Falta paciência? Como Turco Mohamed e Paulo Sousa já balançam nos cargos
Treinadores de Atlético Mineiro e Flamengo têm bom elenco e aproveitamento positivo, mas exigências das torcidas pesam contra trabalhos
Atlético-MG e Flamengo somam juntos quinze títulos desde 2019 – nove dos cariocas e seis do Galo. Dominantes no país ao lado do Palmeiras, as equipes contam com alto investimento financeiro, o que permitiu a montagem de elencos fortes e a possibilidade de suportar a briga por mais de um título na temporada. Como consequência, o nível de exigência dos torcedores reflete sobre os treinadores Turco Mohamed e Paulo Sousa Eles já balançam nos cargos, apesar de bons números e pouco tempo de trabalho.
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Contratados para o início desta temporada, não completaram sequer 30 partidas no comando dos times. E mesmo com o calendário apertado, somado a um período de adaptação ao plantel, o argentino e o português têm, respectivamente, 74% e 68% de aproveitamento.
Para base de comparação, ano passado, no título atleticano do Campeonato Brasileiro, a equipe conquistou 73% dos pontos disputados, enquanto o Flamengo, vice, ficou com 61,4%.
Além da esperança elevada por desempenho e resultado, os técnicos sofrem com o “saudosismo”. Na parte alvinegra de Belo Horizonte, muitos atleticanos parecem não ter superado a saída de Cuca, vencedor de seis títulos nas duas passagens pelo clube.
Enquanto isso, no Rio de Janeiro, a saudade flamenguista se chama Jorge Jesus, português campeão cinco vezes com o time. Logo, qualquer derrota ou atuação ruim é motivo para os torcedores tocarem no nome dos ex-treinadores.
Quase invicto, mas pressionado
A pressão sobre Antonio Mohamed no Galo retrata o imediatismo brasileiro. Nome escolhido em busca de continuidade ao 2021 vencedor, chegou a Minas Gerais com um forte elenco, reforçado ainda mais após chegadas do zagueiro uruguaio Diego Godín, do volante Otávio e do meia-atacante Ademir, além da volta do também zagueiro Junior Alonso.
Os primeiros desafios foram o Campeonato Mineiro e a Supercopa do Brasil. O Galo conquistou ambos. Ainda assim, princípios de insatisfação ao trabalho do argentino surgiram. “Não mostrou seu jogo ainda. Vai fazer um copia e cola do Cuca?”, criticou no Twitter um atleticano, ainda no início do estadual.
Conforme o Galo sentiu o elenco oscilar em rendimento e as dificuldades de adaptação por parte do treinador apareceram, o movimento de contestação a Turco cresceu. Após derrota – a segunda de todo o trabalho – contra o América-MG, no último fim de semana, mensagens pedindo a demissão do técnico viraram comuns nas redes.
“A grande mentira que a GaloPress vai tentar te contar é que o Galo está mal há 5 ou 6 jogos. Não é verdade, o time está muito mal desde o início do Campeonato Mineiro. É #ForaTurco e nem deveria ter vindo”, criticou um torcedor.
A realidade, no entanto, não é explicada de maneira tão passional. Em 26 partidas do Galo com o argentino na beira do campo, a equipe marcou 51 gols e sofreu 18. Ao todo são 17 vitórias, sete empates e duas derrotas. No entanto, há uma queda de rendimento evidente desde abril, elemento comum em times de futebol.
Menos seguro defensivamente, o Atlético completa seis jogos consecutivos sendo vazado e o aproveitamento no ataque caiu. Pelo Campeonato Brasileiro, o time mineiro, que é o 6º colocado, domina a posse de bola média com 61,3%, criou 15 grandes chances e desperdiçou nove, segundo o SofaScore.
Uma eficiência de 40%, inferior à mesma estatística no Brasileirão 2021, em que o Galo criou 64 grandes chances e desperdiçou 28; converteu 56,2% das vezes. Outro ponto que corrobora a favor do trabalho de Mohamed são estudos do site Infogol. Com base no xG (dado que mede a quantidade de gols esperados conforme finalizações) das partidas, o site indica que o time de Turco “deveria” ser o líder da liga nacional a este momento.
Os vices pesam
Vice-campeão do Campeonato Carioca e da Supercopa do Brasil, Paulo Sousa precisa conviver com uma pressão por títulos de uma torcida exigente. Escolhido pelo Flamengo com o intuito de reformular o time que dominou o futebol sul-americano entre 2019 e 2020, o português comanda uma importante mudança no plantel.
Já sem Pablo Marí, Rafinha e Gerson, campeões nacionais e continentais em 2019, o Flamengo também conta com o envelhecimento de peças importantes, como Diego Alves, Filipe Luís, Diego Ribas e Everton Ribeiro. Até por isso, entre o fim da temporada passada e o início desta, as contratações de David Luiz, Pablo, Fabrício Bruno, Santos, Ayrton Lucas e Marinho modificaram o elenco.
Tendo em vista o contexto, o trabalho de Paulo Sousa passa por uma aplicação do modo de jogar. Um dos empecilhos a isso é a falta de paciência dos torcedores, que entoaram gritos de “burro” ao português após derrota contra o Botafogo, no último domingo. A reaparição de Jorge Jesus nos noticiários rubro-negros, quando o treinador admitiu ao Uol vontade de voltar ao time carioca, também pesou contra a paz do atual técnico.
Mesmo em meio à cobrança dos torcedores e ao “fantasma de Jesus”, o Flamengo conseguiu sair vitorioso na maior parte dos compromissos do ano. Com Paulo Sousa, foram 25 jogos, 15 vitórias, seis empates, quatro derrotas, 48 gols feitos e 22 sofridos. O time ainda tem imensas chances de se classificar ao mata-mata da Libertadores de maneira antecipada e está nas oitavas de final da Copa do Brasil.
A situação no Campeonato Brasileiro, no entanto, é o ponto mais fraco no trabalho de Paulo. Em 14º lugar, com cinco pontos, balançou a rede apenas quatro vezes em cinco jogos e isso é o determinador da fase ruim, tendo em vista que o Flamengo tem uma das melhores defesas da competição: sofreu quatro gols.
Desse modo, caso o time tivesse concluído mais do que três das 12 grandes chances criadas, a situação poderia ser diferente. Em todas as partidas do Brasileirão, o Rubro-negro finalizou mais do que o adversário. Mesmo assim, ganhou apenas um compromisso.