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E James chorou

Com seis gols em cinco partidas, o craque colombiano jogou muito mais uma vez, mas deu adeus à Copa do Mundo

A pequena cidade colombiana de Ibagué, aos pés da Cordilheira dos Andes, cavou seu lugar no rodapé da história do futebol mundial em 2 de fevereiro de 2011. Foi lá que se despediu dos gramados, de forma um tanto melancólica, um dos maiores jogadores de todos os tempos, o atacante brasileiro Ronaldo, na derrota do Corinthians para o insignificante Tolima, ainda na Pré-Libertadores. Na Copa do Mundo 2014, algo muito mais épico recolocou a cidade de pouco mais de 400 000 habitantes e ruas empoeiradas na história futebolística, desta vez pela porta da frente. Foi lá que cresceu e se formou um dos grandes jogadores deste Mundial, o meio-campista James Rodríguez, o grande protagonista da melhor campanha da Colômbia em todos os tempos. Ontem, na derrota por 2 a 1 para o Brasil, nas quartas de final, ele marcou seu sexto gol em cinco partidas no torneio e isolou-se ainda mais na artilharia, mas não evitou a eliminação. Seu choro depois do apito final traduziu a tristeza de ver chegar ao fim sua grande participação, em uma grande Copa. Desde a estreia da Colômbia, vitória por 3 a 0 sobre a Grécia no dia 14 de junho, James vinha assombrando o mundo.

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“Que golaço. Esse garoto é um gênio, é um talento.” Poderia ser um comentário sobre qualquer um dos gols do meia colombiano na Copa, um mais bonito que o outro. Mas é a narração de um lance que se passou há mais de uma década, em Mdellín, numa partida também decisiva. Era a final da edição 2004 do Ponyfútbol, o mais tradicional torneio de futebol da Colômbia para crianças de até 12 anos – e pelo qual passaram muitos dos jogadores que brilharam e brilham na seleção nacional. Naquele jogo, Rodríguez marcou os dois gols da Academia Tolimense na vitória de 2 a 0 sobre o grande Deportivo Cali e deu ao time local o único troféu do campeonato. Com sua mortal perna esquerda, James marcou dois gols olímpicos, aqueles que nascem de uma cobrança direta de escanteio para o fundo das redes. Começava ali sua ascensão rumo ao estrelato.

Na fachada da Prefeitura de Ibagué, há uma enorme faixa com uma declaração de amor de James à cidade e suas canchas. Antes dos grandes gramados do futebol mundial, foi no acanhado Campo 14 de Outubro, no bairro Segunda Etapa de Jordán, que o “volante de criação” (como os colombianos classificam o meia-atacante) começou a carreira. Seu treinador daquela época, Álvaro Guzman, ainda hoje orienta garotos em Ibagué e lembra que tudo mudou depois daquele título de 2004: “Foi essa a grande virada de James”. Um mês depois, assinou seu primeiro contrato com um time profissional, o Envigado, da região de Medellín – estreou entre os adultos com apenas 14 anos e 8 meses. Em 2008, já com 17 anos, foi comprado pelo Banfield, tornando-se o jogador estrangeiro mais jovem a disputar o campeonato argentino. Dois anos e um título nacional mais tarde, assinou com o Porto, de Portugal, onde rapidamente se tornou ídolo e passou a chamar a atenção de clubes maiores. Mais recentemente, o Monaco, da França, pagou 45 milhões de euros para colocá-lo ao lado de outro craque colombiano, o atacante Falcao García. Por uma dessas ironias do futebol, foi a contusão do grande astro, a poucos dias do início da Copa, que fez de James o protagonista de sua seleção.

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Embora não tenha nascido em Ibagué (ele foi registrado em Cucuta, a quase 500 quilômetros dali), James (pronuncia-se Rámes) mudou-se para a cidade ainda pequeno. Seu pai, Wilson James Rodríguez, também era jogador de futebol e chegou a destacar-se nas seleções de base da Colômbia – era companheiro de time do célebre goleiro René Higuita. “James herdou o talento de seu pai biológico, que era tão ou mais talentoso que ele”, diz o avô materno do jogador, Alcides Rubio. O pai, porém, gostava de beber e nunca viu a carreira decolar. Tampouco seu casamento com a mãe de James, Pillar, que deixou o marido levando o filho, então com 3 anos de idade. Hoje, James pai e filho mal se falam.

O jovem craque sempre diz que só não se perdeu, como o pai, graças a duas pessoas. “Queria dedicar esse título à minha mãe e a meu padrasto”, disse o garoto de 12 anos depois da conquista daquele troféu, em 2004. O padrasto, Juan Carlos Restrepo, foi um dos responsáveis pela transformação do franzino James num atleta. “Aos 10 anos de idade, sentei com ele e a mãe para dizer que, se quisesse ser jogador profissional, teria de se dedicar mais do que simplesmente ir à escolinha”, conta o engenheiro de sistemas de 46 anos. “Montamos então um projeto de treinamentos e de suplementação alimentar. Um instrutor particular lhe passava rotinas técnicas e de fundamentos.” A inspiração para criar o programa de James foi o trabalho feito com Zico, seu ídolo na infância. “Os dois tinham dificuldades semelhantes: eram pequenos, fracos”, diz o padrasto, que se separou de Pillar há dois anos, mas ainda fala quase todos os dias com o “Hijito Calidoso” (filhinho habilidoso, em tradução livre), como anotou na agenda do celular o telefone do craque. De Ibagué até Fortaleza, ontem, foi um longo caminho. A trajetória de James na Copa chegou ao fim. Ainda assim, foi só o começo.

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