surfe profissional perdeu o ar de descompromisso, o romantismo de décadas passadas. Nos anos 2000, houve um salto no profissionalismo e hoje o que vemos são atletas de alto rendimento. Os surfistas têm acompanhamento completo e treinos como qualquer outro atleta de ponta de outras modalidades. A disputa é tão intensa e a quantidade de atletas bons é tão grande que só os realmente profissionais se destacam. Quem rala mais, se dá melhor.”