É justo mudar (de novo) os critérios de classificação para a Olimpíada?
A decisão dos dirigentes do karatê de alterar mais uma vez a forma como atletas poderão ir à Tóquio volta a tirar o sono daqueles envolvidos
Há pouco mais de dois meses, quando o surto de coronavírus tornou-se uma pandemia, ficou claro que seu efeito devastador afetaria praticamente todas as áreas da sociedade. Impedidos de treinar em condições adequadas dada a necessidade do isolamento social, muitos atletas comemoraram quando foi anunciado o adiamento dos Jogos de Tóquio para daqui um ano, em julho de 2021. Em praticamente metade das modalidades olímpicas, o alívio veio em função da definição de um novo calendário para o preenchimento das vagas remanescentes.
Mas em alguns esportes, os dirigentes parecem ter tomado gosto pelo ambiente já abalado pela crise sanitária e modificaram mais uma vez as regras do jogo. A Federação Internacional de Karatê (WKF, na sigla em inglês) decidiu na última quarta-feira, 20, retomar o sistema de ranking mundial da modalidade, dois meses depois de anunciar uma lista de atletas classificados aos Jogos Olímpicos. A WKF justificou a decisão, em nota, alegando que a paralisação do ranking se deu em um cenário no qual os Jogos Olímpicos ainda não haviam sido adiados.
A remarcação de Tóquio-2020, segundo os dirigentes, permite que as disputas que foram canceladas ocorram em novas datas, a serem anunciadas, dando a possibilidade de outros atletas brigarem no tatame pelas quatro vagas disponíveis por categoria. Mas com diferentes estágios da pandemia ao redor do globo, será justa a volta às disputas? Por mais que houvesse contestação, o congelamento do ranking na eclosão da pandemia garantiu, até aquele momento, a disputa em condições relativamente semelhantes de treinamento. E agora?
Um dos afetados pela mudança de critérios foi o brasileiro Vinicius Figueira, que estava classificado com a decisão da paralisação do ranking mundial. Com a nova canetada, Figueira, de 29 anos, terá que competir por uma vaga em Tóquio, mas em condições distintas de alguns concorrentes. Segundo o atleta, em entrevista ao site Olimpíadas Todo Dia, ele irá brigar para que isso seja revertido. “Não acredito que seja certo publicar uma lista com os atletas qualificados e depois tirar o direito deles”, comentou Figueira.
Muitos dos primeiros países afetados pela pandemia antes do Brasil, como a China, Coreia do Sul e Alemanha, já se encontram em melhores situações e puderam reabrir setores da economia e sociedade, dentre eles os esportes. Os atletas dessas nações já retomaram seus treinamentos para disputar as vagas restantes para Tóquio, enquanto outros ainda encontram-se em quarentena.