Eurico assume culpa por queda do Vasco – mas detona Dinamite e arbitragem
Presidente admitiu “mancha irreparável” na carreira, mas negou problemas de saúde e garantiu que cumprirá seu mandato até o fim de 2017
O presidente do Vasco, Eurico Miranda, concedeu uma concorrida entrevista coletiva em São Januário nesta segunda-feira para falar sobre o rebaixamento do clube à Série B do Campeonato Brasileiro, o terceiro em oito anos. Num primeiro momento, Eurico assumiu a culpa pelo fracasso do time, apontado como uma “mancha irreparável” em sua carreira. Na sequência, no entanto, o dirigente atacou o seu antecessor e desafeto Roberto Dinamite. “Passou seis anos no Vasco e não pagou um centavo de imposto”, afirmou Eurico, que ainda voltou a responsabilizar a arbitragem pelos tropeços do time. Aos 71 anos, ele negou problemas de saúde, recusou “se mudar para a Sibéria” e garantiu que cumprirá seu mandato até o fim de 2017.
Jorginho chora por queda do Vasco; Flamego tripudia
“Primeira coisa que eu quero falar, para que não fique nenhuma dúvida: o único e exclusivo responsável pelo rebaixamento do Vasco sou eu. Isso é uma mancha irreparável no meu currículo de 50 anos de Vasco, uma situação que eu não queria passar”, afirmou o dirigente ao iniciar seu pronunciamento. Em seguida, porém, considerou que não havia como evitar a queda por causa da herança deixada por Roberto Dinamite, ídolo histórico que presidiu o clube entre 2008 e 2014.
“Eu encontrei o Vasco numa situação que a gente pode classificar de terra arrasada. Eu achei que era difícil quando eu assumi, mas estava muito pior. Este cidadão que passou aqui, chamado Roberto Dinamite, passou seis anos no Vasco e não pagou um centavo de imposto, um centavo de fundo de garantia, e me deixou com três meses de atraso de salário, não só de jogadores, mas de todos o quadro funcional. A primeira coisa que eu tive que fazer foi pagar os impostos para regularizar a situação com a Receita. Não havia como fazer os investimentos antes de regular essa situação.”
Eurico revelou que os problemas do clube incluam 10 milhões de reais de débito em contas de água, mas que agora todas as dívidas estão regularizadas. Ao longo da conversa, Eurico subiu o tom contra Dinamite e disse que não assumia a “culpa”, mas sim a “responsabilidade” pelo rebaixamento. Ele também não perdeu a chance de alfinetar novamente a arbitragem do Brasileirão, fato bastante frequente ao longo da temporada.
“Pode ser que tenha havido clubes prejudicados, mas ninguém foi mais prejudicado pela arbitragem que o próprio Vasco. Até no último jogo teve um pênalti, que não foi nem duvidoso, porque todos disseram que foi pênalti, e não foi marcado. Apesar de nós termos alertado, nenhuma providência foi tomada por parte da CBF. E eu não digo isso para me justificar, eu digo isso em homenagem ao grupo de jogadores e à comissão técnica que se dedicaram, mas não alcançaram o objetivo.” Ao longo da entrevista, Eurico ainda atacou a imprensa, ídolos do clube e explicou a declaração de que iria para a Sibéria em caso de rebaixamento. Abaixo, as principais aspas da entrevista do presidente do Vasco:
Críticas
“Eu sei perfeitamente que eu não sou uma figura simpática aos críticos, não sou até porque eu só aceito a crítica daqueles que sentaram na cadeira que eu sento. Não precisa ser presidente, mas alguém que conheceu e conhece os problemas do futebol. Filósofos, eu conheço muitos, mas não com conhecimento concreto. O Vasco, por exemplo, foi vítima de um ex-jogador, que pode ter sido um ídolo, mas que como administrador foi uma lástima. E tem outros ex-jogadores que viraram críticos e passam a falar uma série de baboseiras.”
Dívidas:
No Brasil, o ex-jogador não faz nada e vira crítico. Mas pergunte ao Edmundo se ele não está recebendo três milhões do Vasco? Parcelados, mas estamos pagando. E o Juninho Pernambucano, que disse que jogou de graça no Vasco…pergunte se ele não está recebendo 2 milhões? Estou citando só os que estão na crítica. Vou adiantar: tem umas contas que não poderiam ser aprovadas e eu vou ter que aprovar com ressalvas, para não perder benefícios.
Frases de efeito:
“Uso frases de efeito porque é meu estilo e também pela necessidade. Eu tinha e tenho a obrigação de levantar a autoestima desta instituição. Todas ouviram e gostam de falar sobre isso. Eu dizia que comigo o Vasco não cairia. É evidente que você traz uma responsabilidade para si, mas isso levanta a autoestima. O Vasco precisava que eu colocasse o Vasco no lugar dele, precisava ser considerado uma instituição que participa do processo decisório do futebol nacional. E eu reafirmo que com todas as dificuldades que encontramos, o Vasco está no contexto nacional, tem que ser ouvido.”
Sibéria:
Eu disse que se o Vasco caísse, eu ia morar na Sibéria para ficar bem longe. Isso não é frase de efeito. Se não fossem as razões que levaram isso a acontecer, você pode ter certeza que eu não estaria aqui. Eu não precisaria ir para a Sibéria. Aliás, tem gente que gostaria de ir pra Sibéria comigo, pessoas que tem problemas “freudianos” comigo. Eu poderia ter dito que iria para a Groenlândia, qualquer lugar mais distante. Se eu tivesse tido condições de evitar isso e não tivesse feito, você pode ter certeza que eu não estaria aqui.”
Saúde:
“Tem gente que diz que eu vou fazer tratamento nos Estados Unidos, outros dizem que eu estou andando com dificuldade, cada um afirma uma coisa. Eu estou bem. Posso não estar 100%, mas estou bem, nada que impeça que eu continue a honrar o compromisso que eu assumi a partir do ano passado. Para aqueles que achavam que eu viria aqui dar um tempo ou me afastar: nenhuma chance. Eu vou ter que carregar isso pra mim e o Vasco e, sem dúvida e sem frase de efeito, vai retornar ao lugar que é dele, em termos esportivos, e talvez coisas mais importantes venham a acontecer. O comando continua, tenho a solidariedade de toda a diretoria e vamos continuar, vamos dar a volta por cima. Pra mim não é fácil, em termos pessoais. Eu esperava terminar o meu ciclo e isso não ter acontecido comigo.” Vou cumprir todo o meu mandato. Agora a gente tem tempo de se planejar.
Culpa
O meu erro foi não ter superado essa barbaridade de problemas que a gente enfrentou. Isso é muito lógico. Erro foi a gente não ter recursos para ter, lá atrás, o investimento. Como eu vou contratar um jogador tendo três meses de salário atrasado? Responsabilidade é diferente da culpa. Eu tenho responsabilidade. Eu não passo essa responsabilidade pra ninguém, a responsabilidade é minha, mas estou apenas fazendo algumas considerações porque eu tenho dever com a instituição, muito mais que com a torcida ou qualquer outro, meu dever é com a instituição.
Elenco:
Jorginho e Zinho continuam, já foram comunicados. Quando o Jorginho veio para o Vasco, só foi feita uma pergunta a ele: você acredita? Ele disse que sim e foi contratado. Tudo foi dado, o trabalho foi bem realizado. Martín Silva é jogador do Vasco, Nenê também. Ambos têm contrato. Claro que só continua se quiser e para sair precisam ser liberados, mas não tenho esse interesse. Para o Brasil o Nenê não sai, com certeza. Pra fora, podemos conversar.
(da redação)