Esportistas se unem em protestos raciais; Neymar é cobrado por omissão
Lewis Hamilton cobrou posicionamento de pilotos da Fórmula 1 e foi atendido. Jogadores como Vinicius Junior e Richarlison lembraram caso João Pedro
Na esteira dos protestos que tomaram os Estados Unidos em memória a George Floyd, um homem americano e negro sufocado até a morte por um policial em Minneapolis no último dia 25, diversos esportistas se posicionaram contra o racismo em suas redes sociais. Na semana passada, LeBron James puxou a fila entre as estrelas da NBA. Neste domingo, 31, o hexacampeão de Fórmula 1 Lewis Hamilton chegou a cobrar seus colegas de profissão para que se manifestassem – e foi atendido. Entre os brasileiros, Vinicius Junior e Richarlison participaram das ações, enquanto Neymar foi criticado por sua omissão até o momento.
Os protestos mais chamativos ocorreram no Campeonato Alemão, única grande liga da Europa que já foi reiniciada em meio à pandemia de coronavírus. O francês Marcus Thuram, do Borussia Monchengladbach, se ajoelhou no gramado durante a comemoração de um gol, um gesto popularizado pelo jogador de futebol americano Colin Kaepernick em 2016 para denunciar a violência policial nos Estados Unidos, especialmente contra a comunidade negra. Marcus é filho de Lilian Thuram, campeão mundial pela França em 1998 e uma das vozes mais ativas no combate ao preconceito no esporte.
O atacante inglês Jadon Sancho, do Borussia Dortmund, também lembrou do ex-segurança americano ao comemorar seu gol exibindo uma camiseta com a mensagem “Justice for George Floyd” (“Justiça para George Floyd”) diante do Paderbon. O árbitro da partida mostrou um cartão amarelo para Sancho por ter tirado a camisa. No sábado, o americano Weston McKennie, do Schalke 04, usou uma braçadeira com a mensagem “Justice for George” em campo.
Também no domingo, Lewis Hamilton desabafou contra o silêncio de seus colegas da Fórmula 1. “Eu vejo vocês que ficam calados, alguns são as maiores estrelas, e ainda assim ficam calados no meio da injustiça. Não há nenhum sinal na minha indústria que, é claro, é o esporte dominado por brancos. Eu sou uma das únicas pessoas de cor lá e ainda estou sozinho. Pensei que agora vocês veriam por que isso acontece e diriam algo sobre, mas vocês não ficam do nosso lado”, escreveu o piloto inglês da Mercedes.
Pouco depois, Charles Leclerc, da Ferrari, pediu desculpas a Hamilton e levantou a bandeira antirracista. “Para ser completamente honesto, me senti deslocado e desconfortável em compartilhar meus pensamentos nas mídias sociais sobre toda a situação e é por isso que não me expressei mais cedo do que hoje. E eu estava completamente errado. Ainda luto para encontrar as palavras para descrever a atrocidade de alguns vídeos que vi na internet. O racismo precisa ser enfrentado com ações, não com silêncio. Por favor, participe ativamente, envolva e incentive outras pessoas a espalhar a conscientização. É nossa responsabilidade manifestar-nos contra a injustiça. Não fique calado”, escreveu o monegasco.
O espanhol Carlos Sainz, recém-contratado pela Ferrardi, e o australiano Daniel Riccardo, da Renault, também se posicionaram. “Esses problemas que estamos encontrando hoje em dia nos fazem pensar que voltamos no tempo independentemente do sofrimento e lágrimas dos nossos ancestrais. É louco pensar que isso ainda está acontecendo hoje, todos nós temos o mesmo sangue… Em relação ao nosso ambiente, somos um esporte global com trabalhadores e fãs de todo o mundo, com várias formações, religiões, cores de pele e condições. Trabalhamos juntos em grande harmonia para entreter a todos em volta do globo e propagar uma mensagem de esportividade e unidade. Eu absolutamente condeno todo tipo de racismo e todo tipo de injustiça. A diversidade nos move para a frente, nós abraçamos isso. Tomara que um dia todos façam”, afirmou Sainz.
“Ver as notícias dos últimos dias me deixou triste, o que aconteceu com George Floyd e o que continua acontecendo na sociedade de hoje é uma vergonha. Agora, mais do que nunca, precisamos permanecer juntos, unificados. O racismo é tóxico e precisa ser tratado não com violência ou silêncio, mas com unidade e ação. Precisamos nos levantar, precisamos ser um nós. Vidas negras são importantes”, completou Riccardo.
Entre os jogadores brasileiros de futebol, os atacantes Vinicius Junior, do Real Madrid, Richarlison, do Everton, Gabriel Jesus, do Manchester City, e o ex-atacante Grafitte, postaram uma imagem em o rosto de George Floyd é completado pelo de João Pedro, o garoto de 14 anos assassinado a tiros pela polícia do Rio de Janeiro, em sua casa, em 19 de maio. Os atletas usaram a hashtag “Vidas negras importam”. O atacante Rodrygo, do Real Madrid, postou a imagem de uma criança negra com a mensagem “Eu sou o próximo?”. O volante Gabriel, do Corinthians, foi um dos poucos atletas brancos e se posicionar.
Nesta segunda, o elenco do Liverpool, atual campeão europeu e mundial, se ajoelhou no estádio de Anfield, em apoio à luta contra o racismo. “União é força. Vidas negras importam”, escreveram os atletas em suas redes sociais, incluindo o brasileiro Fabinho.
Grandes clubes do Brasil, como São Paulo, Vasco, Corinthians, Inter Santos, Botafogo, entre outros, também postaram sobre a luta racial.
Omissão de Neymar
Nas redes sociais, muitos seguidores se decepcionaram com o fato de Neymar, a maior estrela do esporte nacional, não ter se posicionado até a manhã desta segunda-feira, 1º de junho. O influenciador digital Felipe Neto ironizou o fato de as últimas postagens do atacante do Paris Saint-Germain serem ações publicitárias. “Vidas negas importam. Mas nem todo mundo se importa”, escreveu. Horas depois, Felipe Neto deletou a postagem dizendo que integrantes do movimento negro o alertaram que “um branco não deve cobrar de um negro sobre pautas racistas.”